São Paulo, domingo, 21 de março de 1999

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DESEMPREGO
Maior concorrência entre autônomos e microempresários derruba a renda e limita novas oportunidades
Crise ameaça até o trabalho informal

RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local

A van usada para vender cachorro quente, a confecção de fundo de quintal e a oficina mecânica montada na garagem de casa estão perdendo sua capacidade de amortecer o aumento do desemprego. O velho colchão da economia informal está saturado.
O IBGE calcula que aproximadamente um em cada quatro trabalhadores das seis capitais estudadas na Pesquisa Mensal de Emprego (PME) seja autônomo. No início da década, a proporção era de um em cinco trabalhadores.
Com cada vez mais salões de beleza improvisados dentro das casas e camelôs disputando o espaço em cada esquina, a concorrência entre os trabalhadores autônomos aumentou e a renda caiu.
O resultado é que largar o emprego para trabalhar por conta própria ficou menos atraente. Para quem é demitido, também está mais difícil se virar numa atividade informal, como era comum em outros períodos de recessão.
A pesquisa mensal de emprego do Dieese já reflete a dificuldade de ganhar a vida como autônomo. De 1990 a 1997, o número de autônomos em São Paulo saltou de 1 milhão para 1,47 milhão.
Em 1998, houve uma pequena redução, para 1,46 milhão de trabalhadores, mesmo com um aumento na taxa geral de desemprego de 16% (1,4 milhão), em 97, para 18% (1,6 milhão), em 98.
"As estatísticas mostram que não há espaço para o crescimento da atividade dos trabalhadores autônomos", diz Sérgio Mendonça, diretor-técnico do Dieese.
As estatísticas que medem o mercado informal incluem profissionais liberais, como médicos e dentistas, mas a grande maioria é formada por pequenos empreendedores, como os donos de caminhões que recolhem entulho ou de vans que transportam turistas.
A renda desses profissionais já está caindo. De acordo com o Dieese, um autônomo da região metropolitana de São Paulo ganhava, em média, R$ 790,00 no início de 1997. Em dezembro de 1998, a renda média caiu para R$ 645,00.
"A remuneração aumentou no início do Plano Real, mas agora há um esgotamento e a renda tende a cair devido à concorrência e à recessão", diz Shyrlene Ramos de Souza, do IBGE.
Segundo os especialistas, com o aumento do desemprego, muita gente poderá entrar no mercado informal. A renda deve cair ainda mais. O problema é que há um limite para dar desconto no preço do cachorro-quente e muita gente pode voltar à fila do desemprego.
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Efeito colchão
Durante boa parte da década, o mercado informal serviu para o que os sociólogos chamam de "efeito colchão". A abertura de pequenos negócios era uma opção para quem não encontrava lugar no mercado formal de trabalho.
Segundo último levantamento nacional do IBGE, de 1997, o Brasil tem aproximadamente 15 milhões de autônomos. Uma estimativa do economista Jorge Mattoso revela que, só entre 1994 e 1997, 1,7 milhão de pessoas entrou para o mercado informal. "Além do crescimento do mercado informal, mais 1,9 milhão de pessoas passou a trabalhar sem carteira assinada", diz. "Houve enorme precarização do mercado de trabalho."



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