São Paulo, domingo, 21 de março de 1999

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MERCADO
Até o final do mês vence US$ 1,1 bi em dívida externa
Política de câmbio do BC terá novo teste

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
da Reportagem Local

A nova direção do Banco Central será testada pela primeira vez nesta semana e na próxima, quando vencem US$ 1,115 bilhão em eurobônus de empresas brasileiras e contratos futuros de câmbio na Bolsa de Mercadorias & Futuros.
Segundo seis especialistas ouvidos pela Folha, o BC vai "pisar em ovos" para manter as cotações do dólar abaixo do R$ 1,90 fixado pelo Fundo Monetário Internacional como meta para março.
Na semana passada, o dólar fechou cotado a R$ 1,85. Mas as empresas com o US$ 1,115 bilhão de dívidas vencendo até o dia 2 de abril terão de vir a mercado comprar a moeda norte-americana, puxando as cotações para cima.
Como o Brasil não recuperou sua credibilidade nos mercados internacionais, as empresas não estão conseguindo rolar suas dívidas e têm de pagá-las no vencimento.
O feriado de Páscoa no Brasil, nos dias 1º e 2 de abril, contribui para concentrar a pressão de compra de dólar nos últimos dias de março.
A Petrobrás tem US$ 260 milhões vencendo no dia 1º, e o HSBC Bamerindus, US$ 150 milhões no dia 2. Esses pagamentos terão de ser adiantados para o final de março por causa dos feriados.
Os especialistas destacam que o volume de compra, no entanto, será menor do que o US$ 1,115 bilhão, pois parte dessas empresas já aproveitou a calmaria no mercado da última semana para comprar dólar. O ING Barings, por exemplo, com US$ 150 milhões vencendo no dia 26, já comprou todos os dólares necessários.
O Banco Central terá de enfrentar, ainda, a pressão dos investidores que mantêm posições compradas de dólar no mercado futuro. São cerca de 88 mil contratos de vencimento em 1º de abril em aberto, no valor de aproximadamente US$ 4,4 bilhões.
A cotação do dólar a ser usada no fechamento desses contratos será a média ponderada pelo volume de negócios do dia 31, calculada pelo BC, o chamado Ptax.
Os comprados em dólar na BM&F têm interesse que as cotações subam no dia 31 para ganhar mais. Vão brigar com o BC.
A seu favor, o BC tem os exportadores, que começam a vender dólares favorecidos por linhas de financiamento raras e seletivas.
Na sua carteira, o BC ainda tem US$ 2 bilhões de munição para defender o real no mercado de câmbio. Dos US$ 3 bilhões permitidos para o mês de março pelo FMI, foram gastos até agora cerca de US$ 1 bilhão. O problema é que, se o BC gastar todos os US$ 3 bilhões, vai passar apertado no mês que vem.
O FMI só permitiu gastos de US$ 2 bilhões mais as sobras dos recursos de março para defender o real em abril. Do dia 8 até o final do mês que vem, vencem US$ 2 bilhões de eurobônus de empresas brasileiras. No dia 15, vence mais US$ 1,2 bilhão da dívida externa do governo federal, que não vem a mercado, mas sai direto das reservas.
A saída, e o mercado aposta nela, é a emissão de um novo título do governo federal no mercado internacional, de US$ 1 bilhão já no início de abril. O título ajudaria o BC a segurar o dólar e abriria caminho para as empresas brasileiras rolarem suas dívidas externas.



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