São Paulo, terça-feira, 21 de março de 2006

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Multiprogramação é amadorismo, afirma emissora

DA SUCURSAL DO RIO

A escolha do padrão de TV digital envolve discussão política paralela sobre se os radiodifusores têm ou não direito de posse sobre o espectro de 6 MHz, que, historicamente, lhes é reservado para a transmissão de TV.
A questão é suscitada por organizações não-governamentais que pleiteiam a redistribuirão da freqüência para que canais de interesse público, que hoje são vistos apenas nos sistemas de cabo, virem emissoras abertas. O pleito é endossado por canais legislativos, universitários e comunitários.
Criou-se uma polarização entre as redes de TV -que querem manter os 6 MHz intocados para a transmissão em alta definição- e o leque de defensores da segmentação dos canais, em que estão as companhas telefônicas. O sistema japonês se adapta aos objetivos dos radiodifusores, e o europeu serve como luva para os propósitos das teles e das ONGs que reivindicam a democratização do uso do espectro.
Nessa discussão, a pobreza brasileira é munição para os dois lados. O setor de telecomunicações defende que a TV de alta definição serviria apenas a uma estreita faixa da população com poder aquisitivo para comprar televisores a partir de 29 polegadas (abaixo desta dimensão, segundo afirmam, a diferença entre a alta definição e a definição standard seria imperceptível) e que a digitalização deve ser aproveitada para abrir o mercado.
Os radiodifusores contra-atacam, ao dizer que a TV aberta é a única forma de entretenimento para a parcela majoritária de pobres e que eles têm direito a receber conteúdo gratuito com qualidade de alta definição. Todas as emissoras estão veiculando anúncios em favor da manutenção da TV aberta e gratuita.
Argumentam os radiodifusores que os pobres se disporiam a comprar um televisor mais caro (com financiamento em longas parcelas) para terem televisão de alta definição com transmissão gratuita, mas não pagariam um valor mensal pela programação, como tem demonstrado a baixa penetração da TV paga no país.

Discussão leiga
O diretor de Engenharia da Globo, Fernando Bittencourt, afirma que a discussão sobre a multiprogramação é suscitada por leigos e que o modelo já se teria provado inviável na Europa. Para o executivo, se o Brasil optar pelo padrão europeu, estará fadado a não ter TV de alta definição, que ele define como o futuro da mídia televisiva gratuita.
Diz que empresas européias sonharam em usar a multiprogramação para competir com as TVs por assinatura a cabo e por satélite e faliram.
"Quem defende a multiprogramação é amador, não entende o que está acontecendo fora do Brasil. Já não conseguimos comprar câmeras de TV fora da tecnologia digital de alta definição", diz o executivo.
Os europeus sustentam que o sistema DVB comporta, simultaneamente, transmissão em alta definição, transmissão de canais de TV em definição standard (similar à qualidade de imagem do DVD, segundo dizem) e transmissão para telefones celulares dentro da mesma faixa de 6 MHz.
A Globo discorda da informação e sustenta que o sistema japonês seria o único a permitir a transmissão gratuita dos canais de TV para os celulares.
Para a Globo, a TV de alta definição é a arma de sobrevivência das televisões abertas no cenário de competição com as telefônicas e com as empresas de TV por assinatura via cabo e via satélite. A empresa avalia que as teles serão concorrentes na transmissão de conteúdo quando for regulamentada a IPTV (transmissão de TV por banda larga), e, por isso, as TVs fecharam fileira em torno da transformação dos celulares em receptores de programação gratuita da TV aberta. (EL)


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