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TRABALHO
Em 79, G-7 tinha 30,1% dos desempregados do mundo; no ano passado o contingente caiu para apenas 16,9%
Países pobres exportam
emprego para ricos
da Reportagem Local
O processo de internacionalização da economia, a chamada globalização, está promovendo a "exportação" de empregos dos países
pobres ou empobrecidos, como o
Brasil, para os países ricos, como
os Estados Unidos.
É o que mostra o levantamento
feito pelo economista Marcio
Pochmann, da Unicamp. A despeito de o número mundial de desempregados ter quase triplicado nos
últimos 20 anos, a fatia dos países
desenvolvidos nesse bolo está em
queda.
O G-7, grupo dos sete países mais
industrializados no mundo, era
responsável por 30,1% dos desempregados do planeta em 1979. Dez
anos depois, sua participação caíra
para 22,1%. No ano passado ela foi
reduzida a 16,9%.
Ao mesmo tempo, o número de
desempregados no mundo saltou
de 44,598 milhões em 1979 para
83,437 milhões em 1989, chegando
a 130,6 milhões em 1998.
Em parte, esse fenômeno se explica pelo crescimento e envelhecimento da população dos países
pobres -uma transição demográfica que ocorreu há duas ou três
décadas nos países ricos.
O resultado é o aumento da População em Idade Ativa (PIA) e,
por consequência, da oferta de
mão-de-obra que procura emprego nos países pobres.
Mas o problema ocorre também
na outra ponta, a da demanda por
trabalhadores. Ela caiu na periferia
do mundo, o que não ocorreu, ao
menos não na mesma intensidade,
nos principais centros capitalistas
representados pelo G-7.
Só três entre dez
Os integrantes desse clube privilegiado -Estados Unidos, Japão,
Canadá, Alemanha, França, Itália e
Inglaterra- foram atingidos com
menos violência pela crise mundial do emprego ou, na melhor das
hipóteses, até poupados.
São os casos, por exemplo, dos
EUA e da França. Nos últimos anos
esses países não só diminuíram
sua fatia no bolo do desemprego
global, mas reduziram o seu número de desempregados em termos absolutos.
O resultado é que, em 1979, seis
dos dez países com mais desempregados eram do G-7. Em 1994, só
três países ricos permaneciam entre os "top ten".
Isso não acontece por acaso.
Pochmann lembra que 70% do comércio mundial e dois terços do
fluxo mundial de recursos financeiros estão concentrados nos países desenvolvidos.
Além disso, desde a intensificação do processo de globalização da
economia, os países desenvolvidos
tiraram mais proveito de suas relações comerciais com o resto do
mundo.
Os EUA, por exemplo, passaram
de um déficit para um superávit
em sua balança comercial com a
América Latina.
Reestruturação econômica
Essa nova ordem mundial começou a ser instalada nos anos 80.
Pochmann explica que, após uma
década de crise, os países desenvolvidos promoveram uma reestruturação econômica baseada em
pesados investimentos em tecnologia e pesquisa.
Em boa parte, esses investimentos são patrocinados pelas grandes
empresas, cujas sedes estão nos
países ricos. Esse fato, somado ao
movimento de fusões das maiores
companhias, drena a maior parte
dos recursos internacionais para
os países desenvolvidos.
Ao mesmo tempo, os EUA elevam suas taxas de juros, valorizam
o dólar e atraem o capital financeiro internacional. Essa reestruturação leva ao acirramento da competição internacional, e os países da
periferia, sem o capital tecnológico, perdem espaço.
O mercado que sobra às nações
não-desenvolvidas é a produção
agrícola e de matérias-primas
-cujos preços internacionais têm
uma tendência de queda no longo
prazo.
Os poucos países em desenvolvimento que mantêm um parque industrial se especializam em produtos com baixo valor agregado e pequeno índice tecnológico.
As novas plantas industriais se limitam, em boa parte, a montar
equipamentos cujos insumos são
importados dos países desenvolvidos.
(JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO)
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