São Paulo, sábado, 21 de março de 2009

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Reforma na poupança tenta proteger fundos

Além de financiar 40% da dívida do governo federal, fundos de investimento dão receita de R$ 10 bi por ano aos bancos

Mudança na remuneração da poupança preocupa o governo; carteira de fundos tem mais de 40% dos títulos públicos em circulação


NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As discussões sobre uma possível mudança no cálculo do rendimento da poupança passam pela necessidade de proteger um segmento do mercado que rende cerca de R$ 10 bilhões por ano aos bancos e que responde pelo financiamento de 40% da dívida do governo federal. Trata-se dos fundos de investimento, que, por causa da queda dos juros, estão ameaçados pela crescente atratividade da caderneta.
No ano passado, segundo levantamento feito nos balanços dos bancos que atuam no país, a receita obtida com a cobrança de taxas de administração de fundos foi de R$ 10 bilhões -mais 7% em relação a 2007. Foi um dos poucos serviços a proporcionar mais faturamento para o setor bancário em 2008, já que a cobrança de tarifas como um todo -manutenção de conta corrente, assessoria financeira a empresas, entre outras- rendeu R$ 56 bilhões às instituições, mesmo valor apurado no ano anterior.
Se considerado que metade do patrimônio dos fundos de investimento se refere a aplicações em renda fixa e DI -modalidades que sofrem a concorrência da poupança-, pode-se estimar que a maior atratividade da caderneta poderia custar cerca de R$ 5 bilhões às instituições financeiras.
A competição entre fundos e poupança tem se acirrado por causa da queda da taxa Selic, que hoje está em níveis historicamente baixos e deve continuar em queda pelos próximos meses. Com isso, muitos fundos de renda fixa acabam rendendo menos do que a caderneta, que oferece 0,5% ao mês mais a variação da TR.
Embora uma Selic de 11,25% ao ano ainda seja superior a esse rendimento, os fundos de investimento sofrem com a cobrança de IR e de uma taxa de administração, que reduzem os ganhos líquidos do poupador.
Para o governo, isso preocupa porque os fundos financiam boa parte de sua dívida. Segundo o Tesouro, 41% dos títulos públicos em circulação no mercado (ou R$ 483 bilhões do total de R$ 1,187 trilhão) estão na carteira desse tipo de aplicação.
Na avaliação de José Dutra Vieira Sobrinho, vice-presidente da OEB (Ordem dos Economistas do Brasil), os bancos ainda têm condições de reduzir suas taxas para, pelo menos por enquanto, evitar uma migração de investidores para a poupança. "Os fundos mais populares, de varejo, são os que têm as maiores taxas de administração. Ainda há espaço para queda e é preciso que a sociedade cobre isso das instituições."
Já o economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), Rubens Sardenberg, afirma que o nível das taxas de administração pode até afetar a competitividade dos fundos no curto prazo, mas isso não diminui a necessidade de discutir, em breve, mudanças na poupança.
"Atualmente, fundos que cobram taxas de administração de 2% ou 3% já perdem para a poupança", diz o economista. "Uma taxa fixa de 6,17% [ao ano, que é o que rende a caderneta além da TR] é alta para um ambiente econômico estável."
Segundo Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC e chefe da Divisão Econômica da CNC, o problema de uma rentabilidade muito mais alta da poupança em relação a outras aplicações é o impacto que isso teria no crédito.
Isso porque o dinheiro aplicado na caderneta obrigatoriamente tem que ser usado pelos bancos em financiamentos habitacionais, enquanto o dinheiro captado por outros instrumentos, como o CDB, é direcionado a outros empréstimos.


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