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Vale é alvo de greve e protestos no Canadá
Paralisação no país entra no 9º mês; empresa atribui suspensão das negociações à má vontade dos grevistas
DA SUCURSAL DO RIO
Amanhã, a maior empresa
privada brasileira será alvo da
fúria de mais de 4.000 pessoas
de várias cidades canadenses
reunidas em Sudbury (centro-sul do Canadá). Trata-se de
passeata planejada por sindicatos em apoio a 3.200 grevistas
em quatro unidades da Vale Inco, subsidiária da Vale.
Sudbury é sede da maior unidade da Vale no país, com 4.200
funcionários, dos quais 3.000
parados. São mais de 70% dos
trabalhadores parados.
Esse é mais um capítulo da
novela que entra no nono mês e
está longe do fim. No roteiro,
acusações mútuas de intransigência e referências a xenofobia. A situação evidencia o choque cultural entre a Vale e o time canadense.
O clima entre as partes nunca foi dos melhores desde que a
Vale comprou a Inco, por US$
17 bilhões, em 2006, tornando-se a segunda mineradora do
mundo. A relação se agravou
com o início da greve, em julho.
Piorou na última semana, depois de uma negociação de oito
dias, encerrada por impasse
nos pontos mais controversos.
A Vale quer mudar os planos de
pensão, os bônus e os critérios
de transferência de funcionários mais antigos, entre outros
itens. A mudança valeria para
as novas contratações.
Nos bônus, a Vale quer um
teto para o valor pago, de 20%
do salário anual, e atrelá-lo
também à lucratividade, e não
só ao preço do níquel, como é
hoje. O sistema atual deu aos
funcionários bônus de 2,6% do
salário anual, em 1999, e de
56% em 2007 (após o recorde
na cotação do níquel, em 2006).
Cerca de 90% dos trabalhadores rechaçaram as propostas
e exigiram a recontratação de
dez funcionários demitidos durante a greve, acusados de
ameaçar os que trabalham.
A Vale propõe regras de transição e algumas compensações
financeiras. Na quinta-feira, o
presidente da Vale Inco, o brasileiro Tito Martins, divulgou
comunicado dizendo que as
propostas visam "a sustentabilidade das operações".
Em 2007, primeiro ano da
Vale na Inco, a mineradora teve
receita líquida de R$ 64 bilhões, 2,7 vezes superior à de
sua subsidiária canadense. Já o
lucro da Vale no mundo foi de
R$ 13 bilhões, ou 3,7 vezes
maior que o da Vale Inco -o
que mostra que o braço canadense perdia em lucratividade.
"Isso não tem a ver com sustentabilidade. A Vale quer lucrar em cima de seus trabalhadores", diz Wayne Fraise, diretor do USW (sigla em inglês para União dos Siderúrgicos).
A greve, que reduziu a produção dos principais produtos
(níquel e cobre) em 90% em
média, deixou sua marca nos
resultados da Vale. As perdas
da Inco no ano, que ainda teve o
efeito da crise, reduziram em
quase R$ 1 bilhão o lucro global
da Vale, de R$ 10,3 bilhões
Nas primeiras entrevistas,
Fraise e os colegas se referiam à
Vale como "empresa de terceiro mundo". A nota de Martins
acusa os sindicalizados de xenofobia e preconceito.
À Folha Fraise disse que a
briga "não tem a ver com os
brasileiros, mas com a Vale".
Após oito dias de conversa,
no início do mês, as negociações travaram. Os trabalhadores propuseram, então, a criação de uma comissão com três
árbitros para avaliar a questão,
mas a Vale Inco não aceitou.
(SAMANTHA LIMA)
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