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RETOMADA?
Expectativa de investimento na indústria cai após Selic diminuir 0,25 ponto percentual no 1º trimestre do ano
Juros derrubam o ânimo de empresários
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A manutenção dos juros altos
no primeiro bimestre de 2004
derrubou as expectativas de investimentos de grande parte do
empresariado brasileiro. A decisão do Banco Central de reduzir a
taxa em 0,25 ponto percentual
neste mês não foi suficiente para
reverter o ânimo das empresas.
A constatação é de representantes das federações das indústrias
de São Paulo e do Rio (Fiesp e Firjan). Economistas ouvidos pela
Folha têm a mesma avaliação.
Não há informações disponíveis
para quantificar os investimentos
retidos. Mas dados do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e do
BC (Banco Central) corroboram
as suspeitas.
O número de consultas de empréstimos ao BNDES caiu 7% no
primeiro bimestre comparado ao
mesmo período de 2003. Os empréstimos concedidos pelo sistema financeiro à indústria também diminuíram. O valor passou
de R$ 116,6 bilhões em dezembro
passado para R$ 114,8 bilhões em
janeiro, de acordo com o BC.
"Verificamos uma cautela hoje
[dos empresários para investir]
muito maior do que no começo
de janeiro", disse Cláudio Vaz, diretor do departamento de estudos
econômicos da Fiesp.
"Poucas vezes vi uma mudança
de expectativas como essa num
espaço de tempo tão curto", afirmou Júlio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto
de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Vaz ressaltou que os industriais
não deram o ano por perdido.
Mas disse que a maioria esperava
que o nível da atividade econômica estivesse muito melhor. "Tenho ouvido muita gente dizer que
está aguardando o reaquecimento da economia para realizar os
investimentos."
A Firjan ouviu 242 empresários
no final do ano passado, e 67%
responderam que, dos custos correntes associados à produção, o
mais relevante para a definição de
um investimento é o financeiro.
Na opinião de Luciana de Sá,
chefe da assessoria de Pesquisas
Econômicas da Firjan, os juros altos prejudicam os investimentos
de três formas. Em primeiro lugar, afetam a demanda. Ou seja,
quanto mais elevada a taxa, mais
caro ficam para o consumidor as
compras a prazo. Segundo, o custo dos financiamentos destinados
ao investimento é maior.
Por último, mas não menos importante, ela cita o chamado "custo de oportunidade" do dinheiro.
Em muitos casos, os juros altos
tornam as taxas de retorno de
aplicações conservadoras mais
atraentes do que o investimento
no setor produtivo.
"A ortodoxia do BC comprova
que ele está comprometido apenas com a meta de inflação, sem
se preocupar com o crescimento.
Isso é captado pelo empresário,
que decide adiar os investimentos
quando constata que o ritmo da
atividade econômica está fraco",
disse o economista-chefe da Sobeet, Fernando Ribeiro.
O professor da FGV-RJ Aloísio
Campelo Júnior lembra que a manutenção dos juros afetou principalmente os setores mais voltados
para o mercado interno. Muitos
dos dados positivos da indústria
divulgados nas últimas semanas,
como aumento da oferta de emprego e crescimento da produção,
se devem fundamentalmente aos
segmentos exportadores.
Segundo Vaz, os investimentos
relacionados a lançamentos de
produtos e formação de estoques
têm sido os mais prejudicados. Já
os investimentos em capital fixo,
como ampliação de plantas de fábricas e compra de equipamentos, costumam ser menos afetados por quebras de expectativa.
Campelo diz também que o nível de ociosidade da capacidade
instalada da indústria ainda está
muito alto. As empresas ainda
têm espaço para aumentar a produção antes de precisar elevar a
capacidade instalada.
Segundo dados da FGV, os setores de bens de consumo e de bens
de capital tiveram queda na utilização da capacidade instalada de
outubro passado para janeiro de
77,1% para 74% e de 77,5% para
76,4%, respectivamente.
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