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São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 2003

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Economia sairá ilesa, diz analista

ALESSANDRA MILANEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

A economia americana não deve sofrer grandes danos se a guerra contra o Iraque for rápida. Para Alan Ruskin, 44, diretor de pesquisa da consultoria americana 4cast, a turbulência por que tem passado o mercado dos Estados Unidos se devia mais à incerteza sobre se haveria ou não guerra do que à guerra em si. Passada essa incerteza, diz Ruskin, deve voltar a ter espaço para um aquecimento da economia.
Nascido na África do Sul, Ruskin trabalha na área financeira há 21 anos e há 5 anos no escritório de Nova York da 4cast.
A seguir, trechos da entrevista concedida por Ruskin à Folha, por telefone.
 

Folha - Por que os ativos dos Estados Unidos estão subindo?
Alan Ruskin -
Havia muita incerteza sobre se haveria guerra ou não. A incerteza sobre se os Estados Unidos conseguiriam ou não os nove votos necessários no Conselho de Segurança da ONU aumentava ainda mais o nervosismo. Os mercados odeiam incertezas. Agora já não há dúvidas. Temos observado essa subida dos ativos nas últimas semanas. É que os mercados estão reagindo com otimismo, acreditando que os EUA irão assegurar a vitória contra o Iraque rapidamente. Com isso, espera-se que haja aumento na confiança do consumidor, que se possa voltar a investir, que o nível de contratação aumente e que haja algum tipo de normalização na economia.

Folha - O dólar deve continuar a se valorizar ante o euro?
Ruskin -
Isso dependerá muito do modo como a guerra vai progredir, mas há potencial para que o dólar se aprecie significativamente. Se a guerra realmente for rápida, devem vir alguns aspectos que ajudarão na valorização do dólar em abril, como o aumento da confiança do consumidor e o aquecimento no consumo.

Folha - França e Alemanha podem perder espaço como parceiros comerciais dos EUA por causa da oposição à guerra?
Ruskin -
Não acredito que haja uma mudança significativa. Com o tempo, essas diferenças que surgiram agora devem perder importância. Elas não mudarão, a longo prazo, o rumo dos investimentos e dos padrões comerciais. A hostilidade dos últimos três meses deve se dissolver nos próximos anos. Haverá, é claro, algum boicote contra vinhos franceses nos Estados Unidos, e os franceses que moram aqui provavelmente não aparecerão no McDonald's.

Folha - Índices recentes da economia americana -como confiança do consumidor, inflação e desemprego- se mostraram desanimadores. Como a guerra pode afetar o desempenho desses indicadores?
Ruskin -
Tudo deve parecer bem mais otimista com uma vitória rápida. O mercado de ações, a confiança no mercado, todos os números devem melhorar um pouco. Já o desemprego é outra história, porque a economia não está crescendo suficientemente rápido para puxar para baixo o desemprego. Mas ainda assim veremos uma melhora no crescimento econômico. A economia americana deve crescer cerca de 1,5% no primeiro trimestre deste ano. No segundo trimestre, se o conflito terminar, por exemplo, no final de março, o crescimento pode ser de 3,5% ou 4%. Por outro lado, se a guerra for pior do que nossas projeções, podemos não ter crescimento. Mas diria que a percepção no mercado é que há chance de 80% de a guerra ser rápida.

Folha - A indústria de armamentos sairá ganhando com a guerra?
Ruskin -
A indústria de armamentos já vem sendo beneficiada desde os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. Essa guerra não terá expressividade suficiente para acelerar mais esse crescimento. Setores que já estão tendo problemas, como os de telecomunicações e de energia, podem sofrer ainda mais. O setor de energia é ainda mais vulnerável, porque os preços podem fugir do controle. Se o conflito se estender, o setor de energia -especialmente o petróleo- deve se complicar. Tudo é comercializado em um padrão muito sincronizado. Com uma complicação na guerra, a primeira coisa que deve subir é o petróleo. Isso puxaria todos os preços consigo.


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