São Paulo, quinta-feira, 21 de junho de 2007

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G4 decreta blecaute informativo sobre Doha

Medida é tomada após a divulgação de propostas de corte de subsídios agrícolas dos Estados Unidos

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A POTSDAM

Os ministros do G4 (Brasil, EUA, Índia e União Européia) decretaram ontem o mais completo blecaute informativo sobre a reunião que mantêm desde terça-feira, destinada a tirar da paralisia a Rodada Doha de negociações comerciais.
O blecaute foi provocado por um mal-entendido. Mike Johanns, secretário americano da Agricultura, culpou o chanceler brasileiro, Celso Amorim, pelo vazamento de informações a respeito do corte dos subsídios domésticos que os EUA dão a seus agricultores.
As hipóteses de corte (para US$ 15 bilhões ou US$ 17 bilhões, contra os US$ 22 bilhões que eram ou ainda são a proposta original) foram apresentadas na terça por Susan Schwab, a negociadora-chefe dos EUA. Amorim repassou a queixa ao enviado da Folha: "Você me deixou em má situação. Como você coloca os comentários dela em seguida a afirmações minhas entre aspas, ficou a impressão de que fui eu que falei tudo".
Na verdade nem foi Amorim quem deu as informações nem o texto da Folha dá essa impressão, até porque dois outros jornalistas brasileiros em Potsdam também as publicaram.
Numa sala com 38 pessoas (nove de cada delegação mais dois ministros de Agricultura, da UE e dos EUA), vazamentos ocorrem, por mais que tenha sido estabelecido que só ministros falariam, se quisessem, e assim mesmo com o compromisso de não tocar em números (as chaves da negociação).
Com o mal-entendido, o blecaute ampliou-se: nem os ministros foram liberados para falar ontem, o que acabou provocando cenas explícitas de jornalismo de adivinhação.
O maior exemplo: Eckart Guth, o embaixador da União Européia em Genebra, teve a má idéia de falar ao celular no pátio do castelo Cecilienhof, local da reunião. É no pátio que os jornalistas aguardam as migalhas de informação.
Guth dizia ao celular que "alguns países-membros" estavam revoltados com a posição adotada por Peter Mandelson, o comissário europeu para o Comércio e, como tal, seu principal negociador. Sugeria a seu interlocutor que os acalmasse.
Com quem Guth falava e o motivo da revolta não se ouviu. Mas a Folha ouviu, sim, de participantes da negociação (não há blecaute perfeito) que Mandelson não fez ontem nenhum movimento diferente dos que vinha adotando.
Os europeus oferecem corte em tarifas agrícolas de até 70% para as mais altas desde que sejam autorizados a proteger produtos ditos sensíveis, com o que o corte, na prática, ficaria em 1/3 da oferta, em 24% (o Brasil pede 54%). E é possível que mesmo essa tímida oferta desagrade a países mais protecionistas, como a França.
A única exceção ao boicote aos jornalistas veio de Kamal Nath, o ministro indiano do Comércio, que deu a seguinte entrevista:
Pergunta - Como está o ambiente na negociação?
Nath - Muito bom.
Pergunta - Há progressos?
Nath - Sim, há progressos.
Pergunta - Em que área?
Nath - Em todas as áreas.


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