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Pré-sal terá cota nacional de mão de obra
Petrobras fixou em 80% o patamar mínimo de brasileiros nas plataformas que produzirão petróleo na nova fronteira
Em navio da BW Offshore, de 70 trabalhadores, cerca de 30% são estrangeiros, entre russos, ucranianos, noruegueses e indianos
SAMANTHA LIMA
ENVIADA À PLATAFORMA
CIDADE DE SÃO VICENTE
Não bastassem a distância, a
profundidade e as demandas
tecnológicas, a Petrobras se impôs também novo desafio no
pré-sal: conteúdo humano nacional. Estipulou o percentual
de 80% como patamar mínimo
de brasileiros nas plataformas
que vai afretar para produzir
petróleo na nova fronteira.
A julgar pela primeira operação na bacia de Santos, a meta
não é simples. Dez meses depois de iniciada a produção em
Tupi, a plataforma Cidade de
São Vicente, a única que extrai
petróleo no pré-sal da região,
não chegou a esse patamar.
Na plataforma, navio afretado da norueguesa BW Offshore,
dos cerca de 70 trabalhadores,
cerca de são estrangeiros,
entre russos, noruegueses e indianos. O comandante é o ucraniano Seryi Gurin, 43.
Procurada, a BW não comentou. A Petrobras diz que "o percentual de brasileiros é crescente em Tupi" e que "dá preferência a brasileiros nas demais
plataformas". Não informou
qual é o patamar das demais
áreas. A empresa ainda avalia
quantas plataformas afretará.
Vida no mar
O trabalho em plataforma requer disponibilidade. O regime
é de duas semanas de trabalho e
duas de folga, para terceirizados. Os profissionais da Petrobras (na Cidade São Vicente,
um é da estatal) folgam três.
Uma das 10 mulheres a bordo, a enfermeira Gláucia Ferraz, 37, trabalha desde 2001
embarcada. Separada, deixa o
filho de sete anos na casa dos
pais quando está a trabalho.
Por causa da escala, teve de
adiar a festa do aniversário do
filho. "Ele ficou confuso, achou
que faria mais um ano." Ela
chora quando fala dele. "Sinto
muita falta. Mas o salário é
bom, e a gente se conforma."
Pesquisas em sites de emprego mostram que as empresas
pagam R$ 5.000 por mês, mais
bônus e comissões anuais entre
R$ 5.000 e R$ 13 mil. As cifras
variam para cada cargo.
Na plataforma, há engenheiros, geólogos e técnicos que
operam equipamentos e avaliam a produção. Também há
pessoal de apoio, para limpeza
e arrumação, cozinheiros e nutricionistas. Gláucia é a profissional que acompanha a saúde
dos embarcados.
Para chegar à bacia de Santos, a 290 quilômetros da costa,
a viagem de helicóptero leva 80
minutos sobre o mar. São duas
a três viagens por dia até lá (na
de Campos, são 80 para as diversas plataformas).
A jornada é de 12 horas. No
tempo livre, é possível usar a
academia ou assistir a filmes na
sala de vídeo, onde há livros
(muitos deixados por colegas
estrangeiros) e, eventualmente, revistas e jornais. Nos escritórios, computadores com
acesso à internet e telefones.
A presença dos estrangeiros
faz do inglês o segundo idioma
nas unidades. O ucraniano Gurin diz que os sotaques regionais no inglês dos brasileiros o
confundem. "Às vezes, parece
que falam outra língua."
A maior parte dos estrangeiros prefere voltar a seus países
ao fim do plantão. A cada duas
semanas, Gurin voa 15 horas
para reencontrar mulher e dois
filhos em Lutsk, na Ucrânia.
O churrasco de domingo
ocorre no refeitório, porque
não há espaço no convés da plataforma, menor do que as da
bacia de Campos. Nos quartos,
entre dois e quatro trabalhadores, que dormem em beliches.
O convés é o ambiente mais
duro. Por segurança, para circular ali, exige-se incômodo figurino: macacão fechado, botas, luvas, capacete, óculos e
proteção de ouvido. Com sol no
pico e o "flare" (chama da queima do gás), a sensação térmica
supera 50 graus Celsius. O barulho atordoa.
Já a área interna é refrigerada. Não fosse o balanço constante do navio, a sensação seria
a de estar em escritório com
uma uniforme vista para o mar.
Apesar de convidativo, o mar
não é liberado ao mergulho, por
razões de segurança.
A repórter SAMANTHA LIMA viajou
a convite da Petrobras
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