São Paulo, domingo, 21 de março de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SEM BATENTE

Estudo mostra que seria mais vantajoso para empresariado vender companhias e aplicar o dinheiro em juros

Renda fixa bate rentabilidade de empresas

ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A rentabilidade média de grandes empresas brasileiras no último triênio perde para a dos títulos públicos. Os números mostram que as empresas analisadas pela consultoria Economática lucraram, na média dos últimos três anos, 7,8% sobre o capital investido. No mesmo período, aplicar num papel do governo, que rende aproximadamente os juros pagos pelo CDI (Certificado de Depósito Interbancário), garantiu uma média de retorno de 19,88% por ano.
"Investir em produção no Brasil é uma demonstração de confiança na queda dos juros no futuro ou uma decisão quase irracional", afirma o analista da consultoria Global Invest, Paulo Gomes.
De acordo com o levantamento feito pela Folha, em 2001, 82,75% das empresas analisadas renderam menos do que o CDI; em 2002, 86,63% e, em 2003, 72,81%. Mesmo se for descontada a inflação da rentabilidade do CDI -alguns economistas afirmam que é mais adequado comparar a rentabilidade das empresas com os juros reais-, os empresários saem perdendo. Os juros reais médios do CDI, no período, foram de 9,18% por ano.
"Isso desobedece à lógica do mercado, ninguém vai ter empresa se é melhor optar pela renda fixa", diz o presidente da Economática, Fernando Exel, defensor da comparação da rentabilidade das empresas com os juros reais.
Para convencer um investidor a colocar seu dinheiro na produção não bastaria que a lucratividade das empresas fosse igual ao rendimento de aplicações em renda fixa (CDI). "É preciso ter algum ágio para o empreendedor", diz o presidente da Economática.
Estudo no mercado dos EUA mostra que um investidor exige, em média, uma rentabilidade de 5,5 pontos percentuais acima dos juros pagos em aplicações de renda fixa para aceitar o risco de entrar numa empresa, diz o economista da Global Invest.
O prêmio de 5,5 pontos percentuais é para compensar o risco de entrar numa operação mais complexa do que comprar papéis do governo e remunerar o tempo gasto para administrar o negócio. As aplicações em renda fixa são consideradas as mais seguras.
"O cálculo de risco não recomenda investir em produção." Esse é o veredicto do professor de economia da Unicamp, Luiz Gonzaga Belluzzo. "É preciso um espírito animal empreendedor muito afiado para investir em produção", complementa o professor.
A rentabilidade da empresa é uma forma de mostrar quanto rendeu todo o capital que o proprietário investiu no negócio. Ao imobilizar os recursos no empreendimento, ele abriu mão de usar o dinheiro de outra forma. No Brasil, os números recentes deixam claro que a maioria dos empresários teria ganho mais se tivesse vendido seu negócio e aplicado nos títulos públicos.
O juro alto no país, além de desestimular investimentos, prejudica a operação das empresas brasileiras: reduz a demanda na sociedade e encarece o custo financeiro dos empreendimentos.
Não foram todos os negócios, entre os analisados, que perderam em rentabilidade para os juros. A Embraer conseguiu uma rentabilidade de 44% em 2001 e de 35% em 2002. O balanço de 2003 não foi incluído nesse levantamento. A Petrobras, um monopólio estatal, se saiu bem. A lista também inclui bancos, que conseguiram, na sua maioria, um bom resultado. No setor de siderurgia também há empresas com um bom rendimento.


Texto Anterior: Retomada?: Juros derrubam o ânimo de empresários
Próximo Texto: Em 2003, índice de companhias supera juro real
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.