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LUÍS NASSIF
A sinuca do Banco Central
Nesta semana -se não
houver recuo das par
tes-, o Banco Central será literalmente colocado em uma sinuca de bico. Trata-se da operação de compra do Banco Pactual pela Goldman Sachs.
Depois das últimas colunas
aqui publicadas, a Goldman
Sachs resolveu se precaver e vai
conversar pessoalmente com o
BC sobre os problemas enfrentados na "due diligence", ocorrida no processo de negociações
com o Pactual.
Como já se informou na coluna, os mesmos controladores
do Pactual possuem um banco
nas Bahamas, o POBT. Durante anos e anos, todos os lucros
do Pactual eram transferidos
para o POBT de uma maneira
explícita de burla fiscal. Todos
os gastos eram lançados sobre o
Pactual brasileiro; todos os lucros, sobre o POBT, que, como
está em um paraíso fiscal, não
paga impostos. Foi evasão fiscal e cambial na veia, em um
processo sistemático, de anos,
ao qual o BC fechou os olhos.
Nesta semana, a Goldman e o
presidente do Pactual, André
Esteves, deverão se encontrar
com o diretor de Normas e Organização do Sistema Financeiro do Banco Central, Sérgio
Darcy. Será uma conversa curiosa. Nela, a Goldman será
mais realista que o próprio BC.
Admitirá conhecer o POBT e
saber que seus resultados dependem das operações do Pactual no Brasil -conforme os
próprios auditores já haviam
ressalvado no balanço do
POBT. Segundo a ressalva dos
auditores, não havia evidência
de que o POBT pudesse gerar
receitas sem o Pactual.
A Goldman dirá, também,
que tomou conhecimento das
correspondências do Banco
Central, de anos atrás, solicitando que as duas entidades
fossem consolidadas. Admitirá
ter lido a resposta do Pactual
ao Banco Central, de que as entidades "não têm nenhuma relação direta ou indireta". E informará que o BC nunca respondeu a essa correspondência
do Pactual.
A Goldman também irá dizer
que o negócio foi apresentado a
ela como um todo consolidado,
sem a distinção operacional entre as entidades do Brasil e das
Bahamas e que os acionistas
são os mesmos. Finalmente, irá
admitir que viu as correspondências sobre a Romanche
-holding que fez operações de
"esquenta-esfria" com o Pactual, conforme informado aqui
na coluna- e que, pelo que sabe, há uma relação entre ela e
os acionistas do Pactual.
Posto isso, para que não pairem dúvidas, a intenção da
Goldman é saber se o BC aceitará essa posição do Pactual de
não-consolidação. Basicamente, a Goldman quer jogar a
bomba no colo do BC. A questão que apresentará é simples:
eu, Goldman, identifiquei várias irregularidades que ferem
a lei brasileira; o BC também
identificou e não tomou nenhuma medida para coibi-las.
Isso significa que eu, Goldman,
poderei adquirir o banco com
as irregularidades identificadas, sem correr o risco de uma
ação retroativa do BC?
O BC não poderá admitir que
a relação Pactual-POBT não
existe, porque o próprio Pactual admitiu, na proposta de
venda à Goldman. Admitindo
que a relação existe, como o BC
justificará o fato de jamais ter
tomado uma posição a respeito, permitindo a perenização
das operações "esquenta-esfria"?
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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