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EMPREENDEDORES
Improvisação limita as novas empresas, afirma Marília Rocca, diretora do Instituto Empreender Endeavor
Instituto propõe estímulo para negócios inovadores
Lalo de Almeida/Folha Imagem
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Marília Rocca, diretora do Endeavor, que incentiva o empreendedorismo em países emergentes |
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil é o sétimo país que mais
empreende no mundo, mas 60%
dos novos negócios surgem apenas como resposta a fatores circunstanciais, como o desemprego. Além disso, a improvisação limita o potencial de crescimento
dessas empresas: 95% delas morrem em cinco anos, segundo o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio
às Micro e Pequenas Empresas).
Para Marília Rocca, diretora do
Instituto Empreender Endeavor,
a solução para esse quadro é estimular o chamado empreendedorismo de inovação, ou seja, dar incentivo a novas empresas que
apostem em produtos ou serviços
diferenciados.
É exatamente esse apoio que é
oferecido no país pelo Endeavor
(www.endeavor.org.br). A organização sem fins lucrativos foi
criada em 1997, nos EUA, com o
objetivo de incentivar o empreendedorismo em países emergentes.
Por meio de processo e critérios
próprios, o Endeavor seleciona
empresas criadas há até cinco
anos e que faturem no máximo
R$ 6 milhões por ano e as auxilia
na busca por investimentos e informações sobre gestão de negócios. Já apoiou a formação de empresas de biotecnologia e até companhias na área de moda.
Após dois anos e meio de atuação no Brasil, são 25 as empresas
orientadas pelo instituto, que durante esse período atraíram juntas
R$ 80 milhões em investimentos.
"São raros os negócios inovadores no país. Queremos estimular
os que existem para que sirvam de
exemplo para novas gerações de
empreendedores", diz Marília. A
organização atua ainda na Argentina, México, Uruguai e Chile.
Folha - Qual o panorama atual do
empreendedorismo no país?
Marília Rocca - Para cada pessoa
que nasce no Brasil, 1,6 empreendimento será criado. O número é
alto, mas o problema é que a
maior parte das pessoas inicia negócios para resolver problemas
individuais, e não para explorar
nichos ou oportunidades de mercado. Esse empreendimento de
subsistência é importante em um
país como o nosso, porque cria
empregos de curto prazo. Só que
esses empregos são sem futuro,
ou seja, têm um impacto temporário e limitado na economia.
Apenas 40% do empreendedorismo no Brasil é de fato empreendedorismo de oportunidade.
Folha - Por que não há mais empreendedores oferecendo produtos inovadores no Brasil?
Marília - Uma das barreiras é
cultural. As universidades brasileiras, por exemplo, medem o seu
sucesso em cima de quantos alunos conseguem se posicionar em
bancos ou indústrias. No Brasil
você é criado para ser empregado,
e não empregador. Paralelamente, existe uma procura grande por
informações sobre empreendedorismo. Essa demanda existe
porque, na década de 80, 55% dos
empregos eram gerados por grandes empresas. Hoje, esse número
caiu para menos de 35%. Não
existem mais os superempregos, a
realidade é diferente atualmente.
O problema é que o empreendedorismo é encarado só como uma
opção à falta de bons empregos.
Folha - Atualmente, no Brasil,
quais são os setores mais favoráveis para os empreendedores em
potencial?
Marília - O país é carente de serviços, setor em que a criação de
um negócio exige pouco capital.
De forma geral, em época de instabilidade econômica, a maioria
das empresas tende a se concentrar em suas atividades principais,
em suas competências naturais.
Isso cria oportunidades para empreendedores que ofereçam soluções para ganho de eficiência em
produtos ou serviços.
Um exemplo é uma empresa
apoiada pelo Endeavor, a Poit
Energia, que aluga geradores de
energia oferecendo uma série de
serviços agregados e de controle
ambiental. Deu certo, porque hoje há empresas sem capital disponível para comprar geradores.
Folha - A quebradeira da internet
mudou o perfil do empreendedor
no Brasil?
Marília - A internet trouxe para a
mídia uma discussão sobre o que
é plano de negócios, o que é capital de risco, e daí por diante. Antes
da bolha da internet no país, existiam cerca de dez fundos de capital de risco, todos voltados para
investimentos em empresas
maiores. Hoje são 37 fundos operando no Brasil.
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