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LUÍS NASSIF
Selic e o câmbio
Se se pretende que o Banco Central se torne um
articulador de expectativas,
é óbvio que a decisão de derrubar em 2,5 pontos percentuais a taxa Selic não foi bem
implementada. Não pela
queda em si, tardia, mas pelo
discurso prévio de gradualismo. Passa-se a semana com o
discurso do gradualismo, induzem-se as expectativas do
mercado para corte de 1,5
ponto -que caracterizaria o
tal gradualismo- e cortam-se 2,5 pontos.
Aliás, esses movimentos do
mercado, de ir atrás dos sinais do Banco Central, demonstram claramente que o
sistema de pesquisas Focus
tem um viés que deforma
completamente o modelo. O
mercado não diz o que acha
que deva ser a taxa esperada,
mas o que acha que o Copom
acha que deva ser a taxa futura.
De qualquer modo, foi um
capítulo importante para
romper, ainda que tardiamente, com a inércia antiinflacionária do Banco Central. Agora, abre-se espaço
para um sopro de crescimento na economia brasileira
enquanto não se criam as
condições estruturais para
um crescimento sustentado.
O fim da rigidez incompreensível do Copom (Comitê de Política Monetária do
Banco Central) na questão
da taxa Selic e a flexibilização do compulsório, somados a uma exploração política bem-feita da aprovação
das reformas, poderão criar
as condições pelo menos para uma inversão pequena do
atual clima recessivo.
Em alguns círculos do governo, trabalha-se com o seguinte cenário:
1) faltava a condição prévia, uma queda mais substantiva da taxa Selic para
não apenas amenizar o quadro econômico mas principalmente criar um fato psicológico que motive o empresário. Mesmo antes da flexibilização do compulsório,
existia dinheiro sobrando
nos bancos por falta de tomador -em razão de taxas
altas, mas, especialmente, de
falta de confiança na atividade econômica. Portanto o
fator psicológico é essencial
para inverter o clima de recessão;
2) os passos seguintes consistem em colocar na rua ferramentas que possibilitem
uma rápida expansão do
crédito popular. Uma delas é
a autorização para o desconto em folha de trabalhadores
do setor privado. Outra é a
regulamentação dos fundos
de recebíveis, que permitirá
à indústria de fundos garantir "funding" para financeiras;
3) considera-se que o país
carece de infra-estrutura para processos mais longos de
crescimento. Mas que, no
curto prazo, haveria espaço
para um crescimento sustentado no consumo popular,
devido à capacidade ociosa
do setor de roupas e alimentos.
O nó maior continua sendo
a frente cambial. Ainda não
há noção clara dos efeitos da
apreciação cambial sobre o
superávit comercial. O país
continua vulnerável. Nesses
setores do governo, há fé de
que a seca norte-americana
dará uma sobrevida às cotações de soja, permitindo sustentar um pouco mais os superávits.
O prazo que o governo terá
para implementar políticas
estruturantes será dado pelas contas externas. Se o déficit externo voltar, qualquer
tentativa de crescimento terá
que ser abortada para impedir sua ampliação.
Essa será a variável-chave
dos próximos meses.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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