São Paulo, segunda-feira, 21 de outubro de 2002

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OPINIÃO ECONÔMICA

A polêmica sobre a criação de empregos

FABIO GIAMBIAGI

A criação de postos de trabalho tem estado no centro das discussões da campanha eleitoral. Certo tipo de questionamento às promessas de criação de empregos revela, porém, uma certa falta de familiaridade de parte dos críticos com as estatísticas, a ponto de alguns falarem em "destruição de empregos" como sendo igual ao número de desempregados, sem entender que este pode aumentar pelo crescimento da população, o que não quer dizer que haja postos de trabalho que estejam deixando de existir!
Vamos aos números. A taxa de desemprego é apurada no Brasil pelo IBGE por meio da chamada Pesquisa Mensal de Emprego (PME). Essa, contudo, refere-se ao universo das principais regiões metropolitanas e não abrange o Brasil inteiro. Para ter uma idéia de quantas pessoas ocupadas há no país, temos que utilizar a Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (Pnad), que cobre todo o território. A última Pnad é de 2001, sendo razoável admitir que a taxa de crescimento do emprego pelo critério Pnad em 2002 seja igual à taxa da PME. No caso desta, no primeiro semestre do ano o crescimento do emprego foi da ordem de 1,5%, sendo admissível que a taxa se mantenha no ano como um todo, dado que, embora o atual nível de atividade seja baixo, o final do ano passado coincidiu com o auge da crise de energia. Sendo assim, no período 1999/2002, nós teremos tido uma expansão média do emprego, pela PME, de 1,9% ao ano, taxa bastante razoável considerando as dificuldades macroeconômicas do período.
Como esses números se refletem nos dados da Pnad? No conceito dessa pesquisa, consideram-se todos os indivíduos ocupados com dez anos ou mais de idade, incluindo no total os trabalhadores não-remunerados. Na Pnad de 2001, o total de pessoas ocupadas foi de 75,5 milhões. Se admitirmos o já citado crescimento de 1,5% para 2002, chega-se a 76,6 milhões de indivíduos ocupados no ano em curso. Para obter o número de postos de trabalho adicionados à economia no segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, esse número deve então ser cotejado com a população ocupada da Pnad de 1998, pelo mesmo critério, que foi de 70 milhões de pessoas. Isso significa que entre 1998 e 2002 terão sido criados 6,6 milhões de postos de trabalho no Brasil e que, portanto, a idéia de que o presidente FHC teria "destruído" empregos, ao invés de criá-los, como prometeu em 1998, faz parte da retórica política dos críticos da política econômica do período, mas não tem nenhum embasamento nos fatos.
Um esclarecimento se faz necessário: o conceito de "criação de empregos" não está necessariamente ligado ao de "redução do número de desempregados", pois isso depende do crescimento do mercado de trabalho em função do número de jovens que ingressam no mercado todos os anos. Embora se possa alegar que parte da explicação resida no aumento dos postos de trabalho não-formais -sem carteira-, o fato é que, de qualquer forma, no segundo governo FHC, foi criado um número importante de postos de trabalho. É isso que explica por que a taxa de desemprego atualmente é inferior à de 1998, o que revela que a alta do desemprego na gestão do presidente da República se concentrou no primeiro mandato, exatamente quando vigoraram os desajustes macroeconômicos -externo e fiscal- que foram corrigidos em 1999.
No que tange à reflexão sobre o futuro, não há nenhum candidato que admita um crescimento do PIB abaixo de 4%. É curioso que alguns dos que postulam um crescimento da economia de 5% sejam os mesmos que consideram inviável criar 8 milhões de empregos, sem que se atente para a contradição em que se incorre, pois, se a economia pudesse crescer 5%, o número de empregos a serem criados em quatro anos seria muito maior. Se considerarmos um crescimento em torno de 4% e um aumento anual da produtividade por trabalhador da ordem de 1,5% -foi de 1,4% nos últimos dez anos-, teremos uma expansão anual do emprego de 2,5%, ou 10,4% em quatro anos. Ora, 10,4% de 76,6 milhões -população ocupada em 2002- equivalem a 8 milhões de pessoas. Se as circunstâncias externas irão permitir ou não o crescimento do PIB que irá viabilizar isso, é algo que só saberemos no futuro, mas, em princípio, se for viável que a economia cresça 4% ao ano, faz sentido ter uma meta de criação de aproximadamente 8 milhões de empregos em quatro anos.


Fabio Giambiagi, 40, economista, é co-autor do livro "Finanças públicas: teoria e prática no Brasil" (editora Campus).



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