São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 2008

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Risco é afugentar investidores, afirma Gros

DA SUCURSAL DO RIO

A trajetória profissional do economista carioca Francisco Gros é marcada por importantes cargos públicos, em governos e conjunturas políticas muito distintos. No fim do anos 70, ainda sob o general Ernesto Geisel, Gros foi diretor da Comissão de Valores Mobiliários.
Depois, diretor e presidente do BNDES e, por duas vezes, presidente do Banco Central. Seu último cargo público foi a presidência da Petrobras, que deixou em dezembro de 2002. Hoje, Gros é presidente do Conselho de Administração da OGX, criada por Eike Batista para investir na exploração e na produção de petróleo. Apesar do tombo no valor das ações desde o maior IPO (oferta pública inicial de ações) da história da Bovespa, há três meses, Gros afirma que os planos de expansão da OGX estão firmes. E incluem, no futuro, as áreas do pré-sal. Mas faz uma advertência: o perigo da euforia é esquecer que extrair petróleo a 7.000 metros de profundidade exigirá muito dinheiro -e investimentos privados. (ROBERTO MACHADO)

 

FOLHA - Como o senhor vê a discussão sobre mudanças no marco regulatório do petróleo?
FRANCISCO GROS
- Existem três grandes discussões. A primeira é a confirmação de que o país quer, efetivamente, desenvolver suas reservas de petróleo o mais rapidamente possível, criando riqueza no menor prazo possível. A segunda é saber como vamos desenvolver essas reservas, e aí entra a proposta de criar uma nova estatal, o papel que a Petrobras terá, o modelo que será adotado. A terceira discussão é: como o governo vai viabilizar a sua taxação, qual será a sua participação nessa riqueza e como vai distribuí-la.

FOLHA - Ainda não há respostas oficiais para essas questões....
GROS
- No primeiro tema, não há discussão: vamos desenvolver as reservas. No terceiro, é uma decisão política, cabe apenas ao governo decidir o que fará com a riqueza. Para nós, investidores, a questão está centrada no segundo ponto: como desenvolver as reservas. Há algo fundamental sendo esquecido: como e quem vai financiar.
O desenvolvimento das reservas do pré-sal exigirá dezenas de bilhões de dólares.

FOLHA - Como vê a proposta de criar nova estatal do pré-sal?
GROS
- Não consigo me emocionar com essa discussão. Essa estatal não será operadora. Não vamos criar uma nova Petrobras. Discute-se o instrumento de gestão da riqueza petrolífera. Nesse caso, pode-se tanto criar uma estatal, como fez a Noruega, como simplesmente abrir conta corrente no Tesouro. É uma providência contábil.

FOLHA - Há implicação política...
GROS
- No Brasil, a gente adora uma estatalzinha. Mas o que interessa são as definições: produzir o petróleo, quanto vai para o Estado, como transformar isso em dinheiro e onde colocá-lo. O fundamental é atrair investimentos.

FOLHA - Há cenário ameaçador para a continuidade do investimento?
GROS
- O que me preocupa é esse clima de euforia em que estamos. Dizem: "São 100 bilhões de barris, vamos entrar para a Opep, somos a nova Arábia Saudita!". Estamos esquecendo que o custo de extração na Arábia Saudita é de menos de US$ 1 por barril. Aqui, estamos falando em reservatórios a mais de 200 quilômetros da costa e a 7.000 metros de profundidade. É muito caro e complexo produzir esse petróleo e trazê-lo para terra firme. Não dá pra confundir com a Arábia Saudita. O risco é aumentar a taxação a um ponto em que não haverá investimento.

FOLHA - Uma mudança do modelo para exploração pode atrapalhar?
GROS
- O modelo atual é extremamente flexível: prevê sistema de leilão aberto em que todos participam e pode sofrer ajustes mediante decreto presidencial. É mais do que razoável que o governo queira aumentar sua participação especial, mas isso é compatível com o modelo atual.


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