|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Consumo desacelera nas regiões Norte e Nordeste
Compra de itens como alimentos e higiene cresce 1% até maio, contra 6% no resto do país
Segundo economistas, fim do efeito do Bolsa Família e maior endividamento na compra de bens duráveis ajudam a explicar tendência
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de três anos de crescimento consecutivo, as regiões
Norte e Nordeste começam a
viver uma desaceleração no ritmo do consumo. Segundo a empresa de pesquisas LatinPanel,
o gasto médio das famílias com
70 categorias das cestas de alimentos, bebidas e higiene e
limpeza cresceu 1% nessas regiões, nos cinco primeiros meses do ano. No resto do país, a
expansão foi de 6% no período.
Outros indicadores confirmam o freio no crescimento
das duas regiões. De junho de
2006 a maio de 2007, o valor do
tíquete médio de compras das
famílias do Norte e do Nordeste
aumentou 1% quando comparado aos 12 meses anteriores.
Passou de R$ 9,11 para R$ 9,21.
No resto do país, o crescimento
foi de 5%, indo para R$ 10,30.
Além disso, o volume médio
dos produtos consumidos encolheu 2%, enquanto nas outras regiões do país subiu 2%.
O LatinPanel acompanha semanalmente o consumo de
8.200 domicílios no país.
Efeito reduzido
Economistas e empresários
apontam algumas hipóteses,
que acontecem simultaneamente, para a desaceleração do
crescimento. A primeira é o fim
do efeito do Bolsa Família. Para
eles, o ganho de renda dos beneficiados já foi incorporado, o
consumo mudou de patamar,
mas, sem uma política sustentável de geração de emprego e
renda, é impossível manter as
taxas de crescimento.
"Quando se tira alguma incerteza da economia, o efeito é
um salto imediato no consumo
para, depois, haver crescimento a taxas menores", afirma
Marcelo Neri, chefe do centro
de políticas sociais do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia),
da Fundação Getulio Vargas
(FGV). "Foi o que aconteceu
com o Plano Real e é o que se
passa com o Bolsa Família."
No Norte e no Nordeste, o
peso dos benefícios sociais é
mais importante do que no resto do país. Segundo a LatinPanel, enquanto 0,9% das famílias
brasileiras têm, nos auxílios
concedidos pelo governo, sua
principal fonte de renda, nessas
regiões o percentual é de 1,06%.
O aumento de 18,25% no Bolsa Família, que vigora em agosto, pode voltar a aquecer a economia da região. "O impacto
será grande pois a inflação dos
alimentos está alta e o Bolsa
Família não é reajustado desde
2003", diz Eduardo Fagnani,
professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Outro movimento importante que ajuda a explicar o freio
no crescimento do consumo é a
transferência de renda da população. Com a ida de empresas
para a região, houve um aumento no emprego. "Os empregados ficaram confiantes para
fazer carnês de prestação", afirma Osmar Sepúlveda, professor da UFBA (Universidade Federal da Bahia).
De acordo com Eugenio Foganholo, da consultoria Mixxer, com o comprometimento
da renda na compra de bens como telefones e móveis, o dinheiro para alimentos e bebidas diminuiu nessas regiões.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Roberto Rodrigues: Ceres Índice
|