São Paulo, sexta-feira, 21 de agosto de 2009

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VINICIUS TORRES FREIRE

"Petrobras, mon amour..."


Temos de "amar e defender" a Petrobras, diz Lobão em prévia do que deve ser a baboseira nacionalista do pré-sal luliano


A PETROBRAS deve receber o afeto que se encerra em nosso peito juvenil, tal qual um símbolo da amada terra do Brasil, a bandeira nacional, segundo Edison "Olavo Bilac" Lobão, ministro de Minas e Energia ontem travestido de poeta parnasiano e autor redivivo de discursos de moral e cívica dos dias da ditadura a que serviu. O espírito do autor do "Hino à Bandeira" baixou no ministro, que comparou a petroleira estatal ao "lindo pendão da esperança". "A Petrobras é um símbolo nacional que se confunde com a bandeira do Brasil. Temos, portanto, o dever de não só amá-la mas de defendê-la dos acidentes e gestos de malquerença que muitas vezes se expressam", disse. Malmequer, ministro.
Lobão teve tal inspiração na festa da firma BR Distribuidora, empresa da Petrobras, que se despedia do seu ex-presidente, agora presidente do PT, e empossava o sucessor. A fala do ministro soou como uma prévia do que podemos começar a ouvir na Semana da Pátria, que será imediatamente antecedida pela divulgação das novas leis do petróleo e da estratégia de exploração do pré-sal, prevista agora para o dia 31 deste mês.
Isto é, a não ser que a briga de foice política que se tornou a discussão luliana do pré-sal não atrase de novo o lançamento dessa campanha nacionalista, estatista e populista, também uma prévia de Dilma 2010. Lula fez a discussão do pré-sal a portas fechadas. Quer aprovar as novas leis do petróleo o quanto antes, em tramitação urgente, de 90 dias, a fim de evitar discussão maior e críticas (ontem mesmo, aliás, Lula dizia que "oposição é uma doença crônica"; falta dizer agora que a democracia é um sintoma funesto). Lula não abriu consultas públicas para debater as leis do pré-sal. "O petróleo é nosso", a lei é dele.
Nos vazamentos de notícias mais recentes sobre os projetos de leis do pré-sal, ainda muito confusos e contraditórios, o que mais se destaca é a politicalha que deve dar o tom da tramitação do assunto no Congresso. Pode-se ouvir de dois ministros envolvidos na discussão que o assunto "a" ou "b" está resolvido. Para no dia seguinte um terceiro ministro dizer que nada está fechado. E, em seguida, receber a ligação de fulano ou sicrano oficial, tentando plantar seu lobby, anunciando "uma decisão sedimentada no governo".
No governo, na verdade, há partidos. O partido da Petrobras e o partido da Petrosal, além partidos nanicos, como o da ANP etc. (Lobão disse ontem também que a "Petrobras está sendo prestigiada em todos os aspectos"). Discute-se a divisão da eventual renda do petróleo com a repartição de um butim entre Estados e municípios, debate restrito por ora a aliados políticos de Lula. Os detalhes que importam, técnicos, financeiros, estratégicos, tudo isso aparecerá dentro do pacote verde-amarelo de sal grosso que Lula vai soltar no final do mês.
"Contemplando o teu vulto sagrado,/ Compreendemos o nosso dever;/ E o Brasil, por seus filhos amado, /Poderoso e feliz há de ser", dizia o pobre Bilac sobre a bandeira, imagem de epifania a que Lobão não recorreu. Mas talvez ainda apareça alguém para dizer que a obra luliana da nação petroleira poderosa e feliz deve nos fazer compreender o nosso dever. A besteira é montante.

vinit@uol.com.br


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