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foco
Moradores fecham rodovia
Transamazônica em protesto contra hidrelétrica
Eduardo Knapp/Folha Imagem
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Protesto de agricultores contra Belo Monte; trabalhadores bloquearam estrada Transamazônica para pressionar governo
AGNALDO BRITO
ENVIADO ESPECIAL A ALTAMIRA (PA)
Trinta e cinco anos após
idealizado pelo governo militar, o projeto hidrelétrico Belo
Monte acaba de se converter
em uma possibilidade assustadora para quem é contra a
obra, para quem é a favor e sobretudo para quem ganhou.
Para os primeiros, o desafio
é como impedir agora um projeto dessa magnitude com prazo de 2015 para iniciar a geração de energia. Para quem lutou pelo projeto, a dúvida agora está em como cobrar tantas
exigências penduradas no empreendimento.
Com tudo isso, a agenda do
empreendedor por aqui não
será trivial, e resta saber se o
tamanho das exigências de
uma sociedade local muito organizada caberá na receita a
ser obtida com a energia.
As incertezas a partir de agora talvez tenham sido a razão
para uma movimentação local
tão modesta, tanto daqueles
contrários como dos apoiadores. Num dia de sol inclemente, amainado por momentos
de chuvas alentadoras, o dia
mais importante da história de
Altamira, cidade distante 500
quilômetros de Belém, foi como tantos outros.
Logo pela manhã, fora da cidade, pequenos agricultores
da região da Volta Grande do
Xingu, acompanhados de grupos articulados contrários à
barragem, fecharam o quilômetro 45 da rodovia Transamazônica, que na região liga
Altamira a Anapu e Marabá.
Apenas dois policiais rodoviários federais foram destacados para acompanhar o bloqueio e negociaram a passagem de grupos mais vulneráveis, como os bebês de 30 dias
de vida Kaic e Kauã, filhos de
Jaiane Gomes dos Santos, 20,
que aguardava dentro de um
pau de arara.
Há grande preocupação em
relação aos produtores. Muitos ficarão na região entre o rio
seco do Xingu e o lago que fornecerá água para a hidrelétrica. "Como fica essa gente? Vão
construir uma ponte? Não tem
ponte nenhuma no projeto",
diz Lucimar Silva, 39 anos, 29
deles na região.
Ainda nesta semana, outro
problema deverá surgir. A comunidade indígena ainda prepara sua grande ação: a ocupação do Sítio Pimental, onde será instalada a barragem da hidrelétrica. A operação logística, com custo estimado de R$
200 mil, já foi deflagrada. A
previsão é que eles comecem a
montar uma aldeia com várias
etnias na região da barragem.
Os índios alegam que o projeto vai inviabilizar a navegação e o abastecimento de água
das aldeias localizadas no trecho da Volta Grande, onde a
vazão de água será reduzida de
forma drástica.
Comemoração contida
O empresariado de Altamira
preferiu uma comemoração
contida. A carreata que membros da associação comercial
local queriam fazer foi suspensa. "Queremos respeitar aqueles que são contra. Comemoramos, mas acho que também há
uma preocupação sobre o que
vai acontecer agora", disse José Gonçalves de Souza, presidente da associação. Ele afirmou que o grupo Forte Xingu,
organização formada por 170
entidades da região -favoráveis ao projeto Belo Monte-,
tomará uma posição distinta a
partir de agora.
"Vamos adotar posição de
cobrança do novo empreendedor em relação ao que está descrito nos estudos como condição para instalação do projeto." A cidade, afirma Souza,
não tem condição de receber
milhares de pessoas com a
atual estrutura de equipamentos urbanos, escolas, hospitais,
saneamento.
FOLHA ONLINE
Veja fotos da região em
que será construída a
usina de Belo Monte
http://www1.folha.uol.com.br/folha/galeria/galeria-20100420-belomonte.shtml
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