|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Preço do álcool desaba na usina, mas não cai no posto
Na entressafra, cotações voltam a níveis de junho, quando produção está no pico
Diferença de preço entre a bomba dos postos e a porta das usinas de álcool chega a 105%; já cotações de açúcar sobem, aliviando produtor
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
Em plena entressafra, os preços do álcool desabam nas usinas e já estão próximos dos menores valores registrados durante toda a safra. Os preços
caíram tanto que já se equiparam aos de junho, quando as
usinas estavam com produção a
todo o vapor.
A situação é muito ruim para
as usinas, porque elas necessitam de caixa neste momento de
crédito curto provocado pela
crise financeira mundial. E os
consumidores também não são
muito beneficiados devido à
demora com que a queda chega
às bombas -quando chega.
Em alguns postos paulistanos, a diferença no preço do álcool nas bombas para o da porta das usinas chegou a 105%
nesta semana. Na média dos
postos, a diferença fica em 79%.
Mas, se as usinas perdem no
álcool, ganham no açúcar. Os
preços da saca do açúcar cristal
subiram 62% na porta das usinas nos últimos quatro meses.
E aqui os consumidores já começam a sentir a oscilação. Nos
últimos 30 dias, os preços do
açúcar subiram 9% no varejo,
conforme pesquisa da Fipe.
O Cepea (Centro de Estudos
Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, que
acompanha semanalmente os
preços desses produtos, registrou média de só R$ 0,6396 por
litro de álcool hidratado nas
usinas. Nas últimas seis semanas, o produto acumula queda
de 22%. Já o anidro, que é misturado à gasolina, caiu para R$
0,7234 por litro. Esses valores
não incluem impostos.
A queda nos preços do álcool
se deve a vários fatores. Um dos
principais é a crise global, que
fechou a torneira do crédito às
empresas, que investiram muito nos últimos anos. Para fazer
caixa, as usinas desovam estoques, depreciando os preços.
Já a alta do açúcar é provocada pelo déficit mundial de pelo
menos 5 milhões de toneladas
na oferta neste ano. A Índia, um
dos principais exportadores,
teve quebra de produção -e
passou a ser importadora.
Com esse cenário de alta no
açúcar e de queda no álcool, os
usineiros têm grande vantagem
em produzir açúcar. Em uma
tonelada de cana, as usinas conseguem 2,5 sacas de açúcar, obtendo R$ 100, já excluídos os
impostos. Já as que estão produzindo álcool conseguem, em
média, 85 litros com uma tonelada, com renda de R$ 55.
Como o açúcar tem perspectiva de alta, os usineiros que
têm os dois produtos em estoque desovam álcool para fazer
caixa, à espera da recuperação
ainda maior do açúcar. Colocando mais álcool no mercado,
derrubam ainda mais o preço.
O problema para muitas usinas é que boa parte dos novos
investimentos foi feita só para
produzir álcool no boom do setor pré-crise. Sem a flexibilidade de produzir açúcar ou álcool,
elas têm mais prejuízo.
E o preço do biocombustível
pode cair ainda mais justamente porque esses pesados investimentos aumentarão muito a
produção. O resultado é que
grandes usinas acumulam prejuízos e procuram sócios ou são
vendidas.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Cesar Benjamin: Um tiro no pé Índice
|