São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 2008

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Múlti francesa vai produzir e vender fertilizante no país

Dreyfus fará parcerias e aquisições e pretende ter 8% do mercado em até três anos

Insumo, usado como moeda de troca na compra de safras, é considerado estratégico; mercado deve crescer 5,5% neste ano

Divulgação
Usina de cana-de-açúcar Rio Brilhante (MS), que será inaugurada hoje pela Louis Dreyfus

FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Louis Dreyfus, uma das maiores empresas de commodities agrícolas do país, vai entrar no mercado brasileiro de fertilizantes, setor que movimentou R$ 17 bilhões no ano passado e deve crescer 5,5%, em volume, neste ano.
De origem francesa, a Dreyfus quer produzir 2 milhões de toneladas anuais de fertilizantes no Brasil em dois a três anos, o que significaria participar hoje com 8% do mercado brasileiro, estimado em 26 milhões de toneladas em 2008.
"A entrada no mercado de fertilizantes é essencial para a nossa cadeia de negócios", diz Kenneth Geld, presidente da Louis Dreyfus no país. O grupo, que atua nos mercados de soja, suco de laranja, açúcar e álcool, algodão, café e milho, consome 140 mil toneladas por ano de fertilizantes, volume que deve subir para 200 mil toneladas anuais até 2010.
Para entrar na produção e na comercialização de fertilizantes, a Dreyfus, que estima faturar US$ 4,3 bilhões no país neste ano, está formando parcerias com as chamadas misturadoras nacionais, as empresas que misturam nitrogênio, fosfato e potássio para produzir fertilizantes ou adubos.
A idéia é ainda adquirir misturadora já existente no mercado brasileiro, "que pode estar em áreas que vão do Rio Grande do Sul ao sul da Bahia". Cerca de 120 empresas misturam e comercializam fertilizantes no país -a maioria é formada por misturadoras regionais.
O fertilizante é um insumo importante e usado pelo setor de commodities como moeda de troca com safras futuras. "Vemos esse mercado de escambo com grande potencial e atuaremos com importação, mistura e distribuição. Um terço da soja e do algodão é comercializado para os nossos concorrentes na base de troca."
O Brasil é mais importador do que produtor dos três insumos usados para produção de fertilizantes, segundo a Anda, associação das empresas produtoras e comercializadoras de fertilizantes. No caso do nitrogênio, a importação equivale a 70% do consumo brasileiro; no do fosfato, a 50%; e, no do potássio, a 90%, diz a associação.

Mercado interno
Geld diz que o que mais motivou a Dreyfus a entrar no ramo de fertilizantes foi a expansão do mercado interno, provocada pela alta do consumo de commodities, e a necessidade comercial de contar com esse instrumento para ajudar na compra de soja e de algodão. "Nossos concorrentes já fazem isso."
O presidente do grupo diz que os preços dos fertilizantes triplicaram nos últimos dois anos e esse é um insumo "que se tornou absolutamente crítico em termos de como ele é adquirido. Na medida em que o produtor compra o insumo em um momento, dada a grande alta de preço, ele fica entre o lucro e o prejuízo", afirma. A Dreyfus quer que o Brasil e a Argentina concentrem a produção de fertilizantes.
O Brasil, segundo a Anda, é o quarto maior consumidor mundial de fertilizantes, atrás da China, Índia e Estados Unidos. Depois de enfrentar queda de consumo em 2005 e em 2006 por conta da taxa de câmbio, ferrugem na soja e seca no Rio Grande do Sul, o setor voltou a se recuperar em 2007 e neste ano. Segundo a Anda, de janeiro a julho deste ano, as entregas de fertilizantes somaram 13,9 milhões de toneladas, um crescimento de 20% sobre igual período do ano passado.
"A expectativa do setor é um crescimento entre 5% e 5,5% neste ano", afirma Eduardo Daher, diretor-executivo da associação. Com a expansão do consumo de fertilizantes no país, o governo cogita definir políticas para reduzir a dependência de importação de insumos usados na produção de fertilizantes.
"Até recentemente, quando os preços dos fertilizantes estavam confortáveis, em 2005 e 2006, ninguém se comovia e não investia no setor. Agora, a situação é outra, por causa do crescimento do agronegócio. O Brasil quer desenvolver a produção dos três insumos usados na produção de fertilizantes, mas essa é política de mais longo prazo", afirma Daher.


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