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Bolívia agora acusa Petrobras de contrabando
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
A Bolívia e a Petrobras estão
enredados em mais um impasse na longa novela da transferência das duas refinarias da
empresa no país. Agora, o governo Evo Morales acusa a estatal de contrabando de petróleo cru reconstituído, baseando-se numa lei contra o narcotráfico. A punição prevista chega a US$ 239 milhões, mais que
o dobro do preço das plantas.
O governo Morales diz que a
Petrobras Bolívia Refinación
S.A. (PBR), que ainda controla
as refinarias, realizou a exportação desse produto sem Licença Prévia de Exportação, como
prevê a Lei do Regime da Coca e
das Substâncias Controladas,
de 1998. Um anexo de 1992 incluiu o petróleo reconstituído
como substância controlada.
De acordo com o governo boliviano, foi iniciado um processo penal contra a PBR, no qual o
valor "preliminar" supostamente devido é de US$ 239 milhões, que deve ser corrigido
para cima com o tempo.
Esse valor é bem maior que
os US$ 112 milhões que a estatal YPFB concordou em pagar à
Petrobras para estatizar as
duas refinarias, conforme acordo de maio. A primeira parcela,
de US$ 56 milhões, foi paga na
semana passada. A segunda deve ser depositada em agosto.
Ainda segundo o governo de
La Paz, essa multa pode ser
contestada pela Petrobras na
Corte Suprema de Justiça.
A Folha apurou que a Bolívia
quer incluir uma cláusula de
contingência no contrato de
compra e venda das refinarias
-ainda em negociação, apesar
do primeiro pagamento-, no
qual a Petrobras se compromete a aceitar uma eventual decisão judicial desfavorável à PBR.
Ou seja, caso a empresa brasileira seja condenada em última instância, terá de pagar
uma multa muito superior ao
preço pelo qual vendeu as refinarias. O impasse é um dos motivos que adiaram a transferência do controle das refinarias à
YPFB. O outro é a dificuldade
da Bolívia em contratar seguradora para as duas plantas, responsáveis pelo abastecimento
de quase todo o consumo interno de derivados de petróleo.
Procurada pela reportagem
ontem, a Petrobras afirmou
que, por enquanto, não irá se
pronunciar sobre o caso. Mas a
empresa dá sinais de que não
aceita a cláusula ao atribuir o
atraso na transferência das refinarias em parte às negociações inconclusas em torno do
contrato, segundo comunicado
difundido na semana passada.
Como é praxe nas negociações com a Petrobras, Morales
tem procurado a intermediação do governo Lula.
O ministro da Presidência,
Juan Ramón Quintana, ligou
na semana passada ao assessor
internacional de Lula, Marco
Aurélio Garcia, para debater o
assunto. Procurados pela reportagem da Folha ontem, nenhum deles foi localizado.
As refinarias foram adquiridas do Estado boliviano pela
Petrobras em 1999. Em maio
do ano passado, o governo Morales determinou a reestatização das duas no decreto de nacionalização. O processo de negociações já provocou duas crises diplomáticas entre e até a
demissão do então ministro
dos Hidrocarbonetos, Andrés
Soliz Rada, em setembro.
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