São Paulo, quinta-feira, 21 de outubro de 2004

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TENSÃO PÓS-COPOM

Alta de 0,5 ponto foi decidida de forma unânime, apesar de restrições dentro do governo e do setor produtivo

BC eleva juros a 16,75%, acima do esperado

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central contrariou a expectativa do mercado e aumentou os juros básicos da economia em 0,5 ponto percentual: pelas próximas quatro semanas, a taxa Selic ficará em 16,75% ao ano -nível mais elevado observado no país desde dezembro de 2003.
O mercado esperava um aumento de 0,25 ponto, mesma expectativa do Palácio do Planalto, segundo a Folha apurou. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo interlocutores, desejava que o BC não elevasse os juros diante dos últimos índices que apontavam queda na inflação. Uma alta de 0,25 ponto era considerada aceitável por alguns assessores. Resta saber se a insatisfação do Planalto é só retórica ou se manifestará em algum tipo de ação.
Sindicatos, comércio e indústria criticaram a decisão do BC, ao verem nela uma ameaça à incipiente retomada econômica.
No mês passado, a Selic já havia subido. Na ocasião, o BC elevou os juros em 0,25 ponto e avisou que a decisão representava "o início de um processo de ajuste moderado". Ontem, disse que a nova alta foi decidida para dar "prosseguimento ao processo de ajuste moderado". Desta vez, o aumento foi decidido de forma unânime. No mês passado, três membros da diretoria do BC queriam uma alta de 0,5 ponto, e os outros cinco votaram pela elevação de 0,25.
Segundo o BC, juros mais altos ajudam a garantir o cumprimento das metas de inflação, em especial a do ano que vem. Em 2005, o objetivo do BC é manter a alta do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) em 5,1%.
Pesquisa do próprio BC com analistas de mercado, porém, mostra que a expectativa é que a inflação fique em 5,81% em 2005. A necessidade de inverter esse pessimismo é apontada pelo BC como um dos motivos para a alta dos juros: a própria expectativa de uma inflação alta poderia fazer com que as empresas antecipassem seus reajustes, numa tentativa de se prevenir de um eventual aumento generalizado de preços.
Em tese, juros altos encarecem o crédito, desestimulando o consumo e os investimentos. Isso leva a uma desaceleração da economia, o que por sua vez dificultaria reajustes de preços. Além disso, taxas elevadas poderiam aumentar a confiança dos agentes econômicos na capacidade do BC em conter a inflação.


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