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OPINIÃO ECONÔMICA
Seguros, o dia D mais um
ANTONIO PENTEADO MENDONÇA
Ao longo dos últimos três
anos a atividade seguradora
não só não cresceu em faturamento como viu seu lucro operacional minguar. As razões para isso são conhecidas e podem ser divididas em dois grandes grupos.
O primeiro englobando as ações
levadas a efeito pelas seguradoras.
O segundo compreendendo as
consequências da crise econômica que afetou o país. Como essa
análise já foi feita, o que importa é
olhar para a frente, e, aí, o quadro
muda bastante.
Se o passado recente teve céu
cinza e chuva no caminho, o futuro promete céu de brigadeiro, para um crescimento mais do que
expressivo, em muito pouco tempo. Está nas mãos do setor definir
se a viagem vai ser calma ou se as
poucas nuvens que aparecem no
horizonte serão suficientes para
fazer dela um martírio, mantendo
uma antiga tradição que faz da
atividade seguradora nacional cópia quase fiel do Brasil.
É verdade que boa parte das seguradoras hoje existentes não deve permanecer no mercado, pelo
menos com o desenho atual. A
maioria por falta de escala ou
competência profissional e as outras porque serão compradas ou
se associarão, até com empresas
estrangeiras.
É importante salientar que as
principais seguradoras do mundo
já estão no Brasil e que começam
a colocar a cabeça para fora. Há
cinco anos, entre as dez maiores
empresas do setor, apenas duas
eram de fora. Atualmente essa relação cresceu e cinco das dez
maiores ou são diretamente controladas ou têm parcerias com
grandes seguradoras internacionais.
Não é de esperar uma mudança
muito grande nessa ordem, mas
ainda há espaço para fusões e
aquisições envolvendo as maiores
companhias de seguros em operação no Brasil e só isso já é combustível suficiente para acelerar o
desenvolvimento do mercado. E o
melhor de tudo é que esse é o
combustível menos potente entre
todos os que devem levar o setor
de seguros a um patamar muito
mais alto do que o atual em relação ao Produto Interno Bruto do
país.
Com uma participação ao redor
de 2%, a atividade seguradora
tem espaço de sobra para crescer
até os 5% ou 6% dos países latinos
mais desenvolvidos. E isso quer
dizer que, só por inércia, por demanda reprimida, a atividade pode, em poucos anos, passar a responder por 3,5% do Produto Interno Bruto, dando, até o final de
2003, um salto impressionante no
seu faturamento.
Quando, em 1994 e 1995, o setor
de seguros teve o seu grande período de desenvolvimento, crescendo três vezes o seu tamanho
em pouco mais de um ano e meio,
na base dessa explosão não estavam novas estratégias de marketing nem ações ousadas das seguradoras, mas apenas e tão-somente a estabilidade da moeda,
que trouxe à tona uma demanda
reprimida muito maior do que a
imaginada, mostrando que brasileiro não contratava seguro apenas em razão da inflação.
Uma das principais causas da
estagnação do mercado nos últimos três anos foi justamente a
volta da crise econômica, que sangrou o poder aquisitivo do país,
deixando a população descapitalizada para qualquer tipo de investimento, além da sua subsistência. Não havendo investimentos novos, não há riscos para ser
segurados e, mais grave ainda,
não havendo emprego nem dinheiro, não há sequer como manter os seguros existentes, porque a
renovação das apólices deixa de
ser prioritária.
Com a retomada do crescimento nacional, apontada como consistente por todos os indicadores
econômicos, o mercado, que é um
bom termômetro, já sente de novo o aumento do interesse pela
contratação de novos seguros. E
esse é o primeiro degrau para o
setor chegar aos 5% do PIB anteriormente citados.
O segundo passa pelas reformas
constitucionais, que começam a
ser implementadas, com ênfase
na da Previdência Social, já se refletindo na demanda por planos
de previdência privada aberta,
que fazem parte da atividade seguradora.
Se tomarmos o número de pessoas que hoje têm um plano de
saúde privado e aceitarmos que
elas são as contratantes potenciais
dos planos de previdência, teremos um número próximo de 40
milhões de indivíduos, dos quais
só uma parte ínfima, hoje, possui
algum tipo de aposentadoria
complementar.
É por isso -e pela certeza de
que Previdência Social chegou ao
fim da linha- que os produtos
como os PGBL estão crescendo e
despertando tanta atenção. Além
deles, a reforma da Previdência
deve incrementar também os seguros de vida e, provavelmente,
forçar a privatização do seguro de
acidentes do trabalho.
Mas o setor tem também problemas sérios que precisam ser
enfrentados. No curto prazo, o
mais grave é a alta sinistralidade
do seguro de automóveis. Sem
ações enérgicas para diminuir esse índice e para reajustar os preços, o mercado continuará perdendo dinheiro com sua maior
carteira.
Além disso, o seguro-saúde está
ameaçado de ser retirado das seguradoras e, dependendo da privatização do seguro de acidentes
do trabalho, o mercado poderá
estar recebendo um mico. Assim,
as seguradoras, mesmo em um
cenário francamente positivo,
precisam tomar cuidado e investir em profissionalização para não
tropeçar nas próprias pernas.
Antonio Penteado Mendonça, 47, advogado, é consultor especializado em
seguro e previdência e professor da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas).
E-mail - pentmend@penteadomendonça.com.br
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