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Com nova fórmula, TR poderá voltar a aumentar
Cálculos mostram que, mesmo com diminuição dos juros, taxa pode não cair
Rendimento da poupança
será maior quando os juros de mercado estiverem em 9,5% do que quando estiverem em 10%, segundo matemático
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As novas regras para o cálculo da TR anunciadas anteontem pelo Banco Central vão
criar uma situação inusitada: a
queda dos juros praticados no
mercado não vão garantir, necessariamente, uma redução na
Taxa Referencial.
É o que mostra uma simulação feita pelo matemático José
Dutra Vieira Sobrinho. Graças
à complicada fórmula usada
pelo BC no cálculo da TR, o rendimento da poupança, por
exemplo, será maior quando os
juros de mercado estiverem em
9,5% ao ano do que quando estiverem em 10%.
O problema está na metodologia usada no cálculo. A TR é
calculada a partir de um redutor aplicado sobre a TBF (Taxa
Básica Financeira), que por sua
vez corresponde ao rendimento médio dos CDBs (Certificados de Depósito Bancário) negociados por grandes bancos.
Para cada valor da TBF, é utilizado um redutor diferente
-quanto mais baixa a taxa, menor o redutor. Essa diferenciação é feita por meio de faixas de
0,5 ponto percentual cada uma.
Ou seja, quando a TBF está entre 10% e 10,5% ao ano, o redutor é um, quando está entre
9,5% e 10%, é outro, e assim por
diante.
O que acontece é que, quando a TBF muda de faixa, a alteração sofrida pelo redutor é tão
grande que inverte a trajetória
da TR. Os cálculos feitos por
Dutra mostram que, pelas regras atuais, a TR atinge seu valor mais baixo -0,60% num
ano- quando a TBF estiver em
10% ao ano (hoje está em aproximadamente 11%).
Quando a TBF cai para 9,75%
ao ano, a TR sobe e passa para
0,91%. O rendimento anual da
poupança, nessa comparação,
subiria de 6,80% para 7,13%.
"Realmente, quando se trabalha com faixas [para a TBF],
acontece isso", afirma o matemático.
Anteontem, o BC fixou novos
critérios para o cálculo da TR
para permitir que, num cenário
de queda dos juros, o rendimento da caderneta de poupança se aproxime da rentabilidade oferecida por outras aplicações financeiras semelhantes, como os fundos DI e os de
renda fixa.
O problema é que, diante dos
níveis historicamente altos dos
juros praticados no Brasil, não
existia na fórmula usada pelo
Banco Central um redutor que
pudesse ser aplicado quando a
TBF caísse para menos de 11%
ao ano.
Como a TBF já chegou a 11%,
foi preciso editar uma nova
norma com parâmetros também novos para serem usados
até que essa taxa caia para 9%
ao ano. Além disso, determinou-se que, quanto mais baixa
for a TBF, menor será o redutor.
Caso isso não fosse feito, corria-se o risco de a TR apresentar variações negativas à medida que os juros de mercado se
reduzissem. A solução encontrada vai fazer com que distância entre a TR e os juros praticados no mercado diminua um
pouco ao longo do tempo.
Por um lado, isso beneficia a
caderneta de poupança, no entanto, também encarece um
pouco as prestações da casa
própria.
Para mostrar o efeito da medida para os mutuários, o matemático fez a seguinte simulação: caso o redutor utilizado
atualmente fosse mantido
quando a TBF chegasse a 10%
ao ano, a TR acumularia, no período de um ano, variação de
0,5%. Com os novos parâmetros, essa oscilação seria de
0,6%. Ou seja, para alguém com
uma prestação mensal de R$
1.000, a diferença no reajuste
anual seria de R$ 1.
Dutra ressalta ainda que a
mudança anunciada pelo BC
não irá aumentar os índices de
reajustes dos empréstimos habitacionais. O que irá acontecer
é que os juros desses financiamentos irão cair de forma mais
lenta à medida que a TBF for se
reduzindo.
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