UOL


São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EMPREENDEDORES

Improvisação limita as novas empresas, afirma Marília Rocca, diretora do Instituto Empreender Endeavor

Instituto propõe estímulo para negócios inovadores

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Marília Rocca, diretora do Endeavor, que incentiva o empreendedorismo em países emergentes


MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil é o sétimo país que mais empreende no mundo, mas 60% dos novos negócios surgem apenas como resposta a fatores circunstanciais, como o desemprego. Além disso, a improvisação limita o potencial de crescimento dessas empresas: 95% delas morrem em cinco anos, segundo o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).
Para Marília Rocca, diretora do Instituto Empreender Endeavor, a solução para esse quadro é estimular o chamado empreendedorismo de inovação, ou seja, dar incentivo a novas empresas que apostem em produtos ou serviços diferenciados.
É exatamente esse apoio que é oferecido no país pelo Endeavor (www.endeavor.org.br). A organização sem fins lucrativos foi criada em 1997, nos EUA, com o objetivo de incentivar o empreendedorismo em países emergentes.
Por meio de processo e critérios próprios, o Endeavor seleciona empresas criadas há até cinco anos e que faturem no máximo R$ 6 milhões por ano e as auxilia na busca por investimentos e informações sobre gestão de negócios. Já apoiou a formação de empresas de biotecnologia e até companhias na área de moda.
Após dois anos e meio de atuação no Brasil, são 25 as empresas orientadas pelo instituto, que durante esse período atraíram juntas R$ 80 milhões em investimentos.
"São raros os negócios inovadores no país. Queremos estimular os que existem para que sirvam de exemplo para novas gerações de empreendedores", diz Marília. A organização atua ainda na Argentina, México, Uruguai e Chile.

Folha - Qual o panorama atual do
empreendedorismo no país?
Marília Rocca -
Para cada pessoa que nasce no Brasil, 1,6 empreendimento será criado. O número é alto, mas o problema é que a maior parte das pessoas inicia negócios para resolver problemas individuais, e não para explorar nichos ou oportunidades de mercado. Esse empreendimento de subsistência é importante em um país como o nosso, porque cria empregos de curto prazo. Só que esses empregos são sem futuro, ou seja, têm um impacto temporário e limitado na economia. Apenas 40% do empreendedorismo no Brasil é de fato empreendedorismo de oportunidade.

Folha - Por que não há mais empreendedores oferecendo produtos inovadores no Brasil?
Marília -
Uma das barreiras é cultural. As universidades brasileiras, por exemplo, medem o seu sucesso em cima de quantos alunos conseguem se posicionar em bancos ou indústrias. No Brasil você é criado para ser empregado, e não empregador. Paralelamente, existe uma procura grande por informações sobre empreendedorismo. Essa demanda existe porque, na década de 80, 55% dos empregos eram gerados por grandes empresas. Hoje, esse número caiu para menos de 35%. Não existem mais os superempregos, a realidade é diferente atualmente. O problema é que o empreendedorismo é encarado só como uma opção à falta de bons empregos.

Folha - Atualmente, no Brasil, quais são os setores mais favoráveis para os empreendedores em potencial?
Marília -
O país é carente de serviços, setor em que a criação de um negócio exige pouco capital. De forma geral, em época de instabilidade econômica, a maioria das empresas tende a se concentrar em suas atividades principais, em suas competências naturais. Isso cria oportunidades para empreendedores que ofereçam soluções para ganho de eficiência em produtos ou serviços.
Um exemplo é uma empresa apoiada pelo Endeavor, a Poit Energia, que aluga geradores de energia oferecendo uma série de serviços agregados e de controle ambiental. Deu certo, porque hoje há empresas sem capital disponível para comprar geradores.

Folha - A quebradeira da internet mudou o perfil do empreendedor no Brasil?
Marília -
A internet trouxe para a mídia uma discussão sobre o que é plano de negócios, o que é capital de risco, e daí por diante. Antes da bolha da internet no país, existiam cerca de dez fundos de capital de risco, todos voltados para investimentos em empresas maiores. Hoje são 37 fundos operando no Brasil.


Texto Anterior: Receita ortodoxa: É hora de efetivar reformas, diz Scheinkman
Próximo Texto: Frases
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.