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Multiprogramação
é amadorismo,
afirma emissora
DA SUCURSAL DO RIO
A escolha do padrão de TV
digital envolve discussão política paralela sobre se os radiodifusores têm ou não direito de
posse sobre o espectro de 6
MHz, que, historicamente, lhes
é reservado para a transmissão
de TV.
A questão é suscitada por organizações não-governamentais que pleiteiam a redistribuirão da freqüência para que canais de interesse público, que
hoje são vistos apenas nos sistemas de cabo, virem emissoras abertas. O pleito é endossado por canais legislativos, universitários e comunitários.
Criou-se uma polarização
entre as redes de TV -que
querem manter os 6 MHz intocados para a transmissão em
alta definição- e o leque de
defensores da segmentação dos
canais, em que estão as companhas telefônicas. O sistema japonês se adapta aos objetivos
dos radiodifusores, e o europeu
serve como luva para os propósitos das teles e das ONGs que
reivindicam a democratização
do uso do espectro.
Nessa discussão, a pobreza
brasileira é munição para os
dois lados. O setor de telecomunicações defende que a TV
de alta definição serviria apenas a uma estreita faixa da população com poder aquisitivo
para comprar televisores a partir de 29 polegadas (abaixo desta dimensão, segundo afirmam, a diferença entre a alta
definição e a definição standard seria imperceptível) e que
a digitalização deve ser aproveitada para abrir o mercado.
Os radiodifusores contra-atacam, ao dizer que a TV aberta é a única forma de entretenimento para a parcela majoritária de pobres e que eles têm direito a receber conteúdo gratuito com qualidade de alta definição. Todas as emissoras estão veiculando anúncios em favor da manutenção da TV
aberta e gratuita.
Argumentam os radiodifusores que os pobres se disporiam
a comprar um televisor mais
caro (com financiamento em
longas parcelas) para terem televisão de alta definição com
transmissão gratuita, mas não
pagariam um valor mensal pela
programação, como tem demonstrado a baixa penetração
da TV paga no país.
Discussão leiga
O diretor de Engenharia da
Globo, Fernando Bittencourt,
afirma que a discussão sobre a
multiprogramação é suscitada
por leigos e que o modelo já se
teria provado inviável na Europa. Para o executivo, se o Brasil
optar pelo padrão europeu, estará fadado a não ter TV de alta
definição, que ele define como
o futuro da mídia televisiva
gratuita.
Diz que empresas européias
sonharam em usar a multiprogramação para competir com
as TVs por assinatura a cabo e
por satélite e faliram.
"Quem defende a multiprogramação é amador, não entende o que está acontecendo
fora do Brasil. Já não conseguimos comprar câmeras de TV
fora da tecnologia digital de alta definição", diz o executivo.
Os europeus sustentam que o
sistema DVB comporta, simultaneamente, transmissão em
alta definição, transmissão de
canais de TV em definição
standard (similar à qualidade
de imagem do DVD, segundo
dizem) e transmissão para telefones celulares dentro da mesma faixa de 6 MHz.
A Globo discorda da informação e sustenta que o sistema
japonês seria o único a permitir
a transmissão gratuita dos canais de TV para os celulares.
Para a Globo, a TV de alta definição é a arma de sobrevivência das televisões abertas no cenário de competição com as telefônicas e com as empresas de
TV por assinatura via cabo e
via satélite. A empresa avalia
que as teles serão concorrentes
na transmissão de conteúdo
quando for regulamentada a
IPTV (transmissão de TV por
banda larga), e, por isso, as TVs
fecharam fileira em torno da
transformação dos celulares
em receptores de programação
gratuita da TV aberta.
(EL)
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