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Queda dos juros traz dilemas ao governo
Membros da equipe econômica veem taxa anual de 9% como piso para não aumentar "armadilhas" dos juros baixos
Redução da Selic põe pressão sobre setores indexados como poupança, metas de fundos de pensão e crédito habitacional
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Membros da equipe econômica acreditam que a taxa básica de juros (Selic) a 9% ao ano é
o limite que o governo terá para
enfrentar as "armadilhas" que
os juros baixos trarão à economia brasileira.
Hoje, a taxa que serve de referência para economia está em
11,25% anuais. Essa margem
aparente de 2,25 pontos percentuais, no entanto, divide a
equipe econômica sobre o momento certo para adotar medidas consideradas impopulares,
como mexer na rentabilidade
da caderneta de poupança.
Nos últimos dias, retomou-se a discussão sobre o que fazer
com os resquícios da indexação
e do direcionamento obrigatório que marcaram a história
econômica do país das últimas
décadas (que envolve, além da
correção da poupança, as metas
atuariais dos fundos de pensão
e o crédito direcionado ao setor
imobiliário). O debate foi marcado pela elaboração de cenários sobre a trajetória dos juros
e avaliações sobre as condições
de a economia manter a Selic
em um dígito, num cenário de
retomada do crescimento.
Ninguém no governo duvida
de que a tendência dos juros é
de queda em 2009. Mas há dúvidas se ele cairá abaixo do patamar de 9%, em que prazo e se
esse nível mais baixo será mantido no longo prazo.
Nos cálculos anteriores do
governo, o Brasil alcançaria
uma taxa de juros desse nível
somente no segundo semestre
do ano que vem. A crise financeira mundial, argumentam os
técnicos do governo, antecipou
esse cenário e, agora, acredita-se que isso ocorrerá até antes
do final deste ano.
Diante disso, surgiu o debate
de que juros em um dígito levantam a necessidade de desindexar a correção da caderneta
de poupança, que, hoje, na pior
das hipóteses, seria de 6,17% ao
ano. Por sua vez, mudanças
nessas regras em vigor levam a
revisões de outras normas, como a correção dos financiamentos habitacionais.
Além disso, problemas semelhantes já despontam em outras áreas, como os fundos de
pensão, que têm metas rígidas
de rentabilidade para garantir
que os passivos sejam cobertos.
Normalmente, essas entidades buscam retornos que levam
em conta um índice de preços
mais 6% ao ano, o que poderia
ficar difícil de atingir com a
queda prevista dos juros. É preciso encaixar todos em perfeita
sintonia.
"As metas atuariais dos fundos se tornarão inexequíveis
com a queda de juros. Este problema e o da poupança são
questões estruturais que precisam ser atacadas", afirma o ex-diretor de Normas do Banco
Central Sérgio Darcy.
O maior medo na equipe econômica hoje é que a queda dos
juros crie uma distorção no
mercado, com uma forte migração de recursos que estão
aplicados nos fundos de investimentos e nos CDBs (papéis
emitidos pelos bancos para se
financiarem no mercado) para
a poupança.
"Essa é uma preocupação legítima que independe de se e
por quanto tempo os juros ficarão baixos", diz o economista-chefe do JPMorgan, Fábio Akira. "Mesmo sendo uma situação temporária, a queda dos juros pode criar uma crise interna no meio da crise financeira
mundial que vivemos", afirma.
Por enquanto, esta é a aposta
da equipe econômica: há tempo
para agir. O Banco Central, no
entanto, colocou o debate na
rua ao pregar a revisão dessas
questões de forma imediata.
Nos bastidores do governo, BC
e Fazenda se colocam com a
certeza de que sabem o que fazer: mudar a forma de correção
da poupança, mexer nos direcionamentos para o setor imobiliário, enterrar a TR (Taxa
Referencial).
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