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Contrariado, presidente
cobrará explicação do BC
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva foi surpreendido pela elevação da taxa básica de juros (Selic)
em 0,5 ponto percentual ao tomar
ciência da decisão no início da
noite de ontem, em São Paulo. A
taxa passou a 16,75% ao ano.
A Folha apurou que Lula, que
deu sinal ao Banco Central na semana passada de que era contrário a um aumento da Selic neste
mês, já demonstrava ao longo do
dia de ontem a expectativa de que
alguma elevação viria.
Essa expectativa se devia à reação negativa do BC a uma reportagem da Folha, publicada na segunda-feira, que dava conta do
desejo de Lula. Mas a intensidade
da decisão do BC o surpreendeu e
o contrariou, relataram à Folha
interlocutores do presidente.
Interlocutores de Lula disseram
ainda ontem à noite que a reação
pública do presidente deverá ser
de resignação, mas ele cobrará explicações do BC em reuniões com
o ministro Antonio Palocci e o
presidente do BC, Henrique Meirelles. Em conversas reservadas
na semana passada, Lula disse
que haveria "confusão" caso o BC
elevasse os juros nesta semana.
Motivo: ele foi convencido a elevar a meta de superávit primário
deste ano de 4,25% para 4,5% do
PIB (Produto Interno Bruto) com
base no argumento de que ela, pelo menos, frearia a necessidade de
aumento dos juros. O superávit
primário é toda a economia do setor público para pagar juros.
Ao elevar a Selic, a dívida pública sobe e o impacto positivo do
superávit para abatê-la diminui
ou se torna ineficaz. Isso, avalia o
presidente, pode minar a retomada do crescimento econômico
porque influencia negativamente
os ânimos do empresariado para
investimentos. Lula também tem
ouvido de economistas de fora do
governo que os sinais recentes de
queda da inflação não justificam a
dureza da política do BC.
Por ser unânime, contando
também com o voto de Meirelles,
a decisão de ontem foi interpretada no Palácio do Planalto como
forma de o BC demonstrar que
não se curva à pressão política.
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