São Paulo, sábado, 21 de julho de 2007

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Com nova fórmula, TR poderá voltar a aumentar

Cálculos mostram que, mesmo com diminuição dos juros, taxa pode não cair

Rendimento da poupança será maior quando os juros de mercado estiverem em 9,5% do que quando estiverem em 10%, segundo matemático

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As novas regras para o cálculo da TR anunciadas anteontem pelo Banco Central vão criar uma situação inusitada: a queda dos juros praticados no mercado não vão garantir, necessariamente, uma redução na Taxa Referencial.
É o que mostra uma simulação feita pelo matemático José Dutra Vieira Sobrinho. Graças à complicada fórmula usada pelo BC no cálculo da TR, o rendimento da poupança, por exemplo, será maior quando os juros de mercado estiverem em 9,5% ao ano do que quando estiverem em 10%.
O problema está na metodologia usada no cálculo. A TR é calculada a partir de um redutor aplicado sobre a TBF (Taxa Básica Financeira), que por sua vez corresponde ao rendimento médio dos CDBs (Certificados de Depósito Bancário) negociados por grandes bancos.
Para cada valor da TBF, é utilizado um redutor diferente -quanto mais baixa a taxa, menor o redutor. Essa diferenciação é feita por meio de faixas de 0,5 ponto percentual cada uma. Ou seja, quando a TBF está entre 10% e 10,5% ao ano, o redutor é um, quando está entre 9,5% e 10%, é outro, e assim por diante.
O que acontece é que, quando a TBF muda de faixa, a alteração sofrida pelo redutor é tão grande que inverte a trajetória da TR. Os cálculos feitos por Dutra mostram que, pelas regras atuais, a TR atinge seu valor mais baixo -0,60% num ano- quando a TBF estiver em 10% ao ano (hoje está em aproximadamente 11%).
Quando a TBF cai para 9,75% ao ano, a TR sobe e passa para 0,91%. O rendimento anual da poupança, nessa comparação, subiria de 6,80% para 7,13%. "Realmente, quando se trabalha com faixas [para a TBF], acontece isso", afirma o matemático.
Anteontem, o BC fixou novos critérios para o cálculo da TR para permitir que, num cenário de queda dos juros, o rendimento da caderneta de poupança se aproxime da rentabilidade oferecida por outras aplicações financeiras semelhantes, como os fundos DI e os de renda fixa.
O problema é que, diante dos níveis historicamente altos dos juros praticados no Brasil, não existia na fórmula usada pelo Banco Central um redutor que pudesse ser aplicado quando a TBF caísse para menos de 11% ao ano.
Como a TBF já chegou a 11%, foi preciso editar uma nova norma com parâmetros também novos para serem usados até que essa taxa caia para 9% ao ano. Além disso, determinou-se que, quanto mais baixa for a TBF, menor será o redutor.
Caso isso não fosse feito, corria-se o risco de a TR apresentar variações negativas à medida que os juros de mercado se reduzissem. A solução encontrada vai fazer com que distância entre a TR e os juros praticados no mercado diminua um pouco ao longo do tempo.
Por um lado, isso beneficia a caderneta de poupança, no entanto, também encarece um pouco as prestações da casa própria.
Para mostrar o efeito da medida para os mutuários, o matemático fez a seguinte simulação: caso o redutor utilizado atualmente fosse mantido quando a TBF chegasse a 10% ao ano, a TR acumularia, no período de um ano, variação de 0,5%. Com os novos parâmetros, essa oscilação seria de 0,6%. Ou seja, para alguém com uma prestação mensal de R$ 1.000, a diferença no reajuste anual seria de R$ 1.
Dutra ressalta ainda que a mudança anunciada pelo BC não irá aumentar os índices de reajustes dos empréstimos habitacionais. O que irá acontecer é que os juros desses financiamentos irão cair de forma mais lenta à medida que a TBF for se reduzindo.


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