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OPINIÃO ECONÔMICA
A polêmica sobre a criação de empregos
FABIO GIAMBIAGI
A criação de postos de trabalho tem estado no centro
das discussões da campanha eleitoral. Certo tipo de questionamento às promessas de criação de
empregos revela, porém, uma
certa falta de familiaridade de
parte dos críticos com as estatísticas, a ponto de alguns falarem em
"destruição de empregos" como
sendo igual ao número de desempregados, sem entender que este
pode aumentar pelo crescimento
da população, o que não quer dizer que haja postos de trabalho
que estejam deixando de existir!
Vamos aos números. A taxa de
desemprego é apurada no Brasil
pelo IBGE por meio da chamada
Pesquisa Mensal de Emprego
(PME). Essa, contudo, refere-se
ao universo das principais regiões
metropolitanas e não abrange o
Brasil inteiro. Para ter uma idéia
de quantas pessoas ocupadas há
no país, temos que utilizar a Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (Pnad), que cobre todo o
território. A última Pnad é de
2001, sendo razoável admitir que
a taxa de crescimento do emprego
pelo critério Pnad em 2002 seja
igual à taxa da PME. No caso desta, no primeiro semestre do ano o
crescimento do emprego foi da
ordem de 1,5%, sendo admissível
que a taxa se mantenha no ano
como um todo, dado que, embora
o atual nível de atividade seja baixo, o final do ano passado coincidiu com o auge da crise de energia. Sendo assim, no período
1999/2002, nós teremos tido uma
expansão média do emprego, pela
PME, de 1,9% ao ano, taxa bastante razoável considerando as dificuldades macroeconômicas do
período.
Como esses números se refletem nos dados da Pnad? No conceito dessa pesquisa, consideram-se todos os indivíduos ocupados
com dez anos ou mais de idade,
incluindo no total os trabalhadores não-remunerados. Na Pnad
de 2001, o total de pessoas ocupadas foi de 75,5 milhões. Se admitirmos o já citado crescimento de
1,5% para 2002, chega-se a 76,6
milhões de indivíduos ocupados
no ano em curso. Para obter o número de postos de trabalho adicionados à economia no segundo
mandato do presidente Fernando
Henrique Cardoso, esse número
deve então ser cotejado com a população ocupada da Pnad de 1998,
pelo mesmo critério, que foi de 70
milhões de pessoas. Isso significa
que entre 1998 e 2002 terão sido
criados 6,6 milhões de postos de
trabalho no Brasil e que, portanto,
a idéia de que o presidente FHC
teria "destruído" empregos, ao
invés de criá-los, como prometeu
em 1998, faz parte da retórica política dos críticos da política econômica do período, mas não tem nenhum embasamento nos fatos.
Um esclarecimento se faz necessário: o conceito de "criação de
empregos" não está necessariamente ligado ao de "redução do
número de desempregados", pois
isso depende do crescimento do
mercado de trabalho em função
do número de jovens que ingressam no mercado todos os anos.
Embora se possa alegar que parte
da explicação resida no aumento
dos postos de trabalho não-formais -sem carteira-, o fato é
que, de qualquer forma, no segundo governo FHC, foi criado
um número importante de postos
de trabalho. É isso que explica por
que a taxa de desemprego atualmente é inferior à de 1998, o que
revela que a alta do desemprego
na gestão do presidente da República se concentrou no primeiro
mandato, exatamente quando vigoraram os desajustes macroeconômicos -externo e fiscal- que
foram corrigidos em 1999.
No que tange à reflexão sobre o
futuro, não há nenhum candidato
que admita um crescimento do
PIB abaixo de 4%. É curioso que
alguns dos que postulam um crescimento da economia de 5% sejam os mesmos que consideram
inviável criar 8 milhões de empregos, sem que se atente para a contradição em que se incorre, pois,
se a economia pudesse crescer
5%, o número de empregos a serem criados em quatro anos seria
muito maior. Se considerarmos
um crescimento em torno de 4% e
um aumento anual da produtividade por trabalhador da ordem
de 1,5% -foi de 1,4% nos últimos
dez anos-, teremos uma expansão anual do emprego de 2,5%, ou
10,4% em quatro anos. Ora, 10,4%
de 76,6 milhões -população
ocupada em 2002- equivalem a
8 milhões de pessoas. Se as circunstâncias externas irão permitir ou não o crescimento do PIB
que irá viabilizar isso, é algo que
só saberemos no futuro, mas, em
princípio, se for viável que a economia cresça 4% ao ano, faz sentido ter uma meta de criação de
aproximadamente 8 milhões de
empregos em quatro anos.
Fabio Giambiagi, 40, economista, é co-autor do livro "Finanças públicas: teoria e prática no Brasil" (editora Campus).
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