São Paulo, sábado, 21 de março de 2009

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Preço do álcool desaba na usina, mas não cai no posto

Na entressafra, cotações voltam a níveis de junho, quando produção está no pico

Diferença de preço entre a bomba dos postos e a porta das usinas de álcool chega a 105%; já cotações de açúcar sobem, aliviando produtor

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

Em plena entressafra, os preços do álcool desabam nas usinas e já estão próximos dos menores valores registrados durante toda a safra. Os preços caíram tanto que já se equiparam aos de junho, quando as usinas estavam com produção a todo o vapor.
A situação é muito ruim para as usinas, porque elas necessitam de caixa neste momento de crédito curto provocado pela crise financeira mundial. E os consumidores também não são muito beneficiados devido à demora com que a queda chega às bombas -quando chega.
Em alguns postos paulistanos, a diferença no preço do álcool nas bombas para o da porta das usinas chegou a 105% nesta semana. Na média dos postos, a diferença fica em 79%.
Mas, se as usinas perdem no álcool, ganham no açúcar. Os preços da saca do açúcar cristal subiram 62% na porta das usinas nos últimos quatro meses. E aqui os consumidores já começam a sentir a oscilação. Nos últimos 30 dias, os preços do açúcar subiram 9% no varejo, conforme pesquisa da Fipe.
O Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, que acompanha semanalmente os preços desses produtos, registrou média de só R$ 0,6396 por litro de álcool hidratado nas usinas. Nas últimas seis semanas, o produto acumula queda de 22%. Já o anidro, que é misturado à gasolina, caiu para R$ 0,7234 por litro. Esses valores não incluem impostos.
A queda nos preços do álcool se deve a vários fatores. Um dos principais é a crise global, que fechou a torneira do crédito às empresas, que investiram muito nos últimos anos. Para fazer caixa, as usinas desovam estoques, depreciando os preços.
Já a alta do açúcar é provocada pelo déficit mundial de pelo menos 5 milhões de toneladas na oferta neste ano. A Índia, um dos principais exportadores, teve quebra de produção -e passou a ser importadora.
Com esse cenário de alta no açúcar e de queda no álcool, os usineiros têm grande vantagem em produzir açúcar. Em uma tonelada de cana, as usinas conseguem 2,5 sacas de açúcar, obtendo R$ 100, já excluídos os impostos. Já as que estão produzindo álcool conseguem, em média, 85 litros com uma tonelada, com renda de R$ 55.
Como o açúcar tem perspectiva de alta, os usineiros que têm os dois produtos em estoque desovam álcool para fazer caixa, à espera da recuperação ainda maior do açúcar. Colocando mais álcool no mercado, derrubam ainda mais o preço.
O problema para muitas usinas é que boa parte dos novos investimentos foi feita só para produzir álcool no boom do setor pré-crise. Sem a flexibilidade de produzir açúcar ou álcool, elas têm mais prejuízo.
E o preço do biocombustível pode cair ainda mais justamente porque esses pesados investimentos aumentarão muito a produção. O resultado é que grandes usinas acumulam prejuízos e procuram sócios ou são vendidas.


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