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G4 decreta blecaute informativo sobre Doha
Medida é tomada após a divulgação de propostas de corte de subsídios agrícolas dos Estados Unidos
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A POTSDAM
Os ministros do G4 (Brasil,
EUA, Índia e União Européia)
decretaram ontem o mais completo blecaute informativo sobre a reunião que mantêm desde terça-feira, destinada a tirar
da paralisia a Rodada Doha de
negociações comerciais.
O blecaute foi provocado por
um mal-entendido. Mike Johanns, secretário americano da
Agricultura, culpou o chanceler
brasileiro, Celso Amorim, pelo
vazamento de informações a
respeito do corte dos subsídios
domésticos que os EUA dão a
seus agricultores.
As hipóteses de corte (para
US$ 15 bilhões ou US$ 17 bilhões, contra os US$ 22 bilhões
que eram ou ainda são a proposta original) foram apresentadas na terça por Susan
Schwab, a negociadora-chefe
dos EUA. Amorim repassou a
queixa ao enviado da Folha:
"Você me deixou em má situação. Como você coloca os comentários dela em seguida a
afirmações minhas entre aspas, ficou a impressão de que
fui eu que falei tudo".
Na verdade nem foi Amorim
quem deu as informações nem
o texto da Folha dá essa impressão, até porque dois outros
jornalistas brasileiros em Potsdam também as publicaram.
Numa sala com 38 pessoas
(nove de cada delegação mais
dois ministros de Agricultura,
da UE e dos EUA), vazamentos
ocorrem, por mais que tenha
sido estabelecido que só ministros falariam, se quisessem, e
assim mesmo com o compromisso de não tocar em números (as chaves da negociação).
Com o mal-entendido, o blecaute ampliou-se: nem os ministros foram liberados para
falar ontem, o que acabou provocando cenas explícitas de
jornalismo de adivinhação.
O maior exemplo: Eckart
Guth, o embaixador da União
Européia em Genebra, teve a
má idéia de falar ao celular no
pátio do castelo Cecilienhof, local da reunião. É no pátio que
os jornalistas aguardam as migalhas de informação.
Guth dizia ao celular que "alguns países-membros" estavam revoltados com a posição
adotada por Peter Mandelson,
o comissário europeu para o
Comércio e, como tal, seu principal negociador. Sugeria a seu
interlocutor que os acalmasse.
Com quem Guth falava e o
motivo da revolta não se ouviu.
Mas a Folha ouviu, sim, de participantes da negociação (não
há blecaute perfeito) que Mandelson não fez ontem nenhum
movimento diferente dos que
vinha adotando.
Os europeus oferecem corte
em tarifas agrícolas de até 70%
para as mais altas desde que sejam autorizados a proteger
produtos ditos sensíveis, com o
que o corte, na prática, ficaria
em 1/3 da oferta, em 24% (o
Brasil pede 54%). E é possível
que mesmo essa tímida oferta
desagrade a países mais protecionistas, como a França.
A única exceção ao boicote
aos jornalistas veio de Kamal
Nath, o ministro indiano do
Comércio, que deu a seguinte
entrevista:
Pergunta - Como está o ambiente na negociação?
Nath - Muito bom.
Pergunta - Há progressos?
Nath - Sim, há progressos.
Pergunta - Em que área?
Nath - Em todas as áreas.
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