São Paulo, domingo, 21 de setembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Reino Unido se prepara para enfrentar recessão econômica

PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES

De segunda a quinta-feira da semana que passou, a Bolsa londrina perdeu 121 bilhões de libras (R$ 420,3 bilhões), o equivalente a tudo o que a economia brasileira leva dois meses para produzir. Quando a semana caminhava para fechar como uma das piores da história, a sexta-feira viu uma disparada de 8,8%, a maior alta nos 24 anos desde que o FTSE 100, principal índice da Bolsa, foi criado. A disparada foi motivada pelo socorro de centenas de bilhões de dólares do governo norte-americano e pela proibição de um tipo de negócio considerado especulativo.
Mas, apesar do suspiro de anteontem, as perspectivas para a economia britânica são sombrias. "Não há dúvidas de que vai piorar. Só não dá para saber ainda qual será o impacto do caos financeiro na economia real. Mas com certeza ele virá e vai durar pelo menos de um ano a 18 meses", afirma Andrew Walter, professor da London School of Economics.
Os números parecem confirmar a previsão pessimista. No segundo trimestre, a economia do Reino Unido ficou estagnada pela primeira vez em 16 anos. No atual e no próximo trimestres, a previsão é de queda, o que caracteriza tecnicamente uma recessão. A inflação no mês passado chegou a 4,7%, e o próprio Bank of England (o banco central) admite que deve chegar a 5%, muito além da meta oficial de 2%. O desemprego subiu de 5,3% no começo do ano para 5,7% em julho -1,7 milhão de desempregados, o número mais alto em uma década. Os empréstimos imobiliários caíram 70% em relação a um ano atrás. Em contrapartida, o endividamento do governo continua a crescer. Em agosto, subiu 70% em comparação com o mesmo mês de 2007. "É uma desaceleração econômica rápida e dolorosa", diz Walter.
A atual situação levou a duras críticas ao Bank of England e ao já combalido governo do primeiro-ministro Gordon Brown, do Partido Trabalhista.
O principal problema da economia britânica é que a bolha imobiliária era ainda maior do que nos EUA. Apesar de não haver uma "alavancagem" tão grande nos mercados financeiros, no imobiliário as propriedades estavam ainda mais supervalorizadas. "Os preços dos imóveis já estão mais baixos, e minha estimativa é que eles ainda vão cair 30%", diz o professor da LSE. "Isso é muito problemático para os bancos, que vão ver seus lucros despencarem. Vai levar a uma enorme restrição dos empréstimos, o que será péssimo para a economia e, claro, para um governo que já é impopular."
A situação delicadíssima da economia colocou também na berlinda um setor do qual os britânicos sempre se orgulharam, o de regulação. Na quinta-feira, o Lloyds TSB fechou a compra do HBOS, banco de grande porte líder em empréstimos imobiliários, mas forte também no varejo.
O negócio de 12,2 bilhões de libras (R$ 42,2 bilhões) salvou o HBOS da falência, mas só foi fechado depois que o governo autorizou passar por cima da lei de concorrência, já que a compra criou um megabanco que levantou temores sobre competitividade. A nova entidade será líder em número de empréstimos imobiliários, com quase um terço do mercado, e em número de correntistas.
A quase-quebra do HBOS aconteceu exatamente um ano depois do primeiro sinal sério de problemas no sistema bancário no Reino Unido. Foi na terceira semana de setembro de 2007 que a crise que se anunciava fez a primeira vítima: o Northern Rock.


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Efeitos da crise devem durar por dois anos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.