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EMPRESAS
Transora reúne concorrentes como Coca e Pepsi; associação tenta também barrar pressão do grande varejo por preço baixo
Múltis rivais se unem para vender juntas
LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Até parece história de ficção
científica. A partir de julho, grandes conglomerados industriais
que concorrem entre si, como a
Unilever, Procter & Gamble, Nestlé, Parmalat, Coca-Cola e Pepsi
vão trabalhar juntos no Brasil para vender seus produtos.
Esses grupos decidiram trazer
ao país a Transora, empresa que
já atua nos Estados Unidos e Europa desde dezembro e, oficialmente, foi criada para agilizar a
distribuição de mercadorias.
Analistas ouvidos pela Folha
afirmam, no entanto, que a Transora pode ser de fato uma arma
dos fornecedores para diminuir
as pressões do varejo pela redução de preços.
"As indústrias viraram reféns
dos grandes varejistas nos últimos dez anos, devido à concentração de mercado. Hipermercados passaram a ditar os preços
das mercadorias e a Transora é
uma reação contra isso", afirma o
economista Edmundo Berensztajn, presidente da empresa Federed, que trabalha com logística.
Ao intermediar transações com
o varejo, a Transora teria condições de gerenciar melhor os preços cobrados pelos fornecedores e
evitar que eles trabalhem com
preços muito baixos.
O presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa
Econômica), João Grandino Rodas, afirma que o órgão está atento a qualquer sinal de cartelização
nesse sistema. "Temos que esperar pelo início da operação da
Transora. Se forem identificados
sinais de que prejudica a concorrência, os órgãos de vigilância vão
entrar com medidas contra a
companhia", disse à Folha.
"Indústria do terror"
Um diretor de uma das maiores
cadeias de varejo do país lembra
que a Transora foi considerada logo no seu lançamento, em 2001,
como uma arma da "indústria do
terror" para barrar descontos excessivos. Ele afirma, no entanto,
que a tese ainda não foi comprovada, pois a empresa só começou
a funcionar efetivamente em dezembro passado. Não houve tempo suficiente para uma conclusão
sobre seus objetivos.
A Transora reúne 55 dos maiores conglomerados industrias do
planeta e trabalha da seguinte maneira: substitui as redes eletrônicas de comercialização usadas
isoladamente pelas indústrias e
concentra as transações em um
único portal na internet.
Seu gerente-geral no Brasil, Luiz
Martins, afirma que a redução
nos custos é mais sensível no
transporte. Uma rede de caminhões já se encarrega nos Estados
Unidos de entregar ao varejo produtos dos mais diversos tipos, como detergentes e refrigerantes, de
marcas concorrentes. "Os custos
das empresas com fretes caíram
28%", afirma Martins.
O serviço mais polêmico da
Transora, no entanto, são seus leilões de produtos. Com eles, as indústrias tanto podem barganhar
on-line os preços de insumos como negociar com o varejo a venda
em massa de seus produtos.
A Transora não revela o montante de transações que já intermediou, mas a Folha apurou que
seu sistema permite que um fornecedor acompanhe com detalhes os preços ofertados de seus
concorrentes. O que possibilita
verificar rapidamente se um acordo de limite mínimo de preços fechado pelas indústrias foi rompido ou não.
Em dezembro, por exemplo,
uma indústria fez leilão para comprar máquinas de produção de
alimentos e conseguiu desconto
de 42% com os fornecedores.
Portais do comércio
Os grandes varejistas, no entanto, têm suas armas para impedir a
restrição dos descontos da indústria. Portais de vendas eletrônicas
como o WWRE (WorldWide Retailers Exchange), que conta com
associados como Makro, Royal
Ahold (Bompreço no Brasil), Casino e Pão de Açúcar, estão em
atividade para reduzir os custos
do comércio.
A WWRE já obteve economia
de US$ 392 milhões para seus 59
sócios-concorrentes desde julho
de 2001. No Brasil, é representada
pelo Pão de Açúcar. "Vamos iniciar nossas operações de fato no
país em maio. Esse negócio, no
entanto, beneficia tanto o comércio como a indústria, porque diminui despesas com informática
e logística", diz Silvio Laban Neto,
diretor do grupo Pão de Açúcar.
Os portais do comércio podem
também servir para beneficiar o
varejo, contrariando os interesses
da indústria. Recentemente, uma
cadeia de varejo realizou um leilão de compra de um grande lote
de vinho chileno. Obteve um bom
desconto com as vinícolas.
A WWRE afirma que seus sócios conseguem uma redução
média de 12,6% nos custos. Laban
afirma, porém, que a rixa entre indústria e comércio não existe,
pois os portais visam à redução de
custos dos dois lados.
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