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Reino Unido se prepara para enfrentar recessão econômica
PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES
De segunda a quinta-feira da
semana que passou, a Bolsa
londrina perdeu 121 bilhões de
libras (R$ 420,3 bilhões), o
equivalente a tudo o que a economia brasileira leva dois meses para produzir. Quando a semana caminhava para fechar
como uma das piores da história, a sexta-feira viu uma disparada de 8,8%, a maior alta nos
24 anos desde que o FTSE 100,
principal índice da Bolsa, foi
criado. A disparada foi motivada pelo socorro de centenas de
bilhões de dólares do governo
norte-americano e pela proibição de um tipo de negócio considerado especulativo.
Mas, apesar do suspiro de anteontem, as perspectivas para a
economia britânica são sombrias. "Não há dúvidas de que
vai piorar. Só não dá para saber
ainda qual será o impacto do
caos financeiro na economia
real. Mas com certeza ele virá e
vai durar pelo menos de um
ano a 18 meses", afirma Andrew
Walter, professor da London
School of Economics.
Os números parecem confirmar a previsão pessimista. No
segundo trimestre, a economia
do Reino Unido ficou estagnada pela primeira vez em 16
anos. No atual e no próximo trimestres, a previsão é de queda,
o que caracteriza tecnicamente
uma recessão. A inflação no
mês passado chegou a 4,7%, e o
próprio Bank of England (o
banco central) admite que deve
chegar a 5%, muito além da meta oficial de 2%. O desemprego
subiu de 5,3% no começo do
ano para 5,7% em julho -1,7
milhão de desempregados, o
número mais alto em uma década. Os empréstimos imobiliários caíram 70% em relação a
um ano atrás. Em contrapartida, o endividamento do governo continua a crescer. Em agosto, subiu 70% em comparação
com o mesmo mês de 2007. "É
uma desaceleração econômica
rápida e dolorosa", diz Walter.
A atual situação levou a duras
críticas ao Bank of England e ao
já combalido governo do primeiro-ministro Gordon
Brown, do Partido Trabalhista.
O principal problema da economia britânica é que a bolha
imobiliária era ainda maior do
que nos EUA. Apesar de não haver uma "alavancagem" tão
grande nos mercados financeiros, no imobiliário as propriedades estavam ainda mais supervalorizadas. "Os preços dos
imóveis já estão mais baixos, e
minha estimativa é que eles
ainda vão cair 30%", diz o professor da LSE. "Isso é muito
problemático para os bancos,
que vão ver seus lucros despencarem. Vai levar a uma enorme
restrição dos empréstimos, o
que será péssimo para a economia e, claro, para um governo
que já é impopular."
A situação delicadíssima da
economia colocou também na
berlinda um setor do qual os
britânicos sempre se orgulharam, o de regulação. Na quinta-feira, o Lloyds TSB fechou a
compra do HBOS, banco de
grande porte líder em empréstimos imobiliários, mas forte
também no varejo.
O negócio de 12,2 bilhões de
libras (R$ 42,2 bilhões) salvou
o HBOS da falência, mas só foi
fechado depois que o governo
autorizou passar por cima da
lei de concorrência, já que a
compra criou um megabanco
que levantou temores sobre
competitividade. A nova entidade será líder em número de
empréstimos imobiliários, com
quase um terço do mercado, e
em número de correntistas.
A quase-quebra do HBOS
aconteceu exatamente um ano
depois do primeiro sinal sério
de problemas no sistema bancário no Reino Unido. Foi na
terceira semana de setembro
de 2007 que a crise que se
anunciava fez a primeira vítima: o Northern Rock.
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