São Paulo, segunda-feira, 21 de outubro de 2002

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CONJUNTURA

Analistas recomendam que dinheiro seja aplicado em investimentos que acompanham trajetória dos juros

Inflação em alta pede aplicação pós-fixada

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Estudo do Bank of America sobre o impacto do câmbio na inflação mostra que, nos últimos meses, o IPCA já está perto dos 10% ao ano por conta da alta do dólar. O levantamento mostra também que a disparada da moeda americana demora três meses para afetar a inflação. Nesse cenário, a dica de analistas consultados pela Folha é investir nas aplicações pós-fixadas.
Para Marcelo Carvalho, chefe de pesquisa macroeconômica para a América Latina do Bank of America, o atual nível do câmbio -na sexta-feira fechou a R$ 3,87, após bater em R$ 4 no dia 10- sugere que a inflação no início de 2003 será alta. "Há uma grande correlação entre câmbio e inflação."
O banco analisou a média móvel trimestral dos preços (os últimos três meses contra os três meses imediatamente anteriores) anualizada. Pelo cálculo, em setembro, a inflação batia em 9,22%. Isso não significa que a inflação acumulada no ano fechará nesse patamar, mas mostra o rumo que os preços estão tomando.
A projeção do Bank of America é que o IPCA feche pouco acima de 8% neste ano e atinja 15% no final de 2003. "O grande risco para as aplicações financeiras no próximo ano não é um improvável calote na dívida interna ou a volatilidade [oscilação" dos ativos, mas a inflação", diz Carvalho.
A disparada do dólar e o aumento da taxa básica de juros, a Selic, na segunda-feira passada, fez outras importantes instituições financeiras reverem suas projeções para 2003.
O JP Morgan projeta inflação de 15% para o IPCA. O ABN Amro, de 9% a 10% para o IGP-M, enquanto o IPCA ficaria em um dígito. A projeção do Unibanco é de inflação de 9% para o IPCA e de 15% para o IGP-M.
O Deutsche Bank mantém as previsões do início deste semestre por considerar que o BC vem tomando medidas para conter a inflação. Para o banco, o IPCA ficaria em 7,6% no ano que vem.
Segundo analistas ouvidos pela Folha, apesar da discrepância entre as projeções, todas apontam para inflação em alta. Por isso, é hora de buscar abrigo.
O primeiro passo é não deixar recursos parados em conta corrente. "Em um cenário de inflação alta, quem não está em alguma aplicação terá o dinheiro corroído", diz Marcos Buckton, diretor de captação do Unibanco.
Inflação em alta pede uma política de juros altos, dizem os manuais de economia, e é o que o Banco Central está fazendo. "Uma inflação de dois dígitos pede juros de dois dígitos", diz Marcelo D'Agosto, diretor do site financeiro Fortuna.
Embora a maioria dos analistas afirme não esperar nova puxada na Selic nesta semana, quando acontece a reunião ordinária do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), eles dizem que é provável que ocorram novos aumentos até dezembro.
"Novembro será um mês muito ruim. Além de o cenário pós-eleição poder gerar ruídos, caso a nova equipe econômica seja anunciada e não agrade ao mercado, o externo também promete turbulências com o risco crescente de ataque americano ao Iraque", diz Jorge Simino, diretor do Unibanco Asset Management.
"Isso afetará o preço do petróleo e haverá pressão por aumento do combustível, o que fará a inflação subir." Nesse cenário, diz Simino, dificilmente o BC deixará de aumentar os juros.
Por isso, os analistas recomendam as aplicações pós-fixadas como forma de proteção, pois elas acompanharão a trajetória dos juros. Estão nesse caso os CDBs (Certificados de Depósitos Bancários), os fundos DI e os títulos públicos vendidos pelo Tesouro Direto, principalmente as LFTs (Letras Financeiras do Tesouro) e os papéis indexados ao IGP-M. O Tesouro Direto é um sistema de negociação de títulos federais criado no início do ano para pequenos investidores.
A dica para quem investe em CDBs é buscar os pós-fixados de prazo mais longo. "Eles acompanham razoavelmente a taxa de juro e, por serem de prazo maior, não exigem reaplicação mensal e pagamento da CPMF a cada reaplicação", diz o consultor e professor da FGV, William Eid.
Para quem optar por fundos DI, Eduardo Castro, gerente de renda fixa do ABN Amro Asset Management, recomenda que o investidor pergunte, antes de aplicar, qual é o prazo médio dos títulos públicos que o fundo carrega.
"Prefira os que têm LFTs que vencem até o primeiro trimestre de 2003." Esses papéis estão pagando o equivalente a 111% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), que é o juro médio praticado entre os bancos.


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