São Paulo, sábado, 21 de julho de 2007

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Consumo desacelera nas regiões Norte e Nordeste

Compra de itens como alimentos e higiene cresce 1% até maio, contra 6% no resto do país

Segundo economistas, fim do efeito do Bolsa Família e maior endividamento na compra de bens duráveis ajudam a explicar tendência

CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de três anos de crescimento consecutivo, as regiões Norte e Nordeste começam a viver uma desaceleração no ritmo do consumo. Segundo a empresa de pesquisas LatinPanel, o gasto médio das famílias com 70 categorias das cestas de alimentos, bebidas e higiene e limpeza cresceu 1% nessas regiões, nos cinco primeiros meses do ano. No resto do país, a expansão foi de 6% no período.
Outros indicadores confirmam o freio no crescimento das duas regiões. De junho de 2006 a maio de 2007, o valor do tíquete médio de compras das famílias do Norte e do Nordeste aumentou 1% quando comparado aos 12 meses anteriores. Passou de R$ 9,11 para R$ 9,21. No resto do país, o crescimento foi de 5%, indo para R$ 10,30.
Além disso, o volume médio dos produtos consumidos encolheu 2%, enquanto nas outras regiões do país subiu 2%.
O LatinPanel acompanha semanalmente o consumo de 8.200 domicílios no país.

Efeito reduzido
Economistas e empresários apontam algumas hipóteses, que acontecem simultaneamente, para a desaceleração do crescimento. A primeira é o fim do efeito do Bolsa Família. Para eles, o ganho de renda dos beneficiados já foi incorporado, o consumo mudou de patamar, mas, sem uma política sustentável de geração de emprego e renda, é impossível manter as taxas de crescimento.
"Quando se tira alguma incerteza da economia, o efeito é um salto imediato no consumo para, depois, haver crescimento a taxas menores", afirma Marcelo Neri, chefe do centro de políticas sociais do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia), da Fundação Getulio Vargas (FGV). "Foi o que aconteceu com o Plano Real e é o que se passa com o Bolsa Família."
No Norte e no Nordeste, o peso dos benefícios sociais é mais importante do que no resto do país. Segundo a LatinPanel, enquanto 0,9% das famílias brasileiras têm, nos auxílios concedidos pelo governo, sua principal fonte de renda, nessas regiões o percentual é de 1,06%.
O aumento de 18,25% no Bolsa Família, que vigora em agosto, pode voltar a aquecer a economia da região. "O impacto será grande pois a inflação dos alimentos está alta e o Bolsa Família não é reajustado desde 2003", diz Eduardo Fagnani, professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Outro movimento importante que ajuda a explicar o freio no crescimento do consumo é a transferência de renda da população. Com a ida de empresas para a região, houve um aumento no emprego. "Os empregados ficaram confiantes para fazer carnês de prestação", afirma Osmar Sepúlveda, professor da UFBA (Universidade Federal da Bahia).
De acordo com Eugenio Foganholo, da consultoria Mixxer, com o comprometimento da renda na compra de bens como telefones e móveis, o dinheiro para alimentos e bebidas diminuiu nessas regiões.


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