São Paulo, segunda-feira, 21 de agosto de 2006

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Bancos adiam revisão do IPCA de 2007

Instituições financeiras, que esperam inflação na meta de 4,5% ou abaixo, devem deixar revisão para o ano que vem

Decisão de adiar queda das projeções deve significar uma pressão menor sobre o Banco Central pela redução da taxa básica de juros

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Entre setembro e outubro, economistas de instituições financeiras consultadas pelo Banco Central costumam ajustar suas projeções para a inflação do ano seguinte. Mas, desta vez, muitos analistas estão jogando para 2007 a revisão da expectativa para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) do ano que vem.
Como o Banco Central usa as expectativas do mercado em seus modelos para definição da taxa de juros, caso as projeções para a inflação recuassem a partir de setembro, a taxa básica de juros poderia cair mais para atingir a meta de 4,5%, estipulada pelo governo.
"A nossa projeção só será alterada à medida que se conheça mais o caminho que o Banco Central adotará para a queda da taxa Selic, e que os fatores de curto prazo passem a ser mais relevantes que a política monetária na determinação da inflação, o que só tende a ocorrer por volta de março do ano que vem", diz Sérgio Werlang, diretor do Banco Itaú.
Dentro do atual consenso de mercado, a projeção da inflação para 2007 do Itaú é 4,5%.
"Como o Banco Central tem mostrado enorme persistência em atingir o centro da meta, e há tempo suficiente para que a queda da taxa Selic possa ser escolhida de forma que o centro da meta seja obtido, nada indica que devamos ter uma projeção para 2007 diferente do centro da meta", diz Werlang. "Uma expectativa abaixo da meta faz com que, no modelo usado no Itaú, as taxas de juros possam cair mais para que a meta de 4,5% seja atingida."
Para Caio Megale, economista da Mauá Investimentos, diferentemente dos anos anteriores, as instituições financeiras vão demorar para rever a projeção para 2007 por causa dos preços administrados, como tarifas públicas, que são preços muito influenciados pela inflação do ano anterior.
"A inflação não está surpreendendo para baixo. O IGP [Índice Geral de Preços] está compatível com a meta de 4,5%", diz Megale, que também estima 4,5% no IPCA de 2007.
No ano passado, as projeções começaram a cair por causa dos preços administrados. O IGP mostrou-se muito mais baixo do que o esperado, e economistas reduziram a projeção de administrados para 2006, e, conseqüentemente, a do IPCA. "As projeções de administrados para 2007, em torno de 4%, são justas; dificilmente teremos revisões antes de 2007", diz.
O Bradesco, porém, prevê que a inflação do ano que vem deve ficar "abaixo da meta novamente, em torno de 4,30%", segundo relatório do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do banco.
"Se economistas começarem a baixar suas expectativas para 4,4%, 4,35%, o BC terá mais um incentivo para baixar a taxa de juros, mas não acho que isso vá ocorrer até a próxima reunião do Copom [Comitê de Política Monetária]. Sem esse incentivo adicional, o BC já vem sinalizando uma redução de 0,25 ponto percentual, o que é uma pena. Há espaço para cair meio ponto", diz Megale. "Depois, o Copom deve cortar mais 0,25 ponto percentual por reunião, até o fim do ano", afirma.
"Minha expectativa pessoal é uma queda de 0,5% e duas de 0,25%. Este é o meu ponto de vista, e não o do Banco Itaú", observa Werlang.
Nem ele, que foi diretor do Banco Central e introdutor do regime de metas no Brasil, sabe qual o peso das expectativas nos modelos usados hoje pelo BC. "Não tenho idéia de como o Banco Central faz." Para Werlang, a autoridade monetária deveria abrir seus modelos.


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