São Paulo, Domingo, 21 de Fevereiro de 1999
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TRABALHO
Em 79, G-7 tinha 30,1% dos desempregados do mundo; no ano passado o contingente caiu para apenas 16,9%
Países pobres exportam
emprego para ricos

da Reportagem Local

O processo de internacionalização da economia, a chamada globalização, está promovendo a "exportação" de empregos dos países pobres ou empobrecidos, como o Brasil, para os países ricos, como os Estados Unidos.
É o que mostra o levantamento feito pelo economista Marcio Pochmann, da Unicamp. A despeito de o número mundial de desempregados ter quase triplicado nos últimos 20 anos, a fatia dos países desenvolvidos nesse bolo está em queda.
O G-7, grupo dos sete países mais industrializados no mundo, era responsável por 30,1% dos desempregados do planeta em 1979. Dez anos depois, sua participação caíra para 22,1%. No ano passado ela foi reduzida a 16,9%.
Ao mesmo tempo, o número de desempregados no mundo saltou de 44,598 milhões em 1979 para 83,437 milhões em 1989, chegando a 130,6 milhões em 1998.
Em parte, esse fenômeno se explica pelo crescimento e envelhecimento da população dos países pobres -uma transição demográfica que ocorreu há duas ou três décadas nos países ricos.
O resultado é o aumento da População em Idade Ativa (PIA) e, por consequência, da oferta de mão-de-obra que procura emprego nos países pobres.
Mas o problema ocorre também na outra ponta, a da demanda por trabalhadores. Ela caiu na periferia do mundo, o que não ocorreu, ao menos não na mesma intensidade, nos principais centros capitalistas representados pelo G-7.

Só três entre dez
Os integrantes desse clube privilegiado -Estados Unidos, Japão, Canadá, Alemanha, França, Itália e Inglaterra- foram atingidos com menos violência pela crise mundial do emprego ou, na melhor das hipóteses, até poupados.
São os casos, por exemplo, dos EUA e da França. Nos últimos anos esses países não só diminuíram sua fatia no bolo do desemprego global, mas reduziram o seu número de desempregados em termos absolutos.
O resultado é que, em 1979, seis dos dez países com mais desempregados eram do G-7. Em 1994, só três países ricos permaneciam entre os "top ten".
Isso não acontece por acaso. Pochmann lembra que 70% do comércio mundial e dois terços do fluxo mundial de recursos financeiros estão concentrados nos países desenvolvidos.
Além disso, desde a intensificação do processo de globalização da economia, os países desenvolvidos tiraram mais proveito de suas relações comerciais com o resto do mundo.
Os EUA, por exemplo, passaram de um déficit para um superávit em sua balança comercial com a América Latina.

Reestruturação econômica
Essa nova ordem mundial começou a ser instalada nos anos 80. Pochmann explica que, após uma década de crise, os países desenvolvidos promoveram uma reestruturação econômica baseada em pesados investimentos em tecnologia e pesquisa.
Em boa parte, esses investimentos são patrocinados pelas grandes empresas, cujas sedes estão nos países ricos. Esse fato, somado ao movimento de fusões das maiores companhias, drena a maior parte dos recursos internacionais para os países desenvolvidos.
Ao mesmo tempo, os EUA elevam suas taxas de juros, valorizam o dólar e atraem o capital financeiro internacional. Essa reestruturação leva ao acirramento da competição internacional, e os países da periferia, sem o capital tecnológico, perdem espaço.
O mercado que sobra às nações não-desenvolvidas é a produção agrícola e de matérias-primas -cujos preços internacionais têm uma tendência de queda no longo prazo.
Os poucos países em desenvolvimento que mantêm um parque industrial se especializam em produtos com baixo valor agregado e pequeno índice tecnológico.
As novas plantas industriais se limitam, em boa parte, a montar equipamentos cujos insumos são importados dos países desenvolvidos. (JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO)

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