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LUÍS NASSIF
Os analistas do analista
O carnaval em torno do
relatório do banco JP
Morgan durou um dia, mas
foi completo, com escola de
samba e tudo. Durante todo o
dia em que o relatório foi divulgado, analistas transbordaram explicações, sustentaram que a ficha do mercado
havia finalmente caído e tudo
o mais, em uma demonstração acachapante da falta de
compreensão sobre estratégias
de portfólio.
Há dois tipos de investidor: o
que busca retorno no fluxo de
resultados e o que trabalha
com arbitragem de preços. O
primeiro é conservador, aplica
em um país ou em uma empresa e fica sentado aguardando os dividendos periódicos que pingam em sua conta.
O segundo é agressivo. Seu
negócio é comprar um ativo
na baixa e, quando se julga
que bateu na alta, vender e
comprar outro ativo que esteja
na baixa. Depois, quando o
primeiro ativo se tornar novamente barato, voltar para ele.
Para tanto, o que vale é a
avaliação da perspectiva de
valorização dos papéis de cada país, não a qualidade da
economia em si. Suponha o
país A, que vale 10 no mercado, e o país B, que vale 100. Se
o país A pular de 10 para 12,
será muito mais atraente que
o país B indo de 100 para 102,
por exemplo.
Por isso mesmo, supor que o
papel de qualquer país, por
mais sólida que seja a economia (o que não é o caso da
brasileira), permaneça para
sempre com recomendação de
compra é não entender nada a
natureza das estratégias financeiras.
Sempre a um período de recomendação de compra de títulos de qualquer espécie se segue outro de recomendação de
venda. Se não, que raios de capital especulativo seria esse?
No caso do JP Morgan, a recomendação do analista foi
reduzir o percentual de aplicações no Brasil em pouco mais
de um ponto -de 48,7% para
47%- e transferir esse percentual para o México. O estrondo das análises durante o
dia dava a impressão de que o
analista em questão tinha recomendado a fuga de todo o
investimento do país, em desabalada carreira. E a sugestão era simplesmente alocar
um ponto percentual da carteira em papéis do México! O
que se fez foi julgar que os papéis do México tinham uma
pequena possibilidade de se
valorizar mais que os papéis
brasileiros. E poderia porque
se consideraram os papéis mexicanos baratos ou os brasileiros caros. Só isso.
A partir daí, o que se viu foi
aquela mesma saraivada de
explicações futebolísticas que
se seguem a qualquer final de
partida de futebol. A razão da
recomendação negativa teria
sido o receio de aumento do
salário do funcionalismo, o
aumento do déficit da Previdência Social, o pé chato do
presidente Lula, o botox do
ministro A, qualquer explicação serve.
Quando é que a análise financeira vai amadurecer?
Quando é que se vai entender
que essas avaliações de departamentos econômicos de bancos estrangeiros podem eventualmente acertar ou errar,
mas não têm a menor importância para a avaliação de um
país? Quando é que se vai entender que faz parte da estratégia financeira de qualquer
fundo volátil trabalhar com
arbitragem de preços, e não
com fluxos de retornos?
O problema não é o analista.
São os analistas do analista.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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