São Paulo, domingo, 21 de março de 1999

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NEGÓCIOS NA CRISE
Falta de emprego acirra disputa pela remoção de entulho em SP
Concorrência derruba 25% o preço médio do serviço em três anos

LUCIA REGGIANI
da Reportagem Local

Elas estão estacionadas por todo lugar. Por dentro, cacos de azulejo, reboco, terra. Por fora, um número de telefone quase sempre diferente no quarteirão seguinte. É o concorrido mundo das caçambas dos disque-entulho, um negócio que já foi bom.
O tempo em que o caçambeiro podia cobrar R$ 80 por remoção ficou três anos atrás. De lá para cá, a concorrência cresceu tanto que o preço da retirada de entulho caiu para R$ 60, em média, uma queda de 25%.
A culpa pela perda é atribuída ao desemprego, que só fez aumentar desde 96. "Muita gente que perdeu o emprego investiu a indenização no negócio, e o preço foi empurrado para baixo", afirma Paulo Correia da Silva, presidente do Sieresp (Sindicato das Empresas Removedoras de Entulho do Estado de São Paulo), criado há quatro meses.
O recém-nascido sindicato reúne 130 empresas associadas no Estado. Mas Silva calcula que haja 500 empresas operando no ramo, 80% delas micro ou pequenas. Cadastradas na Limpurb, empresa da prefeitura de São Paulo que cuida da limpeza urbana, eram 201 até o Carnaval.
E mais gente vem chegando. Moacir Bolognes entrou no mercado em fevereiro. Temendo ser demitido, aderiu ao programa de demissões voluntárias da Cosipa. Os R$ 25 mil do Fundo de Garantia, acumulados em 11 anos de trabalho, ele investiu em um caminhão e um guindaste usados e 12 caçambas novas.
O próprio presidente do sindicato, que completa dez anos de experiência em terraplenagem, deixou há cinco esse segmento para se dedicar ao negócio do disque-entulho. Sua empresa possui três caminhões com guindastes e 70 caçambas.
Este ano, Silva vem fazendo de 10 a 15 remoções por dia, cerca de 300 por mês, o que daria um faturamento bruto em torno de R$ 18 mil. Mas as despesas não deixam sobrar muito.
Jogar fora o entulho é a maior fonte de despesas desse ramo, diz João Vieira, sócio-proprietário da Agentulho, que tem dois caminhões e 70 caçambas.
Vieira paga de R$ 6 a R$ 13 por viagem para descarregar em "bota-fora" particular. De graça, só nos transbordos da prefeitura, mas nem sempre compensa ir até eles, dada a distância.
Depois vêm as despesas com combustível, manutenção dos caminhões e multas de trânsito.
Funcionários são o menor dos problemas de João Vieira. Na empresa, sua mulher é secretária, a filha faz a contabilidade e ele próprio é motorista e mecânico. Dois outros motoristas completam o quadro de pessoal.
Juntando salário, comissão por viagem e encargos sociais, um motorista custa R$ 1.000 por mês à empresa, calcula Roberto Nakata, da Baldocchi Transporte de Carga, que opera 35 caçambas com dois caminhões.
Mas o grande problema dos caçambeiros estabelecidos é a concorrência, cada vez mais forte e, segundo eles, desleal.
"O vizinho vê a gente trabalhando, entra no negócio e derruba o preço para R$ 50. O outro se interessa e derruba para R$ 40. Os dois quebram e sobra o problema pra gente", diz Silva.
O novato Bolognes cobra R$ 35 por remoção, porque mora perto do aterro da prefeitura, em Santo André, no ABC paulista.
O negócio do entulho pode estar saturado para os caçambeiros, mas não para seus fornecedores. "A demanda está boa há quatro anos", diz Luis Carlos Zanin Junior, representante da Domarco, fabricante de guindastes e caçambas em Mirassol (455 km a noroeste de São Paulo).
Zanin afirma que vende de 10 a 12 guindastes e cerca de 200 caçambas por mês, em média, na Grande São Paulo. Seu melhor ano foi 97, quando vendeu 17 guindastes por mês, principalmente para desempregados.
Em 1998, Zanin vendeu 10% menos que em 97 e prevê uma estabilização neste ano, por conta das incertezas da economia.
Para o presidente do sindicato, o mercado de disque-entulho só vai melhorar depois que for regulamentado. A regulamentação, na cidade de São Paulo, depende de um decreto municipal.
O projeto, elaborado em conjunto por vários órgãos públicos, está sendo analisado pelo prefeito Celso Pitta, informa a Secretaria de Serviços e Obras.



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