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DESEMPREGO
Maior concorrência entre autônomos e microempresários derruba a renda e limita novas oportunidades
Crise ameaça até o trabalho informal
RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local
A van usada para vender cachorro quente, a confecção de fundo de
quintal e a oficina mecânica montada na garagem de casa estão perdendo sua capacidade de amortecer o aumento do desemprego. O
velho colchão da economia informal está saturado.
O IBGE calcula que aproximadamente um em cada quatro trabalhadores das seis capitais estudadas na Pesquisa Mensal de Emprego (PME) seja autônomo. No início da década, a proporção era de
um em cinco trabalhadores.
Com cada vez mais salões de beleza improvisados dentro das casas e camelôs disputando o espaço
em cada esquina, a concorrência
entre os trabalhadores autônomos
aumentou e a renda caiu.
O resultado é que largar o emprego para trabalhar por conta própria ficou menos atraente. Para
quem é demitido, também está
mais difícil se virar numa atividade
informal, como era comum em outros períodos de recessão.
A pesquisa mensal de emprego
do Dieese já reflete a dificuldade de
ganhar a vida como autônomo. De
1990 a 1997, o número de autônomos em São Paulo saltou de 1 milhão para 1,47 milhão.
Em 1998, houve uma pequena redução, para 1,46 milhão de trabalhadores, mesmo com um aumento na taxa geral de desemprego de
16% (1,4 milhão), em 97, para 18%
(1,6 milhão), em 98.
"As estatísticas mostram que não
há espaço para o crescimento da
atividade dos trabalhadores autônomos", diz Sérgio Mendonça, diretor-técnico do Dieese.
As estatísticas que medem o
mercado informal incluem profissionais liberais, como médicos e
dentistas, mas a grande maioria é
formada por pequenos empreendedores, como os donos de caminhões que recolhem entulho ou de
vans que transportam turistas.
A renda desses profissionais já
está caindo. De acordo com o
Dieese, um autônomo da região
metropolitana de São Paulo ganhava, em média, R$ 790,00 no início de 1997. Em dezembro de 1998,
a renda média caiu para R$ 645,00.
"A remuneração aumentou no
início do Plano Real, mas agora há
um esgotamento e a renda tende a
cair devido à concorrência e à recessão", diz Shyrlene Ramos de
Souza, do IBGE.
Segundo os especialistas, com o
aumento do desemprego, muita
gente poderá entrar no mercado
informal. A renda deve cair ainda
mais. O problema é que há um limite para dar desconto no preço
do cachorro-quente e muita gente
pode voltar à fila do desemprego.
²
Efeito colchão
Durante boa parte da década, o
mercado informal serviu para o
que os sociólogos chamam de
"efeito colchão". A abertura de pequenos negócios era uma opção
para quem não encontrava lugar
no mercado formal de trabalho.
Segundo último levantamento
nacional do IBGE, de 1997, o Brasil
tem aproximadamente 15 milhões
de autônomos. Uma estimativa do
economista Jorge Mattoso revela
que, só entre 1994 e 1997, 1,7 milhão de pessoas entrou para o mercado informal. "Além do crescimento do mercado informal, mais
1,9 milhão de pessoas passou a trabalhar sem carteira assinada", diz.
"Houve enorme precarização do
mercado de trabalho."
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