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ARTIGO
EUA geram empregos de baixa qualidade
CHRISTOPHER SWANN
DO "FINANCIAL TIMES", EM WASHINGTON
Os números sobre a criação de
empregos nos Estados Unidos
vêm sendo classificados como
péssimos pelos economistas, nos
últimos meses. Mas, no momento
em que a quantidade de empregos domina a agenda política, a
qualidade dos poucos empregos
que estão sendo criados também
é motivo de preocupação.
Dos 290 mil empregos criados
no setor privado de abril de 2003
em diante, a maioria (215 mil) são
postos temporários, de acordo
com as estatísticas de emprego divulgadas na semana passada. O
emprego no setor privado teria
caído, no mês passado, sem a criação de 32 mil vagas temporárias
no setor de serviços profissionais
e empresariais.
Cerca de 4,3 milhões de norte-americanos também se viram forçados a aceitar empregos de tempo parcial porque não foram capazes de encontrar trabalhos de
período integral -1 milhão acima do número registrado em janeiro de 2000.
Os dados mais recentes demonstram que as empresas norte-americanas continuam relutantes em assumir compromissos
que envolvam contratar funcionários permanentes. Os economistas apontam, com certa ironia,
que as empresas norte-americanas parecem estar gostando de
flertar, mas continuam decididas
a não subir ao altar.
"É um tanto deprimente pensar
que até mesmo os números fracos
de criação de empregos que temos foram inflados por vagas
temporárias", disse Drew Matus,
economista do banco de investimento Lehman Brothers para o
mercado dos Estados Unidos.
"Muito do que temos visto são
empregos de baixa qualidade."
A prevalência dessas contratações provisórias lança dúvidas sobre a capacidade do presidente
George W. Bush para se beneficiar de alguma vantagem de origem econômica antes da eleição
presidencial de novembro. E também ajuda a explicar por que o
crescimento dos salários mal consegue acompanhar o ritmo da inflação, de 2% ao ano.
As empresas estão mais conscientes das vantagens dos funcionários temporários, diz John Challenger, presidente da Challenger,
Gray and Christmas, agência que
ajuda a encontrar novos trabalhos
para funcionários demitidos.
"Não muito tempo atrás, as empresas se dispunham a manter
funcionários "no banco de reservas", para que estivessem disponíveis caso a demanda se recuperasse", diz ele. "Mas, por terem contratado demais no final da década
de 90, agora existe uma maior
apreciação da necessidade de
manter os quadros de funcionários no esquema "just in time"."
A tecnologia facilitou para as
empresas o recrutamento rápido
de trabalhadores quando precisam expandir sua produção urgentemente, diz. "As empresas estão tentando pensar em trabalhadores mais como se fossem estoque e em manter seu nível no patamar mínimo."
O apelo dos trabalhadores temporários também deriva do custo
cada vez mais elevado dos benefícios oferecidos aos funcionários
permanentes. Em 2003, o custo
desses benefícios subiu em 6,3%,
mais de duas vezes os 2,9% de aumento registrados nos salários.
Os benefícios agora custam cerca de um terço do total da remuneração. Isso pode bastar, muitas
vezes, para compensar as desvantagens dos trabalhadores temporárias, que carecem de conhecimentos específicos sobre a empresa quando começam em suas
funções e no geral recebem mais,
para compensar a falta de segurança no emprego.
"Essa alta no custo dos benefícios certamente desestimulou a
contratação de trabalhadores permanentes, já que as empresas não
querem ficar presas a esses benefícios, no momento", disse Richard Berner, economista-chefe
do banco de investimento Morgan Stanley para os EUA.
Alguns economistas chegam a
suspeitar que os incentivos fiscais
de Bush ao investimento empresarial, que permitem depreciação
de até 50% no valor tributário da
maior parte dos equipamentos
empresariais, podem ter inclinado a balança, temporariamente,
em favor de gastos com equipamento, em lugar de com a contração de novos funcionários permanentes. O incentivo expira no
final do ano, mas pode ter contribuído para o crescimento de
15,3% no investimento empresarial no último trimestre de 2003.
"Isso pode ajudar a explicar, de
certa forma, por que as empresas
estão mais dispostas a investir do
que a contratar funcionários permanentes", disse Nigel Gault, diretor de pesquisa na consultoria
econômica Global Insight. Mas o
mais importante benefício de ter
trabalhadores temporários é que
eles podem ser facilmente demitidos, caso as condições de negócios se deteriorem.
"Os executivos continuam cautelosos", disse Jan Hatzius, economista do banco de investimento
Goldman Sachs para o mercado
dos Estados Unidos. "Sentem que
as coisas melhoraram, mas houve
falsas esperanças em número
considerável, e eles continuam incertos de que as coisas se manterão boas, dessa vez."
A maior parte dos economistas
continua a acreditar que, à medida que cresce a confiança na recuperação e caem as oportunidades
de promover ganhos de eficiências, as empresas começarão a elevar seus quadros permanentes.
O medo constante, porém, é o
de que a fraqueza do mercado de
trabalho comece, ela mesma, a solapar a recuperação econômica, a
menos que as contratações subam em breve. No mês passado,
Alan Greenspan, presidente do
Federal Reserve (Fed, o banco
central norte-americano), disse a
um comitê do Congresso que as
empresas do país continuavam a
"eliminar as ineficiências acumuladas durante os anos do boom".
Tradução de Paulo Migliacci
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