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Governo indica desejo, mas não interfere no Copom
Antes da reunião do BC, Lula sinalizou apoio a corte maior
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do
Banco Central de baixar os juros
em 2,5 pontos percentuais, a taxa
básica (Selic) caiu exatamente
aquilo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a cúpula do governo achavam que poderia cair.
Lula não estava satisfeito com o
chamado gradualismo do BC,
apesar de tomar o cuidado de não
expressar isso publicamente.
A Folha apurou que não houve
interferência direta do presidente
nem do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, para ditar o
tamanho da queda dos juros.
Houve, porém, uma sinalização
interna da cúpula do governo para o BC de que talvez tivesse chegado a hora de maior ousadia na
redução da taxa de juros. Falava-se, no Planalto, que uma queda
entre 2 e 2,5 pontos percentuais
seria bem recebida, como revelou
a Folha anteontem.
Na segunda-feira, quando viajaram juntos, Lula e Palocci conversaram sobre dar um sinal ao setor
produtivo de que a política econômica tem como finalidade promover o crescimento econômico.
A avaliação do "núcleo duro"
do governo -o grupo de ministros e auxiliares petistas mais próximos ao presidente que discute
as diretrizes da administração Lula- é que Meirelles e o Copom
"captaram", na expressão ouvida
pela Folha no Planalto, o desejo
de maior ousadia na queda dos
juros. Há uma preocupação do
ministro Palocci de não carimbar
o Copom como órgão sujeito à
manipulação política. Isso é fato.
Mas também é fato que há uma
discussão econômica feita no
principal gabinete do Planalto
que chega ao BC.
Mais: a decisão de ontem é mais
uma demonstração de que a chamada "fase 2" do governo Lula na
economia, que inclui gastos
maiores no Orçamento de 2004 e
outras medidas de estímulo ao setor produtivo, será realmente feita
sob o comando de Palocci.
Ou seja, se Palocci foi o homem
do ajuste fiscal, será o condutor
das medidas de incentivo ao crescimento econômico. No fundo, é
parte da estratégia de Lula para
fortalecer o ministro da Fazenda,
que vem sendo criticado desde o
início do ano por setores do próprio PT e do governo.
O presidente espera que, com a
queda de ontem, críticos de Palocci como o vice-presidente José
Alencar diminuam o fogo cerrado
sobre o ministro e o Copom. Procurado ontem, Alencar não quis
falar sobre a redução dos juros.
Com a decisão de ontem, pensa
Lula, o próprio Copom terá mais
tranquilidade para suas reuniões
mensais. Desde o começo do governo, esses encontros são cercados de expectativas e são feitos
sob o tiroteio dos insatisfeitos
com os juros altos, mecanismo
usado para combater a inflação,
mas que, ao mesmo tempo, desaquece a economia.
Na avaliação do "núcleo duro",
a redução dos juros tem o valor
simbólico de deixar a taxa no patamar de novembro passado, logo
após a eleição de Lula. Ou seja,
após uma crise cambial e as previsões de inflação alta, seria a evidência de que Lula teria vencido a
pior etapa na economia e de que
estaria sinalizando agora que um
dia chegará o prometido "espetáculo do crescimento".
Outro impacto simbólico: a
queda de ontem mostraria que o
órgão não age a reboque do mercado financeiro, que apostava em
um corte de 1,5 ponto percentual.
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