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LUÍS NASSIF
O mestre e a "fracassomania"
Um pequeno livro de pouco
menos de cem páginas ajudaria, e muito, a orientar melhor
a discussão econômica brasileira
e a esclarecer o país acerca da ditadura dos modelos econômicos
fechados brandidos pela nova
geração de economistas do mercado financeiro.
Trata-se de "A Moral Secreta
do Economista", entrevista realizada com Albert Hirschman,
editada pela editora Unesp.
Hirschman é uma lenda no
mundo econômico mundial.
Professor de Princenton, nasceu
na Alemanha, fugiu do nazismo,
alistou na resistência espanhola,
depois tornou-se sargento do
Exército norte-americano, tudo
antes de completar 26 anos.
Terminada a guerra, fez carreira acadêmica nos EUA e acabou se tornando um dos principais especialistas em teoria do
desenvolvimento, com especial
atenção à América Latina. Suas
aulas foram frequentadas por
alguns dos maiores economistas
brasileiros, como José Serra e
Pérsio Arida.
O livro, pequeno, é um libelo
contra toda forma de ortodoxia
e de tentativa de enquadrar processos econômicos e sociais em
regras imutáveis. "O inimigo
principal é sempre a ortodoxia.
Repetir sempre a mesma receita,
a mesma terapia, para curar tipos diferentes de doença; não
admitir a complexidade, querer
reduzi-la a todo custo; ao passo
que as coisas reais são sempre
mais complexas", diz ele no texto que ilustra a contracapa do livro.
No livro, Hirschman defende a
importância de avaliar adequadamente cada circunstância,
não apenas cada país em si mas
o momento histórico.
Trabalha o conceito da teoria
pendular. "Para um país em via
de desenvolvimento, é bom conhecer uma fase de abertura em
direção a países mais desenvolvidos, mas, em um segundo momento, é também positivo fechar-se em si mesmo, fechar as
próprias portas ao exterior, pelo
menos por certo período, e desenvolver os próprios recursos, a
própria indústria", diz ele à página 77.
Hirschman foi autor do conceito da "fracassomania", a mania dos intelectuais latino-americanos de jamais compreenderem os avanços ocorridos em
seus países. O conceito surgiu a
partir da análise da experiência
de incentivos ao Nordeste. Só se
via a corrupção e ele, em suas
análises, viu também progressos.
Mas sua crítica mais ácida é
contra os jovens economistas
que vão estudar no exterior e
voltam ao seu país desconhecendo completamente as experiências passadas nacionais.
É a eles que se destina o conceito de "fracassomania" -diferentemente do uso de Fernando
Henrique Cardoso, contra os que
reagiam contra reformas muitas
vezes desamarradas da realidade. "Os jovens são mandados para estudar nas universidades
norte-americanas e européias e,
quando retornam, acreditam saber e conhecer tudo, sem ter
aprendido nada das experiências dos velhos que sempre viveram na América Latina (...)
Usei, às vezes, a palavra "fracassomania" para definir a figura
do consultor das reformas, que
traz novas idéias e novas propostas sem observar a realidade e a
experiência do país para o qual
as reformas estão voltadas."
Levará bom tempo para que o
bom senso de Hirschman consiga modificar a discussão econômica brasileira.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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