São Paulo, Domingo, 21 de Fevereiro de 1999
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"Tecnologia divide
produtor e comprador"

da Reportagem Local

A mesma lógica econômica que aumenta a fatia dos países pobres no desemprego global pode levar a uma volta da velha ordem mundial que prevalecia até 1930: um pequeno grupo de países industrializados, que concentram a renda e as melhores ocupações, e um largo número de países limitados à produção agrícola e de matérias-primas.
A conclusão é do economista Marcio Pochmann, da Unicamp, que fez um levantamento sobre o desemprego mundial.
Segundo ele, os países que se baseiam na exportação de produtos primários têm uma baixa dinâmica econômica: sua produção têm pouco valor agregado e, assim, geram poucos empregos, em geral mal remunerados.
Mesmo quando há investimentos diretos dos países desenvolvidos, essas novas fábricas se limitam a montar insumos importados dos principais centros. É o que acontece com a indústria automobilística no Brasil, por exemplo, que ainda pertence à segunda onda tecnológica.
"A tecnologia é o divisor de águas entre os países que produzem e os que compram", resume Pochmann. As indústrias de ponta, da terceira onda, como as de informática, se concentram nos países desenvolvidos.
"Pode até haver ilhas de desenvolvimento dentro dos países pobres, com trabalhadores especializados e bem-remunerados, mas eles estarão rodeados pelo subemprego e de desempregados."
Para Pochmann, os únicos modelos de industrialização que tiveram êxito na periferia do capitalismo foram o do Brasil e o da Coréia. Ambos foram tragados pela crise econômica iniciada na Ásia.
"Tanto o modelo brasileiro -voltado para o mercado interno, de economia fechada- quanto o coreano -voltado à exportação- foram destruídos pela política de abertura irrestrita às importações", sustenta.
O terceiro modelo, do bloco soviético, sucumbiu com o fim do comunismo na Europa. "O FMI fez em três anos aquilo que o Exército americano não conseguiu em 30", diz, numa referência à desorganização da economia russa. (JRT)

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