São Paulo, sexta-feira, 21 de julho de 2006

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Aumenta a proporção de trabalhadores mais velhos

Percentual de pessoas ocupadas acima de 50 anos passa de 15,4% para 18,1%

Estudo do IBGE mostra também que esse grupo populacional teve perdas salariais menores nos últimos quatro anos

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

A força de trabalho no Brasil está envelhecendo. De maio de 2002 a maio de 2006, o percentual de trabalhadores com mais de 50 anos entre o total de ocupados das seis maiores regiões metropolitanas subiu de 15,4% para 18,1%. Essa constatação é de estudo do IBGE divulgado ontem e realizado a partir da Pesquisa Mensal de Emprego.
Vários fatores ajudam a explicar esse fenômeno. O primeiro é que toda a população brasileira está também passando por um processo de envelhecimento, com o aumento na proporção de idosos sobre o total. Como a população, como um todo, envelhece, é de esperar que a força de trabalho também siga essa tendência.
É por isso que a participação dos mais velhos cresceu em todas as categorias pesquisadas pelo IBGE. Em março de 2002, por exemplo, o percentual de pessoas com mais de 50 anos em relação a toda a população em idade ativa era de 22,4%. Quatro anos depois, esse percentual aumentou para 25,3%.
Também cresceu a proporção dos com mais de 50 anos em relação ao total de desocupados -ou seja, os que procuraram emprego, mas não acharam- e em relação aos não-economicamente ativos, ou seja, aqueles que não trabalham nem procuraram emprego.
Além do envelhecimento populacional, também contribuiu para esse processo o impacto das recentes mudanças na legislação previdenciária, que elevaram a idade mínima para aposentadoria e aumentaram o tempo de contribuição.
Outra possível explicação é o fato de a população mais jovem estar adiando sua entrada no mercado de trabalho e ampliando o período de estudo. Com menos jovens no mercado, aumenta a participação dos mais velhos.
O pesquisador Marcelo de Ávila, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), identifica ainda um movimento de trabalhadores com mais de 50 anos que, por causa da insuficiência dos ganhos com aposentadoria ou para ajudar a completar a renda familiar, acabam voltando ao trabalho ou adiando a aposentadoria.
"Como a renda per capita média não está crescendo de maneira suficiente, muitos trabalhadores com mais de 50 anos podem ter voltado ao mercado para manter o padrão de vida das famílias", diz Ávila.
O grupo de trabalhadores com mais de 50 anos tem características específicas. Uma delas é a menor taxa de desemprego -de apenas 1,4%, ante 5,7% do total da população.
A principal explicação para essa taxa mais baixa é o fato de grande parte dessa população estar inativa e, mesmo assim, não procurar emprego, não configurando, portanto, desemprego para efeito do cálculo da taxa pelo IBGE. São pessoas que podem, por exemplo, já estar recebendo benefícios de aposentadoria.

Renda maior
Em maio de 2006, a renda do trabalho entre os que tinham mais de 50 anos era de R$ 1.401, valor 36% superior ao verificado, em média, entre o total de trabalhadores, que ficou em R$ 1.027 no mesmo mês.
A comparação da renda nos últimos quatro anos mostra que essa distância entre os mais velhos e o total aumentou bastante. De maio de 2002 a maio de 2006, todos os trabalhadores apresentaram queda em seu rendimento. A queda entre os que tinham mais de 50 anos foi de 12,7%, enquanto no total da população a baixa foi de 34,4%. É por isso que a diferença no salário desses dois grupos saltou de apenas 2,4% em maio de 2002 para os atuais 36%.
Segundo Maria Lúcia Vieira, analista da Pesquisa Mensal de Emprego, essa menor queda entre os mais velhos pode ser explicada, entre outros fatores, porque a proporção de empregadores, trabalhadores por conta própria e militares e funcionários públicos no total desse grupo é maior.


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