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Reforma na poupança tenta proteger fundos
Além de financiar 40% da dívida do governo federal, fundos de investimento dão receita de R$ 10 bi por ano aos bancos
Mudança na remuneração
da poupança preocupa o
governo; carteira de fundos
tem mais de 40% dos títulos
públicos em circulação
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As discussões sobre uma possível mudança no cálculo do
rendimento da poupança passam pela necessidade de proteger um segmento do mercado
que rende cerca de R$ 10 bilhões por ano aos bancos e que
responde pelo financiamento
de 40% da dívida do governo federal. Trata-se dos fundos de
investimento, que, por causa da
queda dos juros, estão ameaçados pela crescente atratividade
da caderneta.
No ano passado, segundo levantamento feito nos balanços
dos bancos que atuam no país, a
receita obtida com a cobrança
de taxas de administração de
fundos foi de R$ 10 bilhões
-mais 7% em relação a 2007.
Foi um dos poucos serviços a
proporcionar mais faturamento para o setor bancário em
2008, já que a cobrança de tarifas como um todo -manutenção de conta corrente, assessoria financeira a empresas, entre
outras- rendeu R$ 56 bilhões
às instituições, mesmo valor
apurado no ano anterior.
Se considerado que metade
do patrimônio dos fundos de
investimento se refere a aplicações em renda fixa e DI -modalidades que sofrem a concorrência da poupança-, pode-se
estimar que a maior atratividade da caderneta poderia custar
cerca de R$ 5 bilhões às instituições financeiras.
A competição entre fundos e
poupança tem se acirrado por
causa da queda da taxa Selic,
que hoje está em níveis historicamente baixos e deve continuar em queda pelos próximos
meses. Com isso, muitos fundos de renda fixa acabam rendendo menos do que a caderneta, que oferece 0,5% ao mês
mais a variação da TR.
Embora uma Selic de 11,25%
ao ano ainda seja superior a esse rendimento, os fundos de investimento sofrem com a cobrança de IR e de uma taxa de
administração, que reduzem os
ganhos líquidos do poupador.
Para o governo, isso preocupa porque os fundos financiam
boa parte de sua dívida. Segundo o Tesouro, 41% dos títulos
públicos em circulação no mercado (ou R$ 483 bilhões do total de R$ 1,187 trilhão) estão na
carteira desse tipo de aplicação.
Na avaliação de José Dutra
Vieira Sobrinho, vice-presidente da OEB (Ordem dos Economistas do Brasil), os bancos
ainda têm condições de reduzir
suas taxas para, pelo menos por
enquanto, evitar uma migração
de investidores para a poupança. "Os fundos mais populares,
de varejo, são os que têm as
maiores taxas de administração. Ainda há espaço para queda e é preciso que a sociedade
cobre isso das instituições."
Já o economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira
dos Bancos), Rubens Sardenberg, afirma que o nível das taxas de administração pode até
afetar a competitividade dos
fundos no curto prazo, mas isso
não diminui a necessidade de
discutir, em breve, mudanças
na poupança.
"Atualmente, fundos que cobram taxas de administração
de 2% ou 3% já perdem para a
poupança", diz o economista.
"Uma taxa fixa de 6,17% [ao
ano, que é o que rende a caderneta além da TR] é alta para um
ambiente econômico estável."
Segundo Carlos Thadeu de
Freitas, ex-diretor do BC e chefe da Divisão Econômica da
CNC, o problema de uma rentabilidade muito mais alta da
poupança em relação a outras
aplicações é o impacto que isso
teria no crédito.
Isso porque o dinheiro aplicado na caderneta obrigatoriamente tem que ser usado pelos
bancos em financiamentos habitacionais, enquanto o dinheiro captado por outros instrumentos, como o CDB, é direcionado a outros empréstimos.
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