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DINHEIRO CURTO
Estudo mostra que endividamento cresceu 6% em 2002, enquanto lucro operacional próprio caiu quase 10%
Dívida de empresas sobe e trava investimento
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
Um levantamento feito pela
consultoria Economática, a pedido da Folha, mostra que em 2002
piorou a capacidade de pagamento de dívidas das empresas brasileiras, exceto bancos, que têm
ações em Bolsas de Valores.
A dívida financeira das empresas cresceu 6%, chegando a
R$ 241,396 bilhões, enquanto o lucro operacional próprio caiu
9,7%, ficando em R$ 51,057 bilhões. Com isso, a relação entre o
lucro e a dívida caiu de 24,8% em
2001 para 21,2%, uma situação
classificada como "delicada" por
Fernando Exel, presidente da
Economática. Todos os números
são ajustados pelo IGP-DI (Índice
Geral de Preços-Disponibilidade
Interna) até 31/12/2002.
O levantamento abrangeu um
universo de 153 empresas que, segundo Exel, representam mais de
90% do faturamento das empresas não-financeiras de capital
aberto do país. Além dos bancos,
o resultado não inclui os números
da Petrobras. Segundo Exel, como a estatal é muito grande e seus
resultados são sujeitos a fatores
externos, como decisões políticas,
seus resultados podem causar distorções no conjunto.
O lucro operacional próprio foi
uma categoria contábil criada pela Economática para medir o lucro operacional antes das despesas financeiras. Segundo o presidente da consultoria, o problema
é que mais da metade dos 21,2%
que os lucros representam em relação às dívidas (cerca de 12%) vai
para pagamento de juros.
Do que sobra, a empresa tem
que pagar impostos e outras despesas não-financeiras, sobrando
um lucro líquido muito pequeno,
insuficiente para remunerar os
acionistas ou para que sejam feitos investimentos com recursos
próprios. Nos Estados Unidos, de
acordo com Exel, a relação entre
dívidas e lucro operacional próprio é de 19%, mas os juros não
passam de 5%.
Essa redução da capacidade de
pagamento das empresas abertas
decorreu da queda nas vendas, a
primeira desde o começo do Plano Real, segundo levantamento
feito pela Economática, também
com números ajustados pelo
IGP-DI. A queda foi de 8,84%. Só
em 1993 as vendas das empresas
abertas haviam tido desempenho
negativo (-1,89%).
Exel disse que, como o IGP-DI
de 2002 foi muito alto (26,41%), o
ajuste feito por ele pode superestimar a queda nas vendas. "Mas,
por qualquer índice que seja feito
o ajuste, foi o pior ano desde o
Plano Real", afirmou.
Investimentos
A alta do dólar está na raiz do
aumento das dívidas das empresas abertas no ano passado. Mesmo tendo pago uma parcela substancial das suas dívidas em moeda estrangeira, as empresas não
conseguiram reduzi-las, quando
convertidas em reais. As dívidas
em moeda estrangeira cresceram
no ano passado 8,3%, passando
de R$ 160,455 milhões para
R$ 173,855 bilhões.
Endividadas e com rentabilidade baixa, as empresas estão em situação difícil para investir neste
ano. "O cenário que todo mundo
quer é aquele no qual as empresas
têm coragem de se endividar até o
pescoço", disse Exel, explicando
que o elevado endividamento, associado à instabilidade cambial e
à baixa rentabilidade, prejudica
os investimentos.
"A análise é absolutamente correta", disse o presidente da Abrasca (Associação Brasileira das
Companhias Abertas), Alfred
Plöger. Segundo ele, os investimentos estão comprometidos
porque as empresas estão sem
acesso ao mercado externo, e o dinheiro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) "é pouco e privilegia a área de infra-estrutura".
De acordo com Plöger, o problema é das empresas em geral, e
não apenas das companhias abertas. "Não há investimento que tenha retorno com essa taxa de juros [do mercado interno]", afirmou.
Ele disse ainda que a saída de
muitas empresas para continuar
investindo na produção está sendo obter financiamentos de fornecedores. Segundo Plöger, os juros elevados fazem com que os investidores prefiram o mercado de
renda fixa em vez de investir no
mercado de capitais.
Ele defende a aprovação de projeto que libera recursos do FGTS
(Fundo de Garantia dor Tempo
de Serviço) para investimentos no
mercado de ações.
Para o economista Lauro Vieira
de Faria, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), o alto endividamento e a descapitalização prejudicam os investimentos, mas o
maior obstáculo é a falta de motivação. "As empresas estão com
medo de captar no exterior, e o dinheiro interno é muito caro e racionado", disse.
A dificuldade das empresas para retomar os investimentos é
uma forte preocupação de economistas que trabalham no governo.
Um deles, que preferiu não se
identificar, disse que há uma pergunta afligindo a todos: "De onde
virá o investimento neste ano?"
Segundo o IBGE, a taxa de investimentos da economia brasileira em 2002 -18,71% do PIB
(Produto Interno Bruto)- já havia sido a menor em dez anos.
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