São Paulo, domingo, 21 de setembro de 2008

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Efeitos da crise devem durar por dois anos

CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA DE PARIS

Apesar do breve suspiro de alívio nas Bolsas, anteontem, o prognóstico da Economist Intelligence Unit, consultoria do grupo que edita a revista "The Economist", é desalentador para as grandes economias. Para os Estados Unidos, recessão. Para o Brasil, PIB (Produto Interno Bruto) menor no próximo ano.
No Brasil, o crescimento do PIB vai diminuir de 5,4% em 2007 para 4,6% em 2008 e 3,4% em 2009. "Essa queda vai refletir principalmente o enfraquecimento da demanda externa e um aperto das condições financeiras. Ambos [os fatores] são causados pela crise financeira global e pelas altas das taxas de juros domésticas que respondem à alta da inflação", escrevem Robert Ward e Jan Friederich, editores da EIU.
Apesar da retração no PIB, a consultoria afirma que o Brasil tem "as melhores condições financeiras" da sua história graças a "melhores políticas macroeconômicas". O mesmo não se aplica aos demais países da América Latina.
O relatório destaca a Argentina e a Venezuela, países que "continuam muito pobres e [onde] o risco de volatilidade é real, especialmente se as condições mundiais de crédito continuarem a se deteriorar ou se a aversão ao risco nas economias em desenvolvimento começar a ter um efeito sério nos mercados emergentes".
O relatório ressalta a alta dependência da região em relação aos EUA, a despeito da retórica de alguns governos. Uma recessão prolongada nos EUA também pode reforçar a pressão inflacionária. Aparentemente a diminuição da demanda no consumo de petróleo ajudou a diminuir o preço do barril, o que alivia as tensões inflacionárias, mas outras commodities devem continuar em alta.

Recessão americana
O discurso da administração Bush evita o termo recessão para o atual panorama econômico. Mas, para a EIU, o cenário sombrio está configurado. "Nos próximos 12 meses, nós esperamos que a economia dos EUA atravesse uma recessão e que haja uma leve recuperação ao longo de 2009." A definição de recessão adotada pela consultoria segue o NBER (National Bureau of Economic Research), para quem recessão é um período de queda significativa na produção, no rendimento, no emprego e no comércio, que habitualmente dura seis meses, no mínimo.
Os efeitos da crise do "subprime" vão perdurar até 2010, diz a consultoria. E mesmo o socorro do governo americano aos mercados não deverá ter o impacto positivo esperado. "O custo final para o contribuinte provavelmente vai crescer rapidamente."
No mundo rico, a Europa será uma das regiões mais afetadas. A zona do euro tem uma soma de fatores preocupantes, como a alta da inflação aliada ao baixíssimo crescimento. Não bastasse isso, o relatório aponta ainda para a bolha imobiliária da Espanha e da Irlanda. Diante desse panorama, a consultoria projeta um crescimento do PIB de apenas 0,8% em 2009.
Na França, a alta histórica do índice CAC 40 da Bolsa anteontem (9,27%) não foi suficiente para apaziguar os ânimos. A crise nos EUA acertou em cheio o mercado imobiliário francês. Os investimentos em imóveis novos caíram 54% nos primeiros oito meses deste ano.


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