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ANÁLISE
Petróleo reaviva os temores da inflação
FLOYD NORRIS
DO "NEW YORK TIMES"
Lembra-se da inflação? É o problema econômico esquecido, algo
que virtualmente todo mundo
acredita ser um problema do passado, e não do presente ou do futuro. Os relatos de preços surpreendentemente altos ao consumidor e ao produtor não afetaram o mercado de ações na semana passada. Os investidores ainda
lembram que menos de dois anos
atrás era a deflação que parecia
uma ameaça.
Talvez seja prematuro preocupar-se muito com a inflação. Mas
a economia mundial parece estar
muito mal preparada para ela, caso aconteça. E esse fato em si pode
ser um motivo para darmos mais
atenção à inflação do que ela recebe hoje.
Veja os preços do petróleo. Os
investidores se acostumaram à
idéia de que pode haver picos de
preço ocasionais, mas que as cotações logo vão cair. Um ano atrás,
pouco antes da guerra do Iraque,
o barril de petróleo cru chegou a
US$ 39,99. Mas na época o mercado previa US$ 27 para um ano depois. Hoje é um ano depois, e o
preço para entrega em abril é de
aproximadamente US$ 38. Enquanto o mercado ainda acha que
os preços vão cair, o futuro de um
ano foi negociado acima de US$
32 na semana passada, o maior
preço já alcançado.
Não é só o petróleo. O índice
Reuters CRB de 17 commodities
subiu aproximadamente 20% no
último ano e quase 40% nos últimos dois anos. A última alteração
semelhante em dois anos aconteceu em 1977-79. Então todo mundo estava aterrorizado pela inflação; hoje quase ninguém está.
O que as pessoas temem hoje é o
terrorismo. Os terroristas parecem atacar as economias que já
estão fracas. Nos Estados Unidos,
uma recessão havia começado
meses antes do atentado de 11 de
Setembro, embora a maioria dos
economistas não soubessem disso na época.
O crescimento europeu em
2004 estava previsto para ser o
mais fraco dentre as regiões do
mundo, mesmo antes dos atentados de Madri. Ian Stewart, do
Merrill Lynch, comenta que só na
Europa a previsão de crescimento
consensual diminuiu no último
ano. Hoje, com a Espanha abalada e ameaças de atentados na Itália e na França, um declínio do turismo poderá pôr fim à frágil recuperação européia.
Diferentemente do 11 de Setembro, que por um breve período
pareceu unir o mundo no horror,
esse atentado está provocando
sentimentos antiestrangeiros. Para raiva dos americanos, alguns
europeus consideram seguro não
se aproximar muito de Tio Sam.
O aumento da suspeita contra
estrangeiros certamente gerará
sentimentos protecionistas, que já
estavam em alta. A campanha
eleitoral americana incluiu denúncias de exportação de empregos, assim como pedidos de tarifas para produtos chineses, a menos que a China permita a valorização de sua moeda. Essas medidas poderiam pôr fim, ou no máximo abrandar, o efeito deflacionário das exportações chinesas.
É claro que não estamos de volta
aos feios velhos tempos. Parte do
aumento dos preços das commodities reflete a queda do dólar,
particularmente em relação ao
euro. E mesmo em dólares o índice Reuters CRB está 17% abaixo
de seu pico de 1980.
Mas a clara confiança que os investidores e os fazedores de políticas parecem ter sobre a inflação
pode em si mesma ser motivo de
preocupação. Um quarto de século atrás, o consenso era que a inflação certamente sairia do controle para sempre, conforme o
crescimento global esgotasse o
suprimento de recursos naturais e
fizesse aumentar os preços. Essa
teoria foi desacreditada na década
de 80, mas hoje, com o "boom" na
China, o aumento de demanda
por matérias-primas é um dos
motivos pelos quais os preços estão subindo.
Se a inflação se tornar uma
preocupação, o remédio tradicional de taxas de juros maiores talvez não caia bem. Em longo prazo
os devedores se beneficiam da inflação, ao pagar com dinheiro que
vale menos o dinheiro que tomaram emprestado. Mas haverá dor
imediata para os proprietários de
imóveis com hipotecas de taxas
variáveis e para o governo americano, que empresta pesado no
mercado em curto prazo. Taxas
mais altas aprofundariam os déficits orçamentários do governo,
assim como poderiam conter os
consumidores. Não seriam boas
notícias para o crescimento.
Tradução de Luiz Roberto
Mendes Gonçalves
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