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Famílias pagam R$ 72,1 bilhões em juros e travam consumo
Volume de crédito oferecido a pessoas físicas aumenta 89,7% sobre 2003, enquanto a taxa cobrada cai de 66,6% para 59%, ainda muito acima da Selic
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
As famílias brasileiras pagaram, nos últimos 12 meses encerrados em março, R$ 72,1 bilhões sob a forma de juros de
empréstimos e de financiamentos para a compra de bens,
revela estudo da Federação do
Comércio do Estado de São
Paulo (Fecomercio SP) obtido
pela Folha.
Em março, a taxa média de
juros cobrada de pessoas físicas
era de 59% ao ano -bem mais
alta do que a taxa básica da economia, que na época estava em
16,5% ao ano e hoje está em
15,75% ao ano.
Com os juros mais baixos, esse dinheiro iria para o consumo, assegurando crescimento
econômico maior, avalia a entidade. Antonio Carlos Borges,
diretor-executivo da Fecomercio SP, acredita que se o Banco
Central fosse mais ousado e
cortasse o juro básico com
maior intensidade, o país poderia crescer 6% ao ano.
A previsão do governo é de
crescimento do PIB (Produto
Interno Bruto) de 4% neste
ano. Em 2005, a expansão da
economia foi de 2,3%.
"Com essa taxa de juro, há
uma transferência de renda para o sistema financeiro. É renda que deixa de estar disponível para poupança ou para consumo. Considerando que 80%
da renda das famílias vai para o
consumo e 20% para a poupança, esses recursos poderiam
impulsionar as vendas de produtos e serviços", disse Borges.
Já o volume de recursos pagos na forma de juros por empresas (R$ 50,6 bilhões) e pelo
governo (R$ 174 bilhões), nos
últimos 12 meses encerrados
em março, correspondeu a R$
296 bilhões. É o equivalente a
1,24 vez o PIB do Chile no ano
passado (R$ 110 bilhões).
Cálculos da Fecomercio SP
apontam ainda que o total de
juros pagos no país representa
218 dias -ou sete meses e oito
dias- de vendas do varejo. Outra comparação que chama a
atenção: os juros pagos no país
correspondem à totalidade da
renda gerada pelas famílias de
São Paulo -o montante foi de
R$ 290 bilhões em 2005.
Escalada dos juros
Apesar da queda dos juros
praticados em financiamentos
às pessoas físicas, o volume de
juros pagos pelas famílias só
cresceu nos últimos anos.
O valor subiu 6,8% de 2005
(quando as famílias pagaram
R$ 67,6 bilhões em juros) para
2006. Em relação ao total de
2003 (R$ 48,7 bilhões), primeiro ano do governo Lula, a expansão foi de 48,2%.
Para Borges, a escalada dos
juros compromete cada vez
mais a renda da população e
"acaba por comprimir a capacidade de consumo" da sociedade
brasileira, já combalida pela
"pesada" carga tributária
-atualmente, de 39% do PIB,
segundo estimativa da Fecomercio SP.
O aumento das despesas com
o pagamento de juros acompanha a evolução do volume de
crédito oferecido às famílias,
que cresceu 7,7% de 2005 para
2006. O montante relativo a
empréstimos nas mãos de pessoas físicas passou de R$ 155,2
bilhões para R$ 167,2 bilhões.
Desde 2003, o volume de recursos financiados às famílias
aumentou 89,7%, segundo dados coletados pela entidade.
As taxas de juros a pessoas físicas, por sua vez, baixaram.
Eram de 66,6% em dezembro
de 2003. Passaram para 59,3%
ao final de 2005. Chegaram a
59% na média dos últimos 12
meses encerrados em março
deste ano.
Conservadorismo
O patamar das taxas de juros
oferecidas às famílias, porém, é
ainda muito alto e bastante
descolado da taxa Selic, na visão da Fecomercio SP.
Borges acredita que a inflação está em "parâmetros seguros" e permite um recuo mais
intenso das taxas de juros. Para
ele, o Banco Central tem sido
conservador -os últimos cortes da taxa de juros têm sido de
0,75 ponto percentual.
Como forma de ampliar a
"ousadia" do BC e assegurar a
meta de inflação, Borges defende um maior rigor fiscal, com o
corte de gastos do governo em
despesas correntes.
Com a queda mais intensa
dos juros, prevê, sobrariam
mais recursos para investimentos. A Fecomercio SP estima
que, se a Selic tivesse ficado
dois pontos percentuais mais
baixa em 2005 (fechou o ano
em 18%), o governo poderia ter
ampliado os investimentos (R$
23 bilhões em 2005) em 90%
ou empregado o dobro de recursos no programa Bolsa-Família -cujo orçamento foi de
R$ 8,3 bilhões no ano passado.
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