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MERCADO EM TRANSE
País é o principal prejudicado pelo contágio argentino; empresas têm muitas dívidas em dólares
Uruguai libera câmbio; dólar dispara 12,4%
JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES
De forma surpreendente, o governo uruguaio anunciou ontem
a substituição do sistema de bandas cambiais vigente desde 1990
por um regime de câmbio totalmente flutuante.
No dia da estréia do novo sistema, o dólar subiu 12,4%. Sua cotação flutuou de 17,35 pesos uruguaios na quarta-feira para 19,5
pesos ontem, após chegar a ser
vendido por quase 24 pesos durante os momentos de maior nervosismo do dia.
Prevendo o fracasso inicial, o
ministro da Economia, Alberto
Bensión, disse que o país não tinha outra alternativa para enfrentar o câmbio desvalorizado de
Brasil e Argentina. "Somos um
país pequeno em meio a dois países em que o câmbio é flutuante, o
que conspirava contra a credibilidade de nosso sistema cambial."
O Uruguai foi o país mais prejudicado pelo contágio da crise argentina e sofre há vários meses
com a fuga de capitais para o exterior e a queda do turismo.
Há dois meses, o ministro Bensión havia dito que o sistema de
bandas funcionaria até o final do
ano. Por esse regime, o Banco
Central fixava diariamente um piso e um teto que compreendia
uma variação de até 12% para a
cotação do peso. A cada mês, essa
banda poderia sofrer uma alteração máxima de 2,4%.
Reservas
No entanto, o mercado se antecipou a uma possível desvalorização cambial e elevou a remessa de
recursos ao exterior. Entre janeiro
e maio, as reservas do país em
moeda estrangeira caíram de US$
3 bilhões para US$ 1,6 bilhão.
Em meio a essa situação, o governo uruguaio buscou apoio externo para desvalorizar o câmbio
em um ambiente mais tranquilo.
Nesta semana, o FMI (Fundo Monetário Internacional) confirmou
a liberação de um novo empréstimo ao país, de US$ 1,5 bilhão. Esses recursos somaram-se a uma
linha de crédito acertada em março com o Fundo, de US$ 743 milhões.
Com isso, Bensión acredita que
o país terá reservas suficientes para impedir que o câmbio flutuante uruguaio não experimente o
mesmo fracasso obtido na Argentina. Ele admitiu que poderá haver uma alta inicial "aguda" na
cotação do dólar, mas, depois, o
peso uruguaio voltaria a patamares semelhantes aos atuais.
Além disso, o presidente do
Banco Central, César Rodríguez
Batlle, disse que o "BC vai intervir
para assegurar uma transição ordenada para a flutuação", com o
objetivo de segurar a inflação.
O mercado, no entanto, recebeu
as medidas com mais cautela. O
economista Pablo Rosselli, da
consultoria Tea, Deloitte & Touche, prevê uma forte alta da moeda norte-americana, que vai gerar
inflação e provocar a queda do
consumo interno.
Para ele, a economia do país deve agora completar o quarto ano
em recessão, fechando 2002 com
uma retração do PIB de pelo menos 7%.
Dívidas
Outro ponto fraco do plano, segundo analistas, está no fato de
que a esmagadora maioria das dívidas dos empresários está atrelada ao dólar, o que dificultará o pagamento dos débitos e pode comprometer o setor financeiro.
No entanto, analistas concordam com o governo de que a desvalorização cambial era a única medida possível a ser tomada para reativar a produção das empresas exportadoras -concentradas nos setores de carne, lácteos e
lã- e reaquecer o turismo do país.
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