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São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 2003

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Governo indica desejo, mas não interfere no Copom

Antes da reunião do BC, Lula sinalizou apoio a corte maior

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central de baixar os juros em 2,5 pontos percentuais, a taxa básica (Selic) caiu exatamente aquilo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a cúpula do governo achavam que poderia cair.
Lula não estava satisfeito com o chamado gradualismo do BC, apesar de tomar o cuidado de não expressar isso publicamente.
A Folha apurou que não houve interferência direta do presidente nem do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, para ditar o tamanho da queda dos juros.
Houve, porém, uma sinalização interna da cúpula do governo para o BC de que talvez tivesse chegado a hora de maior ousadia na redução da taxa de juros. Falava-se, no Planalto, que uma queda entre 2 e 2,5 pontos percentuais seria bem recebida, como revelou a Folha anteontem.
Na segunda-feira, quando viajaram juntos, Lula e Palocci conversaram sobre dar um sinal ao setor produtivo de que a política econômica tem como finalidade promover o crescimento econômico.
A avaliação do "núcleo duro" do governo -o grupo de ministros e auxiliares petistas mais próximos ao presidente que discute as diretrizes da administração Lula- é que Meirelles e o Copom "captaram", na expressão ouvida pela Folha no Planalto, o desejo de maior ousadia na queda dos juros. Há uma preocupação do ministro Palocci de não carimbar o Copom como órgão sujeito à manipulação política. Isso é fato. Mas também é fato que há uma discussão econômica feita no principal gabinete do Planalto que chega ao BC.
Mais: a decisão de ontem é mais uma demonstração de que a chamada "fase 2" do governo Lula na economia, que inclui gastos maiores no Orçamento de 2004 e outras medidas de estímulo ao setor produtivo, será realmente feita sob o comando de Palocci.
Ou seja, se Palocci foi o homem do ajuste fiscal, será o condutor das medidas de incentivo ao crescimento econômico. No fundo, é parte da estratégia de Lula para fortalecer o ministro da Fazenda, que vem sendo criticado desde o início do ano por setores do próprio PT e do governo.
O presidente espera que, com a queda de ontem, críticos de Palocci como o vice-presidente José Alencar diminuam o fogo cerrado sobre o ministro e o Copom. Procurado ontem, Alencar não quis falar sobre a redução dos juros.
Com a decisão de ontem, pensa Lula, o próprio Copom terá mais tranquilidade para suas reuniões mensais. Desde o começo do governo, esses encontros são cercados de expectativas e são feitos sob o tiroteio dos insatisfeitos com os juros altos, mecanismo usado para combater a inflação, mas que, ao mesmo tempo, desaquece a economia.
Na avaliação do "núcleo duro", a redução dos juros tem o valor simbólico de deixar a taxa no patamar de novembro passado, logo após a eleição de Lula. Ou seja, após uma crise cambial e as previsões de inflação alta, seria a evidência de que Lula teria vencido a pior etapa na economia e de que estaria sinalizando agora que um dia chegará o prometido "espetáculo do crescimento".
Outro impacto simbólico: a queda de ontem mostraria que o órgão não age a reboque do mercado financeiro, que apostava em um corte de 1,5 ponto percentual.


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