São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 2005

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FOSSO

Contra desigualdade, Bird recomenda acesso a crédito e políticas antidiscriminatórias e pede fim de subsídios nos países ricos

Banco prega "revolução pró-mercado"

DO ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Os economistas do Banco Mundial descartam uma "revolução à cubana" para diminuir os níveis de desigualdade em países como o Brasil. Dizem preferir o que chamam de "revolução paciente e pró-mercado".
O problema é que, além das recomendações diretas que fazem aos próprios países, todas as demais sugestões que envolvem o trabalho da própria instituição são contrárias ao que pensam seus principais sócios -os países ricos, tendo os EUA à frente.
Na lista de sugestões do Bird há, por exemplo, dois pontos centrais absolutamente contrários ao que pregam os países desenvolvidos, como a permissão para que um maior número de imigrantes de nações pobres trabalhe no mundo rico e a liberalização do comércio mundial com o fim dos subsídios agrícolas.
O Banco Mundial também sugere o aumento da ajuda financeira aos países mais pobres. Na semana passada, durante reunião das Nações Unidas em Nova York, por pressão dos EUA os países-membros do órgão não adotaram um compromisso mais firme nesse sentido em documento final do encontro.
Mas as principais recomendações do Bird são no sentido de que os próprios países interessados adotem reformas capazes de reduzir os níveis de desigualdade.
O economista Michael Walton, co-autor do estudo, insere o Brasil na categoria de países que poderão diminuir suas iniqüidades sociais "no longo prazo", mesmo levando em conta a massificação de programas de renda mínima aos mais necessitados.
Na sua opinião, países como Coréia do Sul, Indonésia e China já fizeram ou vem fazendo esse trabalho de maneira mais veloz por meio de "grandes esforços" na área educacional.
Em uma perspectiva histórica, Walton afirma que EUA e Canadá, por exemplo, estavam há cem anos em condições semelhantes às das demais nações latino-americanas.
Segundo ele, os dois países se desenvolveram rapidamente utilizando as mesmas políticas que o banco recomenda hoje: mais serviços básicos, acesso a crédito, infra-estrutura e terra e políticas antidiscriminatórias.
O economista Francisco Ferreira afirma que, no caso brasileiro, é "insustentável" qualquer esforço de aumentar a ajuda social por meio de uma elevação da carga tributária, já muito alta.
Hoje, boa parte do gasto dito "social" no Brasil não chega necessariamente às pessoas mais necessitadas, já que nessa conta estão incluídos as despesas com a Previdência Social.
"O sistema previdenciário precisa de uma reforma ampla para que haja uma redefinição dos subsídios", diz Ferreira.
As mudanças previdenciárias aprovadas no primeiro ano do governo Lula são consideradas insuficientes para atingir esses objetivos. (FERNANDO CANZIAN)


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