São Paulo, domingo, 21 de abril de 2002

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Documento da agência rebate críticas de texto da BCP

Para Anatel, lobby do "Protel" é "primo maligno do Proer"

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em texto recheado de adjetivos e ironias, setores da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) dizem que as críticas encampadas pelo Banco Central contra o setor são uma tentativa de "criar clima para um "Protel", primo irmão do maligno Proer".
O Proer foi o polêmico programa promovido pelo BC para socorrer bancos em dificuldades. O imaginário "Protel" seria, para os autores do texto, que não tem assinatura, uma forma de mudar regras para compensar empresas ineficientes de telecomunicações.
Essas empresas, segundo os autores, querem tomar da União -e, portanto, dos consumidores- "recursos para refazerem o que a capacidade gerencial não foi capaz: alimentar o caixa".
A autoria das acusações à Anatel é atribuída à BCP, empresa privada de telefonia celular que opera na banda B em São Paulo.
O texto de reação da agência, ao qual a Folha teve acesso, tem seis páginas e circulou reservadamente no setor, respondendo, uma a uma, as nove acusações levadas por escrito pelo BC à CPE (Câmara de Política Econômica), abrindo uma crise no governo.
Seu título -""Não se apequene, presidente!"- resgata um apelo que o ex-ministro Sérgio Motta, mentor de toda a reformulação do setor, escreveu para Fernando Henrique Cardoso pouco antes de morrer, em abril de 1998. Isso sugere que os autores sejam remanescentes da equipe de Motta.
Eles dizem que o documento da BCP, "trapalhão, risível", parece ter sido preparado "por algum office-boy do Banco Central [..." tal o amontoado de conceitos maculados, interpretações forçadas e de ingenuidade".
Classificam as acusações levadas pelo BC à CPE como "uma trama", "um achincalhe" de operadoras que "em vez de honrarem compromissos e buscarem superar adversidades episódicas pela competência gerencial [..." preferem voltar ao tempo do Estado "paizão" e buscar socorro e acaba debitado ao bolso da sociedade".
E lamentam que "membros da CPE" (na verdade o chefe da Casa Civil, Pedro Parente) tenham sido "rapidíssimos no gatilho" para repreender publicamente o presidente interino da Anatel, Antonio Carlos Valente, a quem chamam de "bode expiatório".
Os autores do texto chamam ainda de "falta de visão empresarial, no mínimo, ou má-fé com os usuários" as críticas feitas no documento encampado pelo BC às metas de qualidade existentes no setor da telefonia.
E sobre a antecipação de metas de universalização, chamada de antieconômica no papel da BCP, o texto diz que ela não era obrigatória e que "a explicação deve ser buscada na ânsia com que se avançou sobre o pote (atuar em todo o país), em alguns casos sem adequado planejamento e considerações sobre o mercado".



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