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Com preços em queda, setor agrícola prevê nova crise
Excesso de oferta deve derrubar cotações de soja e milho e reduzir ganhos de produtores
Especialistas estimam que preços da soja poderão cair quase 50% na nova safra; com estoque maior, China ganha poder de barganha
RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ
É "muito elevado" o risco de
o setor agrícola brasileiro enfrentar uma nova e severa crise
na safra 2009/2010. A projeção
foi apresentada ontem pelo engenheiro agrônomo André Pessôa, diretor da consultoria
Agroconsult, durante palestra
na 3ª Bienal dos Negócios da
Agricultura, em Cuiabá (MT).
De acordo com ele, o pessimismo resulta da previsão de
volumosas safras de soja e milho de Brasil, EUA e Argentina
e, ao mesmo tempo, dos efeitos
da crise mundial sobre a demanda e de uma mudança de
estratégia da China, que ampliou seus estoques e fortaleceu
seu poder de barganha.
Mantida a atual tendência, os
preços da soja deverão despencar de um patamar de US$ 11
por bushel (medida americana
que equivale a 27,2 quilos) para
até US$ 6 o bushel.
No caso do milho, o analista
americano Darin Newson, também presente ao evento, estimou a possibilidade de o preço
à vista do bushel ficar abaixo do
piso de US$ 2,30 registrado em
2006. Os EUA, segundo Newson, devem colher a segunda
maior safra de milho da história. "Não é uma boa notícia para
os produtores", afirmou.
Para a soja, as previsões para
a próxima safra americana são
de uma colheita superior a 85
milhões de toneladas. Na Argentina, a área plantada deverá
crescer 3,9 milhões de hectares
e a produção saltar de 32 milhões de toneladas para até 55
milhões de toneladas na safra
2009/2010. E o Brasil estima
colher 13% a mais: 64 milhões
de toneladas.
"A soja preocupa muito por
esse excesso de oferta que certamente teremos no mercado
internacional e pelos níveis de
margem que serão obtidos pelos produtores. Quem não conseguiu antecipar a venda vai
correr um risco muito elevado", disse André Pessôa.
A queda nos preços, segundo
ele, deverá causar maior impacto nas regiões onde o custo de
produção é mais elevado, caso
do Centro-Oeste brasileiro.
De acordo com o consultor,
os produtores poderão ter de
trabalhar com margens "extremamente apertadas" e, no caso
de MT, com prejuízo. O motivo
é o que ele chamou de "crise
crônica de infraestrutura", que
faz subir os custos de produção.
"Nos EUA, o bushel a US$ 8
não significará uma crise de
renda, pois a margem continuará ainda muito boa. Na Argentina, não fossem as retenções [impostos sobre as exportações de soja, trigo, milho e girassol] tão elevadas, esses preços também seriam muito
bons. No Brasil, simplesmente
não vai dar", afirmou.
Nos últimos anos, segundo o
consultor, a agricultura brasileira vem se mantendo à custa
"da desgraça alheia". Ele citou
casos recentes como a quebra
da última safra na Argentina e a
elevação do dólar no início da
crise financeira mundial.
"Isso significa que, para nós,
qualquer preço que não seja excepcional será insuficiente. Então não há sustentabilidade em
um negócio que dependa sempre de algo excepcional. Quando está muito bom, eu sobrevivo. Quando não está muito
bom, eu morro", disse.
Rui Prado, presidente da Famato (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso),
disse que as circunstâncias
obrigarão o produtor a acompanhar as oscilações do mercado e comercializar lotes menores para aproveitar margens
positivas. "Mercado é algo que
está além da nossa eficiência da
porteira para dentro", disse.
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