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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Europeus e latinos se aliam para sociedade da informação
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
A aproximação entre
União Européia e América
Latina é vista por alguns diplomatas e analistas como um antídoto para o estilo Bush de tratar
venezuelanos, argentinos e brasileiros. Apesar do protecionismo agrícola europeu.
Avança rapidamente, por
exemplo, a negociação de políticas convergentes em setores novos e estratégicos, como os que
orbitam em torno das tecnologias de informação e comunicação (internet e TV digital interativa são os exemplos mais notáveis).
O caso da escolha do padrão
de TV digital interativa no Brasil
é didático. Autoridades brasileiras já sugeriram que esse pode
ser um trunfo nas negociações
multilaterais, em especial na
busca de concessões na área
agrícola.
Nesta semana, UE e América
Latina celebram um marco na
agenda de cooperação com o
lançamento do programa "@lis"
(Aliança para a Sociedade da Informação) numa cúpula ministerial em Sevilha, Espanha.
A decisão de criar o programa
foi tomada no início de dezembro de 2001 pela Comissão Européia. Seu orçamento é de 85
milhões de euros (US$ 75,6 milhões), 75% dos quais financiados pela própria comissão. Informações sobre o programa estão disponíveis em
europa.eu.int/information-
society/international/ latin/alis/
index- en.htm.
Passada a fase da bolha especulativa de empresas de internet
nos EUA, os governos passaram
a ter mais influência nos destinos da vida digital no planeta.
Os mercados de capitais, sobretudo Wall Street, ainda não
reagiram, e o excesso de capacidade nos setores ligados a telecomunicações é evidente.
Nesse contexto, a sobrevivência de grandes projetos, empresas e políticas setoriais dependerá, ao menos enquanto perdurar
o cenário medíocre de crescimento da economia global, da
ação dos Estados. Dependência
ainda mais crucial, num setor
por definição globalizado,
quando os Estados se unem em
redes de cooperação.
Mas não é apenas o destino de
grandes corporações de mídia e
telecom que está em jogo. Os velhos modelos de "pronto-socorro" empresarial, centrados em
subsídios fiscais e creditícios a
perder de vista, proteção tarifária e generosas políticas de regulação de preços, tornaram-se
suspeitos.
Dessa agenda respingam sangue, suor e lágrimas. Veja-se o
embate dos últimos dias, no
Brasil, entre a Anatel, o Banco
Central e a Casa Civil em torno
da crise no setor de telecomunicação. Pouco antes, houve trepidações por conta da operação de
socorro montada pelo BNDES
para a Globo Cabo.
Relativamente neutro nessas
disputas, o MCT (Ministério da
Ciência e Tecnologia), responsável pelo programa Sociedade
da Informação
(www.socinfo.org.br), representará o Brasil na reunião de cúpula que lança o programa "@lis"
na próxima quinta-feira. Este
articulista acompanha a delegação brasileira, a convite do
MCT, para apresentar a Cidade
do Conhecimento, projeto do
Instituto de Estudos Avançados
da USP (www.cidade.usp.br).
Afinal, sem projetos das organizações da sociedade civil e
sem formas transparentes e legítimas de regulação, o desenvolvimento centrado nas novas tecnologias midiáticas tem pés de
barro.
Atender às demandas dos cidadãos em escala local tornou-se uma condição para o desenho
de modelos globais e sustentáveis.
Serão as sociedades organizadas como redes de informação
capazes de dar conta do desafio?
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