|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPINIÃO
País desvirtuou ideia de royalty
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
COMO SÓI acontecer, o
Brasil desvirtuou completamente a ideia de
royalties do petróleo, dando assim margem ao embate protagonizado pela Câmara dos Deputados e pelo governador fluminense, Sérgio Cabral.
Os dois lados costumam
apresentar seus argumentos
em termos de compensações
por impacto ambiental, demográfico ou de benefícios decorrentes da propriedade do óleo.
A questão, entretanto, está mal
colocada, pelo menos segundo
os cânones da teoria econômica
neoclássica. É o que mostra
Flávia Caheté Lopes Carvalho
em "Aspectos Éticos da Exploração do Petróleo", dissertação
de mestrado apresentada em
2008 à Coppe/UFRJ.
Conceitualmente, os royalties seriam devidos à União,
que é a proprietária de todos os
recursos minerais do país, e teriam uma função bastante precisa: compensar as próximas
gerações pelo uso presente de
um bem que, por ser exaurível,
não estará mais disponível no
futuro, quando valeria ainda
mais do que hoje.
Quem colocou o problema
em bases matemáticas foi o
economista Harold Hotteling
(1895-1973) no texto clássico
"The Economics of Exhaustible Resources", de 1931. A ideia
central defendida pelo autor é
que é preciso pôr um preço na
utilização das jazidas de modo a
maximizar, ao longo do tempo,
os benefícios que elas trazem
para toda a sociedade.
Evidentemente, apenas os
pagamentos não bastam para
assegurar que os objetivos pretendidos sejam alcançados. Seria necessário também aplicar
os recursos em áreas estratégicas que preparem o país para o
futuro no qual o petróleo não
mais existirá. Tipicamente, o
dinheiro deveria ir para rubricas como pesquisa, desenvolvimento tecnológico e educação.
São, afinal, conhecidos os perigos da "doença holandesa", a
desindustralização provocada
pela exploração de recursos naturais e pelas distorções cambiais dela decorrentes.
Num plano mais imediato,
faria sentido repassar parte
desses recursos a Estados e
municípios, para que invistam
em projetos concretos que visem a diversificação da economia na região e, vá lá, em obras
de infraestrutura.
O Brasil, entretanto, resiste a
se curvar à boa teoria econômica. Como os royalties se converteram em moeda de troca
nas mais diversas negociações
políticas, qualquer preocupação estratégica que pudesse haver foi rifada. A Lei do Petróleo,
que regulamenta a matéria,
permite que governadores e
prefeitos façam uso livre do dinheiro dos royalties.
O resultado, previsível, é que
unidades premiadas por caprichos geográficos dediquem a
cada ano mais recursos ao custeio de estruturas cada vez mais
inchadas, produzindo efeitos
opostos aos desejados.
Royalties já representam
cerca de 12% do Orçamento do
Rio de Janeiro, no que ameaça
configurar-se como um caso de
"doença fluminense". É claro
que também não dá para, do dia
para a noite, subtrair R$ 7 bilhões às finanças do Estado.
Texto Anterior: Regra de royalties da emenda Ibsen terá de ser revista até 2012 Próximo Texto: Pré-sal terá cota nacional de mão de obra Índice
|