São Paulo, sexta-feira, 21 de maio de 2010

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Tensão sobre UE se agrava, e Bolsas caem

Bovespa recua mais 2,5% e acumula perdas de 11% em seis dias; NY sofre tombo de 3,6%, e dólar vai a R$ 1,86, maior cotação em 3 meses

Investidores têm dúvidas sobre a capacidade de economias problemáticas da Europa, como Grécia e Espanha, em reduzir deficit

EPAMINONDAS NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

As preocupações em relação à economia europeia voltaram a ter reflexos sobre os mercados globais ontem.
Com a crise de 2008 na mente e sem avistar melhoras no horizonte, o investidor derrubou mais uma vez a Bolsa brasileira, que registrou seu sexto dia consecutivo de perdas.
Os investidores se ressentem da falta de respostas às muitas questões sobre como a Europa vai enfrentar seus problemas: há dúvidas sobre a capacidade de economias problemáticas como Grécia e Espanha em reduzir os deficit nas contas públicas e assim restaurar a confiança dos mercados.
Analistas questionam o pacote de 750 bilhões, ainda por ser detalhado e posto em funcionamento. E a relativa falta de coordenação entre os países da Europa para combater uma crise dessas proporções é um fator adicional de apreensão.
A medida unilateral da Alemanha para conter a especulação financeira agregou nervosismo ao mercado, estressado.
Nesse meio-tempo, o euro se desvaloriza e as Bolsas de Valores derretem. Ontem, a moeda europeia voltou a US$ 1,23, em seu menor preço desde 2006. A Bolsa de Londres recuou 1,64%, enquanto as ações cederam 2% em Frankfurt e 2,25% em Paris.
Superando os mercados europeus em pessimismo, a Bolsa de Nova York teve uma queda de 3,60% no índice Dow Jones.
Como na quarta, a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) não saiu do vermelho durante todo o pregão de ontem, concluindo os negócios com uma baixa de 2,5%.
Somente nos últimos seis dias, o termômetro do mercado brasileiro (o Ibovespa) já acumulou uma desvalorização de quase 11%, uma perda que aumenta para 15% desde o início deste ano.

Câmbio
O dólar comercial subiu para R$ 1,861 (alta de 1,25%) e atingiu sua maior cotação em três meses. Para profissionais do segmento de câmbio, a moeda americana pode testar o nível de R$ 1,90 nos próximos dias.
"A crise de 2008 está no subconsciente de todo mundo, como uma ameaça. E agora surgiu uma outra crise muito grande, a Europeia, o que deixa todo mundo assustado", diz Rodrigo Falcão, operador de renda variável da corretora Icap Brasil.
Para ele, os problemas da Europa foram "o ótimo motivo" que os mercados precisavam para ajustar os preços das ações, que subiram rápido demais no ano passado.
"Quando o mercado corrige, tende a fazê-lo rápido demais, o que naturalmente traz algum pânico", diz.
"Acho que, daqui a alguns anos, mal vamos nos lembrar dessa "correção". A Bolsa ainda mantém um apelo de longo prazo."
Como economistas gostam de lembrar, as Bolsas tendem a antecipar as tragédias e as celebrações. Em 2008, ano de crescimento, os mercados minguaram, para somente se recuperar em 2009, quando as economias pararam, mas se contava com a retomada global.
Em 2010, ainda há muita incerteza sobre como o mundo vai absorver os problemas da Europa. O Brasil pode sofrer por três vias: pela queda nos preços das commodities (matérias-primas), pela queda nas exportações e pela restrição do crédito em nível mundial.
"Temos que acompanhar o desdobramento dessa crise na Europa e como o setor bancário vai ser afetado. O que nós todos esperamos é que o mundo tenha aprendido alguma lição com a crise de 2008", afirma Guilherme Mazzili, gestor de renda variável da Daycoval Asset Management.


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