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SEM BATENTE
Estudo mostra que seria mais vantajoso para empresariado vender companhias e aplicar o dinheiro em juros
Renda fixa bate rentabilidade de empresas
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A rentabilidade média de grandes empresas brasileiras no último triênio perde para a dos títulos públicos. Os números mostram que as empresas analisadas
pela consultoria Economática lucraram, na média dos últimos três
anos, 7,8% sobre o capital investido. No mesmo período, aplicar
num papel do governo, que rende
aproximadamente os juros pagos
pelo CDI (Certificado de Depósito
Interbancário), garantiu uma média de retorno de 19,88% por ano.
"Investir em produção no Brasil
é uma demonstração de confiança na queda dos juros no futuro
ou uma decisão quase irracional",
afirma o analista da consultoria
Global Invest, Paulo Gomes.
De acordo com o levantamento
feito pela Folha, em 2001, 82,75%
das empresas analisadas renderam menos do que o CDI; em
2002, 86,63% e, em 2003, 72,81%.
Mesmo se for descontada a inflação da rentabilidade do CDI -alguns economistas afirmam que é
mais adequado comparar a rentabilidade das empresas com os juros reais-, os empresários saem
perdendo. Os juros reais médios
do CDI, no período, foram de
9,18% por ano.
"Isso desobedece à lógica do
mercado, ninguém vai ter empresa se é melhor optar pela renda fixa", diz o presidente da Economática, Fernando Exel, defensor
da comparação da rentabilidade
das empresas com os juros reais.
Para convencer um investidor a
colocar seu dinheiro na produção
não bastaria que a lucratividade
das empresas fosse igual ao rendimento de aplicações em renda fixa (CDI). "É preciso ter algum
ágio para o empreendedor", diz o
presidente da Economática.
Estudo no mercado dos EUA
mostra que um investidor exige,
em média, uma rentabilidade de
5,5 pontos percentuais acima dos
juros pagos em aplicações de renda fixa para aceitar o risco de entrar numa empresa, diz o economista da Global Invest.
O prêmio de 5,5 pontos percentuais é para compensar o risco de
entrar numa operação mais complexa do que comprar papéis do
governo e remunerar o tempo
gasto para administrar o negócio.
As aplicações em renda fixa são
consideradas as mais seguras.
"O cálculo de risco não recomenda investir em produção."
Esse é o veredicto do professor de
economia da Unicamp, Luiz Gonzaga Belluzzo. "É preciso um espírito animal empreendedor muito
afiado para investir em produção", complementa o professor.
A rentabilidade da empresa é
uma forma de mostrar quanto
rendeu todo o capital que o proprietário investiu no negócio. Ao
imobilizar os recursos no empreendimento, ele abriu mão de
usar o dinheiro de outra forma.
No Brasil, os números recentes
deixam claro que a maioria dos
empresários teria ganho mais se
tivesse vendido seu negócio e
aplicado nos títulos públicos.
O juro alto no país, além de desestimular investimentos, prejudica a operação das empresas brasileiras: reduz a demanda na sociedade e encarece o custo financeiro dos empreendimentos.
Não foram todos os negócios,
entre os analisados, que perderam em rentabilidade para os juros. A Embraer conseguiu uma
rentabilidade de 44% em 2001 e de
35% em 2002. O balanço de 2003
não foi incluído nesse levantamento. A Petrobras, um monopólio estatal, se saiu bem. A lista
também inclui bancos, que conseguiram, na sua maioria, um bom
resultado. No setor de siderurgia
também há empresas com um
bom rendimento.
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