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Efeitos da crise devem durar por dois anos
CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA DE PARIS
Apesar do breve suspiro de
alívio nas Bolsas, anteontem, o
prognóstico da Economist Intelligence Unit, consultoria do
grupo que edita a revista "The
Economist", é desalentador para as grandes economias. Para
os Estados Unidos, recessão.
Para o Brasil, PIB (Produto Interno Bruto) menor no próximo ano.
No Brasil, o crescimento do
PIB vai diminuir de 5,4% em
2007 para 4,6% em 2008 e
3,4% em 2009. "Essa queda vai
refletir principalmente o enfraquecimento da demanda externa e um aperto das condições
financeiras. Ambos [os fatores]
são causados pela crise financeira global e pelas altas das taxas de juros domésticas que
respondem à alta da inflação",
escrevem Robert Ward e Jan
Friederich, editores da EIU.
Apesar da retração no PIB, a
consultoria afirma que o Brasil
tem "as melhores condições financeiras" da sua história graças a "melhores políticas macroeconômicas". O mesmo não
se aplica aos demais países da
América Latina.
O relatório destaca a Argentina e a Venezuela, países que
"continuam muito pobres e
[onde] o risco de volatilidade é
real, especialmente se as condições mundiais de crédito continuarem a se deteriorar ou se a
aversão ao risco nas economias
em desenvolvimento começar
a ter um efeito sério nos mercados emergentes".
O relatório ressalta a alta dependência da região em relação
aos EUA, a despeito da retórica
de alguns governos. Uma recessão prolongada nos EUA também pode reforçar a pressão inflacionária. Aparentemente a
diminuição da demanda no
consumo de petróleo ajudou a
diminuir o preço do barril, o
que alivia as tensões inflacionárias, mas outras commodities
devem continuar em alta.
Recessão americana
O discurso da administração
Bush evita o termo recessão para o atual panorama econômico. Mas, para a EIU, o cenário
sombrio está configurado. "Nos
próximos 12 meses, nós esperamos que a economia dos EUA
atravesse uma recessão e que
haja uma leve recuperação ao
longo de 2009." A definição de
recessão adotada pela consultoria segue o NBER (National
Bureau of Economic Research), para quem recessão é
um período de queda significativa na produção, no rendimento, no emprego e no comércio,
que habitualmente dura seis
meses, no mínimo.
Os efeitos da crise do "subprime" vão perdurar até 2010,
diz a consultoria. E mesmo o
socorro do governo americano
aos mercados não deverá ter o
impacto positivo esperado. "O
custo final para o contribuinte
provavelmente vai crescer rapidamente."
No mundo rico, a Europa será uma das regiões mais afetadas. A zona do euro tem uma
soma de fatores preocupantes,
como a alta da inflação aliada
ao baixíssimo crescimento.
Não bastasse isso, o relatório
aponta ainda para a bolha imobiliária da Espanha e da Irlanda. Diante desse panorama, a
consultoria projeta um crescimento do PIB de apenas 0,8%
em 2009.
Na França, a alta histórica do
índice CAC 40 da Bolsa anteontem (9,27%) não foi suficiente
para apaziguar os ânimos. A
crise nos EUA acertou em
cheio o mercado imobiliário
francês. Os investimentos em
imóveis novos caíram 54% nos
primeiros oito meses deste ano.
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