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"Efeito EUA" poderá levar dólar a R$ 2,40
Equipe econômica apresenta a Lula diagnóstico de eventual impacto de alta prolongada dos juros norte-americanos
Para auxiliares, chance de
reeleição do presidente não
seria afetada por mudança para pior do cenário
financeiro internacional
VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
SHEILA D'AMORIM
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A equipe econômica prevê
que uma ação prolongada de
aumento dos juros nos EUA
possa elevar o dólar a uma cotação entre R$ 2,30 e R$ 2,40.
Segundo apurou a Folha, essa avaliação foi apresentada ao
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva nos últimos dias, quando
auxiliares discutiram o início
de uma mudança para pior,
ainda que moderada, do cenário econômico internacional.
Ao primeiro sinal de que a
trajetória de alta dos juros nos
EUA possa se prolongar, desconfiança desencadeada pela
alta inesperada da inflação naquele país, Lula pediu uma avaliação da equipe econômica.
Na quinta-feira, o presidente
do Banco Central, Henrique
Meirelles, e o ministro Guido
Mantega (Fazenda) fizeram a
avaliação sobre eventuais impactos no Brasil que foi transmitida a Lula. Nos dias anteriores, o mercado financeiro viveu
momentos agitados por causa
da divulgação dos dados de inflação nos Estados Unidos.
Nas palavras de um auxiliar
direto do presidente, concluiu-se que o Brasil está mais preparado para absorver choques externos e que não seria afetada
negativamente a possibilidade
de o petista se reeleger.
O ano de 2006 estaria economicamente salvo, diz um membro da cúpula do governo. A
preocupação será com a sustentabilidade do crescimento
do PIB (Produto Interno Bruto) no longo prazo a partir de
2007. Desde 2003, quando assumiu o poder, Lula convive
com um cenário internacional
favorável que contribuiu para o
país fazer um forte ajuste de
suas contas externas.
A equipe econômica avalia
que uma turbulência internacional, desde que moderada,
ajudaria a resolver o que o governo considera o seu maior
"problema" hoje: uma excessiva valorização do real em relação ao dólar.
Daí a avaliação de que um
eventual "efeito EUA" levaria o
dólar a sair do patamar atual
(entre R$ 2,10 e R$ 2,20) para
outro entre R$ 2,30 e R$ 2,40.
"Até 2002, quando a economia dos Estados Unidos pegava
um resfriado, a economia brasileira contraía uma pneumonia. Hoje, pegaria um resfriado", diz um membro da equipe
econômica.
Efeito EUA
Somente o anúncio na semana passada de que o índice de
inflação norte-americana ao
consumidor havia ficado 0,1
ponto percentual além das expectativas foi suficiente para
que a taxa de câmbio, que no
início do mês estava abaixo de
R$ 2,10, chegasse a R$ 2,18 na
quarta-feira.
Além disso, o risco-país subiu
mais de 6% e a Bolsa de Valores
brasileira caiu 2,86%, acompanhando uma tendência registrada em boa parte das economias emergentes.
No cenário traçado pelo governo, uma mudança no front
externo não significa necessariamente uma alta abrupta dos
juros nos EUA. Com isso, a avaliação é que só irão sofrer realmente as economias que estão
fragilizadas. Isso porque toda
vez que os juros americanos se
elevam, aumenta a atratividade
dos títulos daquele país perante os investidores, que tendem
a retirar dinheiro de outras
economias para investir nos
EUA. A aplicação lá é considerada menos arriscada.
No caso do Brasil, argumenta-se, houve uma preparação
com bastante antecedência e
isso inclui o aumento das reservas internacionais, que estão
em torno de US$ 63 bilhões, a
melhora no perfil da dívida,
com redução dos títulos corrigidos pela variação do dólar, e o
ingresso elevado de dólares por
conta do crescimento das exportações.
Com isso, acredita-se que, ao
contrário do mercado internacional, que não estava incluindo nos preços dos ativos uma
alta mais forte nos juros americanos neste ano, o Brasil já estaria devidamente preparado
para essa possibilidade. E os investidores estrangeiros já contariam com isso.
Segundo a Folha apurou, a
equipe econômica disse ao presidente que os investimentos
no Brasil estão sustentados nos
fundamentos econômicos tidos como sólidos. Daí, alegam,
é "muito pouco provável que
aconteça algo na economia que
abale o processo eleitoral".
Por essa análise, o discurso
de Lula ressaltando os ganhos
com crescimento, queda da inflação e melhora na renda estaria garantido.
Para um interlocutor do governo, a elevação dos juros
americanos além do previsto
terá mais impacto "para a mídia e na avenida Paulista" do
que na economia real, em que
as pessoas "continuarão com
emprego, aumento da renda e
do consumo".
Pelos dados repassados ao
presidente Lula, no terceiro
trimestre deste ano -às vésperas do primeiro turno da disputa presidencial- a economia
brasileira deverá registrar crescimento anualizado superior a
4%, que é a estimativa do encerramento do ano.
No mesmo período de 2005,
a produção registrava retração
e isso gerou grande desconforto entre a equipe econômica e o
presidente.
Esse dado foi decisivo para o
presidente optar por um ajuste
na política econômica. Como o
BC alegava que não era possível
baixar os juros rapidamente e
ressaltava os riscos disso para
2006, a alternativa foi acelerar
gastos os públicos.
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